Por que desastres climáticos são cada vez mais frequentes?
Mega Curioso
Talvez você não saiba, mas os últimos sete anos são considerados os mais quentes de toda a nossa história, segundo levantamento da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Em 2022, no Rio Grande do Sul, uma onda de calor promete levar a temperaturas recordes, com previsões de 45 °C em algumas cidades.
Para muita gente, notícias que falam do aumento de temperaturas médias são pouco importantes – há até quem se alegre por verões com mais calor. Mas o fato é que as mudanças climáticas, principalmente as ocasionadas pelo aquecimento global, estão cada vez mais frequentes. E isso tem impacto na vida de todos nós, e não apenas a longo prazo. A OMM já revelou que os desastres climáticos mataram 2 milhões de pessoas nos últimos 50 anos e custaram cerca de US$ 3,64 trilhões em danos materiais.
A maior ocorrência de eventos climáticos extremos já é uma pauta esclarecida pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que faz parte da ONU. Estes eventos são causados, sobretudo, pela ação do homem no meio ambiente. O que tem se alterado, no entanto, é a frequência que eles correm: temos tido mais ondas de calor fora do tempo normal, ou longos períodos de seca que seriam menos comuns em outros tempos históricos.
Eventos catastróficos em que o clima teve papel preponderante
Chuvas torrenciais inundaram cidades inteiras na Bahia, causando muitos danos. (Fonte: CNN Brasil)
A chuva excessiva em cidades da Bahia e Minas Gerais no último mês repercutiu muito nos noticiários. Os temporais atingiram mais de 200 mm, um volume altíssimo, e deixaram milhares de pessoas desabrigadas. Este tipo de evento – as inundações – tem sido registrado não apenas no Brasil, mas em vários países do mundo. Na Bélgica e na Alemanha, por exemplo, chuvas torrenciais deixaram vilarejos inteiros debaixo d’água e mataram quase 200 pessoas. Em julho de 2021, as chuvas provocaram um grave deslizamento de terra em Atami, no Japão, destruiu cerca de 130 edifícios.
Um estudo conduzido pela Federação Internacional da Cruz Vermelha mostra que os desastres climáticos têm aumentado desde a década de 1960. No ano de 2020, por exemplo, os Estados Unidos registraram 30 tempestades que bateram recordes, além de incêndios florestais ocorridos no estado da Califórnia que destruíram 4 milhões de acres de terra.
O professor Pedro Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente da USP, declarou ao portal de jornalismo ambiental O Eco que a “mudança climática não é mais uma possibilidade: ela já entrou na casa das pessoas. Já saímos da fase de prospecção do que pode acontecer para entrar na fase das consequências”.
Danos para a saúde mental: a ecoansiedade e o luto ecológico
Termos como ecoansiedade e luto ecológico tentam definir o sofrimento causado por desastres climáticos. (Fonte: Agência Jovem de Notícias)
Vale lembrar que os danos causados por esses eventos têm múltiplas facetas. A Associação Americana de Psiquiatria definiu recentemente o conceito de “ecoansiedade”, que compreende o medo crônico da destruição ambiental, e o “luto ecológico”, que diz respeito à exaustão mental que decorre de se aceitar as consequências das mudanças climáticas.
Em ambos os tipos de sofrimento – que atingem especialmente as pessoas mais jovens – há um medo recorrente sobre o que será do planeta, que começa a interferir nas ações práticas desses indivíduos, além de uma profunda sensação de desesperança. Um dos reflexos dessa ansiedade é a decisão de muitos jovens de não terem filhos.
Segundo os psicólogos Ariella Cook-Shonkoff e Robert Berley, “é terrivelmente desconfortável permanecer preso em um estado de medo, preocupação, tristeza, desespero, raiva e agitação dentro dos nossos corpos. No entanto, também pode ser doloroso trazer essas emoções à luz, e difícil expressar essa experiência em palavras”. Uma vez que as más notícias não param de chegar, também é difícil achar algum conforto para esse estado.
O que é possível fazer?
Na Califórnia, incêndios nas florestas queimaram milhares de acres de terra. (Fonte: G1)
Embora já existam muitos danos irreversíveis que foram feitos ao planeta, há ações possíveis de terem tomadas – e que dependem, é claro, de políticas coletivas. São estratégias como o cuidado com as bacias hidrográficas, para lidar com secas e para o controle de épocas de cheias; o bom planejamento do uso da água; a organização do ambiente rural; e, obviamente, a diminuição urgente do desmatamento, que faz com que se reduza a emissão de gases que causam o efeito estufa e se reestabeleça os ciclos naturais da biodiversidade.
Em relação a como lidar com o sofrimento causado pela ecoansiedade, o psiquiatra Thomas Tanner, da Universidade de Londres, dá uma dica: agir, por menor que seja a ação, e conversar sobre o que se sente. “Qualquer ação que eu possa tomar para lidar com essas mudanças estruturais realmente ajuda na minha ansiedade. Você não precisa ser um ativista de rua, embora isso seja bom, para lutar contra a crise climática. A conexão com as outras pessoas é fundamental. É bom saber que outras pessoas também sentem ansiedade e que você não está sozinho”, explica.