Yves Klein, o homem que transformou o 'nada' em arte
Aventuras Na História
Um recibo de papel assinado em 1959, pelo artista francês Yves Klein (1928-1962), foi
vendido no início deste ano por mais de 1 milhão de dólares na casa de leilão Sotheby’s,
em Paris.
A compra do passado era uma “zona de espaço vazio”, criação conceitual do artista,
que, nos últimos anos de vida, costumava vender “nada” em troca de “ouro”. Sua intenção era fazer com que os compradores experimentassem o “vazio”, um lugar livre de qualquer influência mundana — cuja inspiração foi o “Nirvana”, o estado de libertação do ser humano segundo a tradição zen-budista.
O vazio que diz muito
De acordo com o artista, no vazio, a pessoa passa a se concentrar em suas próprias sensações, ou seja, na “realidade”, e não mais na “representação”. Naquele mesmo ano, Yves inaugurou sua exposição Zonas Imateriais de Sensibilidade Pictórica, que consistia em nada mais que uma galeria completamente vazia — ainda assim, atraiu a atenção de quase 3 mil visitantes.
O curioso é que o francês, um dos precursores da arte moderna, não apenas encontrou pessoas dispostas a pagarem pela obra invisível aos olhos como também teve sua arte (e recibos!) valorizada com o passar do tempo.
A temática do vazio é abordada também em outras criações do artista, como na famosa
fotografia Le Saut dans le Vide (O salto para o vazio, em tradução livre) — título que, não à toa, nos convida a mergulhar simbolicamente no desconhecido.
Na imagem, ele está no ar, saltando de um edifício com os braços abertos e a postura decidida rumo ao... chão! Resultado de uma montagem feita em grupo. Além da esposa e amigos, que carregavam uma lona na calçada para amortecer a queda, Yves teve a ajuda dos fotógrafos Harry Shunk e Janós Kender em toda a execução do trabalho.Ambos já eram conhecidos por registrarem performances e exposições artísticas pela capital francesa.
No laboratório, foram feitas várias cópias até chegarem a três versões de cenário com a
emenda despercebida entre o salto e a rua: uma que aparece um homem andando de bicicleta, outra sem e uma terceira, inédita, com o carro de Yves estacionado.
A versão ao lado, com a bicicleta e um trem passando ao fundo, foi publicada pela primeira vez na capa do jornal Dimanche, produzido especialmente para o Festival d’Art d’Avant-garde (Festival de Arte de Vanguarda), de 1960.
Com a chamada Un Homme dans l’Espace (Um homem no espaço), o artista fazia uma crítica às falsas notícias que circulavam no mundo sobre a corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética, denunciando as expedições lunares da NASA como algo sem sentido.
Em vez de representar sua arte por meio de objetos, Yves se destacou pela ausência deles — ou pela realidade de cada um de nós.