3 pessoas com deficiência que se reinventaram por meio do esporte
Mega Curioso
Após uma descarga elétrica, o funcionário de uma concessionária de energia foi internado em estado grave e, quando ele acordou no hospital, estava sem os braços. Algo parecido aconteceu a uma jovem que caiu nos trilhos de um trem enquanto ia para a faculdade. Assim, alguns anos antes, outro homem, vítima do inesperado, perdeu o antebraço na plataforma de petróleo onde trabalhava.
O que essas três histórias têm em comum, além do teor trágico, é o mesmo desfecho: a ressignificação da vida pelo esporte. Após terem sofrido acidentes graves, Márcio Miranda, de 45 anos, Nayara Ramalho, de 33, e José Augusto de Souza Carvalho, de 54, tornaram-se atletas e hoje têm sonhos ambiciosos. Márcio é corredor e Nayara é arremessadora, ambos querem estar nas Paralimpíadas de 2024, na França. José Augusto, lutador de jiu-jítsu, planeja abrir uma escola para ensinar a modalidade a crianças.
Segundo a psicóloga clínica Giselem Santos, em casos assim, o exercício físico reforça a consciência corporal, trabalhando o domínio da mente e do corpo em prol de um único objetivo. Esse processo tende a levar a uma maneira saudável de enxergar a si próprio.
Em clima de Paralimpíadas, o Mega Curioso conversou com os três esportistas para conhecer as trajetórias deles e mostrar o papel do esporte na superação de traumas e na construção de sentido para uma nova vida. Veja só que legal!
De olho em Paris 2024
Márcio ainda se lembra do baque que foi sair do hospital sem os braços em 2011. Pensando em como viveria a partir dali, já que não poderia mais trabalhar com o que fazia antes, começou a buscar formas de seguir a vida.
Por meio de um colega, descobriu a canoagem adaptada para pessoas com deficiência e começou a treinar, mas sua paixão veio logo depois, assim que entrou em contato com o atletismo. Treinando na Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef), no Rio de Janeiro, passou a disputar campeonatos regionais como fundista e meio-fundista até chegar ao nacional. Entre medalhas de ouro, prata e bronze, foi escolhido para conduzir a tocha das Paralimpíadas do Rio, em 2016, com um suporte adaptado.
Hoje, treinando na Marinha, em um grupo com mais de 100 paratletas, Márcio tem como alvo participar dos próximos jogos paralímpicos. “Vou fazer o possível para estar entre os melhores até lá”, ele disse.
De sedentária a atleta
Estudante de história, Nayara ia para a faculdade em 2012, quando um assalto começou no trem em que estava. Assim que correu para pedir ajuda, a porta do vagão se fechou, a jovem ficou presa pela mochila, caiu nos trilhos e perdeu o braço direito.
Durante um tratamento no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), no Rio de Janeiro, ficou sabendo por um colega que poderia treinar na Marinha, em um projeto dedicado a paratletas. “Eu era daquelas pessoas que pagam academia e não vão, sabe? Mesmo assim quis encarar o desafio”, ela contou. Não demorou para o treinador perceber que sua força no braço esquerdo era própria de uma boa arremessadora.
Logo se lançou aos Jogos Paralímpicos Universitários e, assim, foi se destacando no lançamento de dardos e no arremesso de peso. “Como eu sempre fui sedentária, minha família só acreditou mesmo que eu virei atleta quando viram minhas medalhas”.
Depois de concluir a primeira graduação, começou a cursar Educação Física e sonha estar nas Paralimpíadas de 2024. “Agora, tudo que aprendo no curso, posso usar ao meu favor nos treinos”, brincou a moça.
Dias de luta
Foi em 2007 que José Augusto teve que amputar o antebraço esquerdo após um acidente na plataforma de petróleo onde trabalhava, no Rio de Janeiro. Depois de colocar uma prótese, o atleta, que já era capoeirista, encontrou no jiu-jítsu sua segunda paixão por meio de um amigo. Diferente de Márcio e Nayara, ele nunca treinou em modalidades adaptadas e enfrentou preconceito por isso.
“No início, quando viam minha prótese, não queriam lutar comigo”, lembrou o atleta. A resistência nos campeonatos foi acabando, conforme José ia se destacando no tatame. Hoje seus maiores sonhos são chegar à faixa preta e abrir uma escola para ensinar o que sabe a crianças. “O esporte pode mudar a vida das pessoas e quero levar essa ideia para a meninada”, planeja o lutador.