Como o racismo se manifestou em palavras ao longo do tempo
Mega Curioso
Assim como o mundo, a palavra e o jeito de falar também mudam e evoluem. Por outro lado, em certos casos, infelizmente, eles carregam marcas negativas da história – é o que acontece com o racismo e da intolerância racial.
No Brasil, o processo de colonização por parte Europa e da escravidão foram construídos, em parte, pelo apagamento das culturas indígenas e africanas, além da afirmação de uma suposta superioridade de povos brancos. Isso se manifestou em inúmeros âmbitos da cultura, incluindo a fala e a escrita.
Ainda hoje, no vocabulário brasileiro, existem termos que reforçam estereótipos e reproduzem essas ideias ultrapassadas.
Como o racismo se manifesta em palavras?
Alguns termos e expressões demonstram como o passado escravocrata do Brasil ainda é refletido na linguagem cotidiana. Isso pode ser definido como racismo linguístico. O termo foi cunhado no livro de mesmo nome lançado em 2019 e escrito pelo linguista e professor Gabriel Nascimento
É o caso de associar "negro" para gerar uma conotação negativa, como nos casos "lista negra", "mercado negro" ou "magia negra". Essa última ainda é erroneamente associada a religiões de matriz africana, mesmo sem ter nenhuma ligação. O contrário também acontece: usar "branco" para amenizar alguma expressão, como em "inveja branca".
Mesmo palavras com uma conotação positiva podem ter origem preconceituosa, como a expressão "cor do pecado", usada para descrever a tonalidade da pele de mulheres negras, que sofrem com a extrema sexualização.
Tais termos, mesmo que usados inconscientemente, acabam naturalizando um passado da história que deveria ser rechaçado. A escravidão foi um período extremamente traumático para parte da população brasileira. Seus descendentes carregam as consequências disso até hoje, também por meio da língua falada ou escrita.
Como a palavra muda com o tempo?
A luta por igualdade também envolve o combate a expressões que reproduzem racismo (Fonte: Unsplash)
Por outro lado, o ser humano está em transformação e evolução, o que traz novas formas de comportamento em todos os âmbitos, inclusive na forma de expressão falada ou escrita. Assim, as transformações sociais também têm reflexos no vocabulário.
Ainda permanece a discussão sobre a abolição de palavras preconceituosas em sua origem ser considerada um tipo de censura. No entanto, é importante lembrar que se trata de uma substituição por termos mais adequados, sem esquecer que os antigos existiram e o porquê de terem sidos deixados de lado.
Reparação histórica
Apesar do racismo linguístico permanecer, grupos ativos na luta contra o preconceito reafirmam culturas negra e indígena. (Fonte: Unsplash)
Em contrapartida à permanência de traços culturais negativos, existe o resgate de culturas apagadas ao longo do processo histórico. Grupos descendentes e militantes por causas negras e indígenas, por exemplo, são grandes responsáveis por essa ação.
A desmistificação de preconceitos associados à essas culturas, a propagação de informação sobre elas, a valorização de termos e outras características culturais próprias são formas encontradas para reverter processos negativos como o preconceito linguístico.