Vale do Amanhecer: a religião que mistura espiritismo e aliens
Mega Curioso
O sincretismo religioso — isto é, a união de doutrinas de diferentes religiões — é observado no mundo inteiro. Isso acontece nas religiões de matriz africana da América Latina, por exemplo, que veneram algumas entidades semelhantes às do catolicismo. Mas poucas religiões apresentam elementos tão distintos quanto o Vale do Amanhecer.
As origens da religião remontam à época da construção de Brasília. A fundadora, Neiva Chaves Zelaya — mais conhecida como Tia Neiva — era viúva e trabalhava como motorista de caminhão para sustentar os quatro filhos. Ela começou a ter visões espirituais e as creditou a entidades extraterrestres.
Seu principal guia espiritual era o Pai Seta Branca, uma das entidades mais importantes do Vale do Amanhecer, com características que remetem a Jesus e São Francisco de Assis. Com sua orientação, Neiva criou as bases da religião e fundou a comunidade, em Planaltina (DF).
(Fonte: National Geographic/Reprodução)
Um templo curioso, mas minucioso
Olhando de cima, o complexo do Vale do Amanhecer instiga a curiosidade: tem um centro de orações com seis pontas, um templo em formato de espaçonave, uma pirâmide, além de uma infinidade de esculturas e ornamentos coloridos. Há elementos maias, egípcios e de diversas outras origens espalhados pelo complexo, que também conta com um lago.
Parece uma bagunça, mas é tudo muito minucioso dentro do sistema de crenças do Vale do Amanhecer: os ideais do grupo têm bases no cristianismo, no espiritismo, além de rituais de povos nativos da América Latina e crenças esotéricas. Ah, eles também acreditam em aliens!
(Fonte: Wikimedia Commons)
Faz todo sentido: de acordo com as visões de Tia Neiva, alienígenas visitaram a Terra há 32 mil anos e continuaram voltando em várias reencarnações. Dessa forma, os extraterrestres reencarnados viveram no Egito antigo, entre os maias, e em várias outras civilizações. Os médiuns do Vale do Amanhecer, portanto, seriam as reencarnações mais recentes dos alienígenas — os Jaguares.
Esses médiuns usam roupas tão coloridas quanto os templos do Vale do Amanhecer. As mulheres são identificadas como ninfas e os homens como príncipes maias. Todos trabalham em duplas: o apara recebe o espírito, que pode ser bom ou mau, e o médium doutrinador conduz esse espírito de volta para seu mundo.
Os seguidores do Vale acreditam que esse tipo de trabalho ajuda a compensar o carma das suas vidas passadas.
(Fonte: National Geographic/Reprodução)
Uma religião em crescimento
Desde que Tia Neiva chegou a Planaltina, nos anos 1960, sua comunidade cresceu na região: ela foi um alento para muitos dos migrantes pobres que não encontraram lugar em Brasília. Porém, os seguidores também relatam que fiéis de outras religiões, especialmente cristãos evangélicos, classificam o Vale do Amanhecer como “seita” e tentam convertê-los.
Ainda assim, a religião tem conquistado atenção e fiéis em diversos lugares. De acordo com dados divulgados pela National Geographic, há mais de 800 mil seguidores e 600 templos associados ao Vale do Amanhecer em todo o mundo.