Jovem brasileiro com autismo luta para continuar pilotando kart
Mega Curioso
Dimitry Fernandes Kalinowski tem apenas 22 anos e já conseguiu fazer história no automobilismo nacional: ele é o primeiro piloto portador de Transtorno de Espectro Autista (TEA) a ser registrado pela Confederação Brasileira de Automobilismo.
Dimy, como é chamado pela família e amigos, e sua mãe, concederam uma entrevista recentemente para a BBC News Brasil em que relatam que conquista não é só dele, mas de toda a comunidade autista que ainda sofre com a falta de políticas públicas e preconceitos por parte da sociedade.
Paixão que vem da infância
Dimy diz que mesmo mostrando o que pode fazer há um bom tempo, até hoje existem pessoas que acreditam que ele não é capaz de pilotar.
O rapaz parece entender essa "preocupação", já que uma parte significativa das pessoas autistas não dirigem . No entanto, ele dá um puxão de orelha: “Os portadores de autismo são pessoas com mais obstáculos para superar, mas também são pessoas subestimadas”, diz ele.
(Fonte: Arquivo Pessoal/ Reprodução)
O jovem ressalta que aprendeu a dirigir aos oito anos e desde então insistia com sua família para que o levassem a corridas de kart. De acordo com ele, nessa idade teve uma “conversa” com seu pai afirmando que abandonaria a escola para ser piloto.
Dimy também contou que em vários momentos durante sua juventude falava com seus pais sobre seu desejo, mas a negativa era frequente. Segundo ele, isso o fazia se sentir desanimado e frustrado: aos 11 anos tentou suicídio, porque não conseguia se imaginar fazendo outra coisa a não ser pilotar.
Mas o tempo passou e a persistência de Dimy nunca desapareceu. Ele provou que podia pilotar para os pais e para qualquer um que duvidasse de que ele era capaz. Aliás, hoje seus pais são seus maiores apoiadores.
Segundo o médico neurocirurgião Virgílio V. Moura, que acompanha Dimy há três anos, seu paciente não tem qualquer dificuldade com o automobilismo devido ao autismo. Ainda segundo o especialista, a prática é uma excelente ferramenta, pois ajuda o jovem com sua “postura social”, capacidade de resolução de problemas e interação.
No entanto, Virgílio destaca que cada paciente com autismo tem um perfil único. Por isso, todo caso deve ser analisado de forma isolada para que se possa avaliar quais atividades a pessoa pode fazer e que tipo de impactos poderá gerar.
Luta incansável
Recentemente Dimy terminou uma corrida de kart entre os cinco primeiros colocados. Para a família e para o próprio rapaz, um feito inesquecível. Sua mãe conseguiu adquirir um kart usado este ano e, com o dinheiro da venda de uma casa da família, conseguiram pagar mais treinos para o rapaz.
Dimy ficou em 5° lugar em uma corrida disputada em agosto. (Fonte: Amandio Pires Neto/ Reprodução)
Recentemente Dimy sofreu um acidente e acabou danificando seu kart que já estava com problemas. Para completar, cada competição pode custar até R$2.500. Segundo sua mãe, ele não conta com patrocinadores ou qualquer tipo de apoio, e seu salário de nutricionista não é suficiente.
Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas devido a sua condição, a mãe de Dimy diz que a felicidade se mistura à angústia, pois não é possível saber se o jovem poderá correr novamente.
Com isso, ela tem medo de que a carreira do filho acabe de forma prematura. A situação é tão complicada que, entre 2017 e 2021, Dimy conseguiu treinar apenas seis vezes, já que não havia dinheiro para o básico, como pagar o treinador, manutenção e combustível.
De acordo com a OMS, em cada 160 crianças, 1 é autista. Os dados do CDC, nos EUA, apontam para 1 a cada 54. O diagnóstico da condição é a melhor maneira de garantir o tratamento adequado, incluindo treinamentos para habilidades sociais por meio de um acompanhamento multidisciplinar.
Para Dimy, receber o diagnóstico de seu caso permitiu que ele compreendesse melhor tudo o que sentia e percebia do mundo. Ele não pensa em parar, diz que suas vitórias inspiram outras pessoas com autismo a seguirem em frente.