De caldo de sangue a melaço: a evolução das rações militares
Mega Curioso
A Guerra das Trincheiras, mais conhecida como Primeira Guerra Mundial, ainda é considerada a que mais exigiu do corpo físico e mental de seus combatentes, ainda que a Guerra do Vietnã tenha levado o ser humano ao limite e causado uma destruição sistemática em seu psicológico.
Um dos horrores da Primeira Guerra, além dos cadáveres que eram deglutidos por ratazanas ao longo das trincheiras, a precariedade das rações dos soldados e como a fome poderia ser pior que o próprio inimigo, desenhou a linha para os governos e conflitos futuros. Afinal de contas, o mundo viu os britânicos sofrerem drasticamente quando os ataques submarinos alemães desmontaram o plano da Marinha Mercante de importar alimentos, forçando-a a introduzir um racionamento grave que substituiu os pacotes de comida saborosos e generosos por biscoitos de água e sal, em meados de 1918. Carne, a proteína que mais dava energia, sumiu da boca dos homens, aparecendo uma vez a cada 9 dias — se eles sobrevivessem até lá.
Antes de serem atingidos pelas agruras da guerra e do inimigo, um soldado ingeria até 4.600 calorias por refeição, com uma dieta equilibrada e rica em porções maiores de carnes, vegetais, batatas e pães para saciá-lo. O chocolate também foi incluído nas rações para garantir mais energia, bem como vários tipos de bolachas, geralmente enviadas pelas próprias famílias para complementar a refeição.
O começo de tudo
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
A criação dos militares na Grécia Antiga começava aos 7 anos, com as crianças se mudando para os quartéis para treinar pesado e se prepararem para se transformarem em um verdadeiro espartano, que não poderia esperar nenhum aspecto de luxo em sua vida, a começar pela comida.
Desde pequeno, as refeições dos soldados eram baseadas em um caldo unguento feito de sangue, pernas de porco cozidas e vinagre. Muitos evitavam a comida de tão repugnante que era, embora fosse tudo o que tivessem para lhes dar energia ou saciá-los após o combate.
(Fonte: History/Reprodução)
Em contrapartida, os romanos, como própria característica do império, se refocilavam na hora de se alimentarem, comendo como os imperadores. Os combatentes de Roma aproveitavam de grandes quantidades de bacon, queijo, vinho, cevada e trigo. A dieta de um soldado precisava conter pelo menos um quilo de carne por dia, o que ajudou o exército a atravessar continentes e expandir sua linha territorial.
Já em 1683 d.C, durante a dominação dos otomanos, os soldados de infantaria consumiam pão fresco, um cordeiro, um carneiro, e itens de luxo como mel e café. Quando o pão faltava, era substituído por biscoitos cozidos em Istambul e enviados para as tropas otomanas. Esse processo chegou a ser tão valorizado que alguns padeiros desonestos que queriam lucrar cada vez mais com sua produção, substituíram a farinha por terra, causando a morte de milhares de soldados como resultado.
Caminhado para o futuro
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Durante a Revolução Americana de 1775, enquanto os britânicos enfrentarem problemas com abastecimento de rações, os soldados de George Washington aproveitavam para comer um quilo de carne bovina e de farinha por dia. Além disso, eles também recebiam ervilhas, feijão, leite, arroz, cerveja e melaço. Contudo, a demora, atraso ou retenção do aval da autoridade fiscal, o Congresso não podia arcar com as rações, o que prejudicou e muito a saúde e desempenho dos americanos combatentes.
Na França de 1800 liderada pelo notório Napoleão Bonaparte, que liderava exércitos para a morte iminente, como aconteceu durante a infiltração na Rússia de 1812, as rações dos soldados eram baseadas em muito pão, podendo chegar a 680 gramas por pessoa, além de meio quilo de carne e um litro de vinho.
A Guerra de Secessão transformou o melaço em uma ração militar dos EUA, complementada com carboidratos e proteínas variadas. Foi só durante a Segunda Guerra Mundial que novas rações foram desenvolvidas, projetadas para sempre leves e fáceis de transportar, separadas entre categorias C, D e K.
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As rações C e K continham carne e batatas enlatados, biscoitos, caramelo, café instantâneo, cigarros e chicletes; devendo durar até 3 dias e fornecer, em média, 3.600 calorias. Já a ração D era simplesmente uma barra de chocolate simples.
Em meados de 1980, após a Guerra do Vietnã, em que os americanos enfrentaram um dos períodos mais obscuros em relação às rações de seus soldados, foi introduzida a ração chamada Meals Ready to Eat (MREs), que substituiu as latas por sacos selados e desidratados, podendo oferecer até 24 pratos diferentes.