Sem dólar? Como vai funcionar o acordo entre Brasil e China
Tecmundo
O recente acordo econômico firmado entre o Brasil e a China, dispensa o uso do dólar nas transações comerciais entre os dois países. O acordo permite que o comércio seja lastreado diretamente nas moedas oficiais real e o renminbi (yuan). O Brasil é o primeiro país latino-americano a aderir ao sistema de pagamento internacional da China.
O Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) foi autorizado a fazer a compensação direta das moedas, conhecida como "clearing house". A primeira transação com a moeda chinesa foi concluída com sucesso no Brasil nesta quarta-feira (12). O sino-brasileiro Bank of Communications BBM (Bocom BBM) deve começar a operar a partir de julho.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deseja ampliar o acordo para incluir outras nações do grupo Brics e sugeriu a possibilidade de criar uma moeda comum para os países do Mercosul. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as transações em dólar continuarão a acontecer, apesar de não serem mais a única opção.
Brasil e China celebraram mais de duas dezenas de acordos bilaterais. (Fonte: Ricardo Stucker/Secom/Divulgação)
O Banco Central do Brasil avalia que o acordo traz benefícios, como o aumento da liquidez da moeda chinesa no mercado brasileiro e a redução de intermediários nos pagamentos internacionais. A liquidação de transações comerciais sem o uso da moeda norte-americana pode diminuir os custos.
Além de reduzir a dependência dos dois países ao dólar, o sistema de conversão direta entre real e yuan também abre espaço para simplificar as transações comerciais e a realização de operações de financiamento em moeda chinesa e de swap cambial para proteção de investimentos nos dois países, sempre sem o uso do dólar.
No entanto, o uso da moeda chinesa pode ser problemático devido à sua pouca liquidez e disponibilidade no mercado global, aumentando o risco cambial. A transação direta pode ainda limitar a capacidade de cobertura do Brasil e da China, uma vez que a maioria dos instrumentos financeiros disponíveis para cobrir riscos cambiais na moeda norte-americana.
Brasil espera que acordo econômico possa render transferência de tecnologia chinesa para o país.
A China é o principal destino das exportações brasileiras, com um peso determinante para o superávit comercial do Brasil. A balança comercial entre os dois países alcançou US$ 150 bilhões e os investimentos diretos chineses somaram US$ 70 bilhões no território brasileiro em 2022. As transações sem o uso do dólar devem aumentar o comércio bilateral.
O acordo também pode facilitar a negociação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que pretende acessar créditos asiáticos e financiar projetos no Brasil, tanto no que se refere à infraestrutura como à transição energética. A meta do BNDES é chegar a 2% do PIB, o que significaria ultrapassar a marca de R$ 200 bilhões.
Até 2018, a moeda chinesa não fazia parte das reservas estrangeiras e agora representa 5,37% do total, mas no final do ano passado, ultrapassou o euro e se passou a ser a segunda moeda mais importante. No entanto, o dólar continua sendo a principal moeda, respondendo por mais de 80% das reservas internacionais brasileiras.