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Round 6: série da Netflix é inspirada em uma história real?
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Round 6: série da Netflix é inspirada em uma história real?

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Mega Curioso
06/10/2021 15h11
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Nas últimas semanas, a internet quebrou com o lançamento de Round 6, sucesso sul-coreano da Netflix cheio de referências às clássicas brincadeiras infantis. A série, que surgiu como recordista de audiência na plataforma de streaming, trouxe uma série de questionamentos aos fãs pelo seu caráter realista, especialmente ao dialogar com questões sociais e com valores morais da humanidade. Mas será que ela tem inspirações na vida real?

Em entrevista à Variety, o criador do show, Hwang Dong-hyuk, comentou que Round 6 é uma história totalmente fictícia, que combinou uma paixão pelas produções em quadrinho japonesas e o amor por jogos da infância para formar um projeto com bastante identidade. No entanto, o "Jogo da Lula" (Squid Game, em inglês), que levou o nome da série e é uma das brincadeiras existentes na produção, é real e foi muito popular na Coreia durante os anos 1970 e 1980, atraindo inúmeras pessoas para um misto de esporte que requer estratégia, força física e trabalho em equipe.

(Fonte: Netflix / Reprodução)(Fonte: Netflix / Reprodução)

Porém, as maiores inspirações de Dong-hyuk foram as tramas de Battle Royale e Liar Game, mangás clássicos no Japão que estabeleceram o gênero de "Batalha Real" e consolidaram-no como expressão multimídia, sendo posteriormente adaptada em games como Fortnite e PUBG, e em filmes como Jogos Vorazes, Jogos Mortais e A Caçada.

O gênero Battle Royale

Battle Royale tradicionalmente se refere a um estilo de combate envolvendo três ou mais lutadores, onde o objetivo é restar apenas um sobrevivente. O gênero pode possuir regras específicas como uso de armas de fogo ou brancas, ferramentas de sobrevivência, cooperação e muito mais, como também pode dar total liberdade para que os participantes ajam da forma como lhes couber.

(Fonte: Tokyopop / Reprodução)(Fonte: Tokyopop / Reprodução)

O termo foi utilizado originalmente nas arenas romanas e era vinculado a um evento específico de interação entre os gladiadores e o público. Quando mais ações violentas, uso de armas pesadas, humilhações contra adversários e gritos para o público ocorriam, mais o guerreiro evoluía seu nível de "Batalha Real", ganhando recompensas, aplausos e admiração da plateia. Posteriormente, a categoria foi adaptada para o boxe entre escravos norte-americanos — no século XIX — e para o tradicional pro-wrestling (ou luta-livre) que se popularizou com a empresa estadunidense WWE.

A abordagem artística

Ao ser levado para as telonas e literatura , o Battle Royale assumiu novas configurações e passou a dialogar com inúmeros contextos sociais, algo que o relacionou intimamente com o conceito de distopia. Questões políticas, religiosas, administrativas e militares tornaram-se conteúdos recorrentes em filmes, séries e quadrinhos, e isso popularizou o elemento crítico na categoria, aproximando o gênero de uma realidade talvez não tão fiel, mas nitidamente visível.

Em Jogos Vorazes, especificamente, obra de Suzanne Collins que introduziu o gênero no Ocidente, é possível observar como o conflito de classes e a extrema desigualdade social entre os Distritos e a Capital geram um relacionamento de submissão obrigatória. Enquanto o centro econômico abriga tecnologias, recursos alimentícios, marcas da moda e as figuras mais ricas de Panam, a periferia se contenta com abrigos subterrâneos, casas constantemente vigiadas e a participação forçada em jogos de vida ou morte feito para entreter a elite. 

(Fonte: Warner Bros / Reprodução)(Fonte: Warner Bros / Reprodução)

E apesar de não ter servido como inspiração para Round 6, segundo palavras do próprio diretor da série, a produção formalizou a ideia de muros sociais e do desespero pela sobrevivência, quando seres humanos são levados a tomar decisões difíceis e, muitas vezes, sem alternativa, para obter honra e dignidade, e poder contar suas histórias por mais um dia.

É possível acontecerem esses jogos na vida real?

Até o momento, não há relatos de alguma produção artística que tenha adaptado a história real dos Battle Royale modernos, mas algumas propostas em desenvolvimento indicam que, em breve, o gênero pode dar as caras na vida real. Isso porque, de acordo com reportagem da VG247, um milionário anônimo planeja comprar uma ilha e recrutar 100 voluntários para participar de um jogo no estilo paintball, trabalhando ao lado de devs de jogos de videogame para criar o conceito e pagando quantia na casa das centenas de milhares para o vencedor.

Outro caso curioso foi o programa russo Game2: Winter, criado por Yevgeny Pyatkovsky. De acordo com a proposta do show, 20 participantes masculinos e femininos deveriam sobreviver por nove meses em uma área remota da Sibéria, portando apenas armas brancas e podendo até mesmo estuprar e assassinar os concorrentes. Felizmente, o programa foi cancelado e o diretor assumiu ter sido falso, prometendo devolver o dinheiro para os assinantes que pagaram para assistir.

Battle Royale e os limites do aceitável

Em Round 6, acompanhamos a trajetória de pessoas endividadas que encontraram, no game, a única forma de recuperar seu dinheiro e recomeçar a vida. As partidas são lideradas por um homem mascarado que constantemente defende a democracia no complexo de brincadeiras e aponta para o respeito, igualdade e justiça durante as atividades, acreditando estar fazendo o certo para resgatar seus hóspedes da miséria. Será que assistir uma disputa dessas, na vida real, seria aceitável?

(Fonte: Warner Bros / Reprodução)(Fonte: Warner Bros / Reprodução)

Nas obras, a discussão sobre disparidades de poder e a existência de um "governo" plenamente autoritário despertam o impulso humano, principalmente do subjugado, de se impor e confrontar seus líderes, muitas vezes por instinto baseado em família, amor, amizade e em outras emoções que se sobrepõem à necessidade de viver. Apoiados no desespero e absorvidos por promessas douradas, os mais pobres superam seus medos e enfrentam, com coragem, obstáculos poderosos, muitas vezes sem compreender que estão sendo apenas atrações circenses para os financiadores dos projetos.

Pensando nos dias atuais e em uma alternativa mais humana para que um Battle Royale possa existir, é importante contornar leis frouxas e criar restrições essenciais que respeitem, acima de tudo, a vida, sem desmerecer a trajetória dos participantes ou abusar de brechas financeiras. Além disso, trabalhar aspectos emocionais, morais e civilizatórios, para evitar desonestidade e atitudes traiçoeiras, deveria ser outro ponto relevante para os organizadores.

Mas mesmo assim, com tudo que conhecemos sobre o gênero e com a experiência que obtivemos após ler, assistir e refletir sobre as terríveis histórias — fictícias — de personagens que foram aos extremos, talvez seja melhor deixar a categoria apenas para as produções artísticas.

Leia a matéria original aqui.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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