O psiquiatra negro que mudou como as doenças mentais eram vistas
Mega Curioso
Nascido em Salvador em 1872, Juliano Moreira entrou para a história como o psiquiatra responsável por revolucionar o tratamento de doenças mentais no Brasil. Durante sua vida, ele lutou incansavelmente para combater o racismo e acabar com a falsa ligação de que transtornos psicológicos estariam ligados à cor de pele.
Filho de mãe negra trabalhadora para aristocratas na Bahia — algumas biografias citam ela como escrava, uma vez que a Lei Áurea só foi aprovada em 1888 —, o pesquisador teve seu trabalho homenageado em 2021 pelo Google no dia 6 de janeiro, quando completaria 149 anos se tivesse permanecido vivo.
Infância pobre e conquistas
(Fonte: Wikimedia Commons)
Conforme os relatos escritos sobre a vida de Juliano Moreira, ele teria crescido dentro de uma família muito humilde e precisou vencer inúmeros obstáculos para entrar na Faculdade de Medicina da Bahia aos 13 anos de idade. Com somente 18 anos, o rapaz já estava formado e atuando como um dos principais médicos negros no Brasil, de acordo com a Academia Brasileira de Ciências.
Então, Moreira começaria a sua jornada pelo estudo do cérebro humano. Posteriormente, acabaria sendo reconhecido como o fundador da disciplina de psiquiatria no país. Apesar de todo o seu sucesso como cientista, o pesquisador volta e meia tem seu nome apagado dos currículos escolares ao redor do território brasileiro.
Humanização das doenças mentais
(Fonte: Wikimedia Commons)
Logo após se formar na universidade, Moreira acabou se tornando professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina da Bahia, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Entre seu principal foco como docente, ele dedicou boa parte de sua carreira na luta contra as teorias racistas que relacionavam a miscigenação às doenças mentais no Brasil.
Juliano também ficou marcado por ser a primeira pessoa no campo da psiquiatria a implantar tratamentos humanizados para seus pacientes psiquiátricos. Então, acabou assumindo a direção do Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro, em 1903. Foi nesse espaço que ele acabou abolindo o uso de camisas de força.
Além disso, pediu para que as grades de todas as janelas fossem removidas e passou a separar os pacientes adultos das crianças. Dessa forma, ele poderia analisar a complexidade de cada paciente com a devida atenção e seus objetos de estudo poderiam passar a viver uma vida mais digna.
Reconhecimento científico
(Fonte: Internet/Reprodução)
Em homenagem a tudo que Juliano Moreira fez pelo campo científico, Academia Brasileira de Ciências, da qual ele foi presidente por um período, o apontou como responsável direto pela aprovação da lei federal que garante assistência médica e legal a doentes psiquiátricos.
Nesse meio tempo, também ajudou a fundar a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina legal, o que até hoje permanece como um marco histórico para a sua área de atuação. Moreira, enquanto atuava como vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências, foi quem recebeu Albert Einstein em sua primeira visita ao Brasil.
Como era um nome importante dentro da psiquiatria brasileira, acabou sendo nomeado para representar o país em diversos congressos médicos pelo exterior. Durante essas viagens, chegou a palestrar em alguns países pela Europa e também atravessou o planeta até o Japão.
Em 1933, o cientista foi internado em um hospital de Petrópolis para o tratamento de uma tuberculose, mas acabou não resistindo à doença e morreu naquele ano. Logo após seu falecimento, um hospital psiquiátrico na Bahia foi batizado como Hospital Juliano Moreira para eternizar suas descobertas, permanecendo funcional até os dias de hoje.