Análise revela que 92% das terras indígenas na Amazônia Legal sofrem com a seca
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Nove em cada dez terras indígenas na região da Amazônia Legal foram afetadas pela seca no mês de julho deste ano. De acordo com dados exclusivos obtidos pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 92% dos 388 territórios já enfrentavam esse problema, o que tem impacto direto na rotina dessas populações.
A análise foi realizada pela InfoAmazonia, que também entrevistou indígenas de comunidades afetadas para documentar a situação. Em comparação com o ano passado, o número de terras atingidas aumentou em 37%, com um total de 358 territórios enfrentando a seca em julho deste ano.
Além disso, a intensidade da seca também se agravou. Enquanto no ano passado apenas uma terra indígena foi classificada como seca extrema, neste ano o número subiu para 17. Dentro das terras indígenas, 53,6% (192 no total) estão enfrentando seca severa, enquanto 41% sofrem com seca fraca ou moderada. Já em 2023, 73,8% dos territórios estavam com seca fraca ou moderada e apenas 10,3% sofriam com seca severa.
O estado do Amazonas é o mais afetado pela seca na Amazônia Legal, com 146 terras indígenas em situação crítica. Em seguida, estão o Mato Grosso, com 68 terras, e o Pará, com 55 terras indígenas atingidas.
Um exemplo preocupante é a situação da TI Cacau do Tarauacá, localizada no município de Envira, no Amazonas. Em julho de 2023, essa terra indígena estava em uma situação de normalidade, mas agora enfrenta uma seca extrema. O povo Kulina, que vive às margens do rio Tarauacá, está enfrentando dificuldades para se locomover, já que as embarcações não conseguem mais navegar devido à falta de água. Onde antes havia água, agora só há lama. Eles estão improvisando pontes e tentando utilizar um lago que ainda possui alguma água para garantir a passagem dos barcos.
Esse cenário de seca tem trazido desafios para a sobrevivência dessas comunidades indígenas. A falta de acesso aos rios afeta diretamente a alimentação, uma vez que a pesca se torna praticamente impossível. Para mitigar os impactos, a Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam) está adquirindo alimentos produzidos em terras indígenas que ainda não sofrem com a seca extrema, por meio de parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e com apoio do Ministério Público Federal.
Além disso, há um grave problema de falta de estrutura de abastecimento de água nas aldeias indígenas. Segundo dados da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), cerca de 2.800 aldeias na Amazônia Legal não possuem acesso adequado à água. No Amazonas, o Distrito Especial Indígena (Dsei) Alto Rio Solimões é a região mais afetada, com 32,5 mil pessoas sem acesso a poços ou caminhões-pipa.
A falta de resposta do Governo do Amazonas, da Funai e do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) sobre as ações em andamento para reduzir os danos da seca às populações indígenas da Amazônia Legal é preocupante. Enquanto isso, o pesquisador Renato Senna, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), alerta que a situação tende a piorar, pois a seca encontrará bacias e rios em condições já precárias.
Diante dessa urgência, é essencial que o governo federal acelere o desenvolvimento de um plano nacional de adaptação climática, que inclua medidas específicas para a proteção das populações indígenas. Francisca Arara, titular da Secretaria Extraordinária de Povos Indígenas (Sepi) do Acre, enfatiza a necessidade de compreensão e ajuda por parte das autoridades e doadores, já que são os povos indígenas que têm um papel fundamental na preservação da floresta e que estão sofrendo de forma intensa os impactos das mudanças climáticas.