Alzheimer: descoberta forma mais agressiva e precoce da doença
Tecmundo
Imagine a seguinte situação: dois homens vão até uma clínica com queixas a respeito da memória e de perda do senso de direção; eles estão com dificuldades para falar, realizar contas básicas e perdendo a capacidade de pensar claramente. Isso aconteceu mesmo com dois irmãos suecos de 40 e 43 anos de idade.
O mais curioso: um primo deles, da mesma faixa etária, também estava apresentando os mesmos sintomas. O que os três tinham? Alzheimer precoce.
Imagens dos cérebros dos três portadores da forma de Alzheimer precoce
A condição dos três homens é decorrente de uma mutação genética recém-descoberta, ligada ao início precoce da doença de Alzheimer. O achado, que iniciou-se com a ida dos dois irmãos à clinica de distúrbios de memória no Hospital da Universidade de Uppsala, na Suécia, envolveu posteriormente uma equipe internacional de neurocientistas, biólogos estruturais e moleculares e especialistas em imagens de toda a Europa.
A forma de Alzheimer apresentada por essa família é agressiva, rápida e rouba os anos mais produtivos das vítimas junto de suas funções cognitivas. No caso dos irmãos, sabe-se também que o pai era portador da doença, cuja forma foi batizada com o nome de deleção do APP de Uppsala, em homenagem à família acometida pelo notório erro de DNA que, invariavelmente, causa demência em uma idade jovem.
"Os indivíduos afetados têm uma idade de início dos sintomas por volta dos quarenta e poucos anos e sofrem de um curso de doença de rápida progressão", afirmou a Dra. María Pagnon de la Vega, autora do artigo sobre o caso, publicado em agosto na revista científica Science Translational Medicine .
O que é Alzheimer
O Alzheimer é conhecido como uma doença cerebral que "rouba" a mente, apagando as memórias e destruindo o sentido de si mesmo do indivíduo. Não tem cura e a maioria dos casos surge após os 65 anos. Cientistas têm feito uma série de descobertas a respeito da sua evolução; a principal delas é que a doença está relacionada com a produção de placas da proteína beta-amiloide no cérebro.
Os pesquisadores descobriram que a mutação genética da família acelera a formação das placas de proteínas que danificam o cérebro. Essas placas destroem neurônios e, como resultado, aniquilam as funções executivas do principal órgão do sistema nervoso: memória de trabalho, flexibilidade mental e autocontrole.
Alzheimer precoce
Denomina-se precoce o Alzheimer que começa antes dos 65 anos. Na família estudada, todos apresentavam uma deleção em uma cadeia específica de aminoácidos que fazem parte da proteína precursora da amiloide, ou seja: aminoácidos faltando, uma vez que o gene APP desta família sueca não os codifica. A deleção corta uma faixa de seis aminoácidos, resultando em depósitos destrutivos da proteína beta-amiloide por todo o cérebro.
Os três pacientes estavam tendo problemas com as funções executivas do cérebro — e as varreduras cerebrais revelaram as marcas do Alzheimer nos três. Os exames mostraram evidências de atrofia nas regiões frontoparietal e mediotemporal do cérebro.
As pontuações dos três no Mini Exame do Estado Mental — uma avaliação frequentemente administrada a idosos para testar habilidades cognitivas —, ficaram na faixa geralmente observada em idosos com deficiência cognitiva, apesar de todos estarem apenas na faixa dos 40 anos.
Pagnon de la Vega e seus colegas definiram a forma de doença de Alzheimer como autossômica dominante, passada de uma geração para a seguinte. Não há dados sugerindo que outras famílias carreguem a deleção de Uppsala APP, embora outras formas de Alzheimer familiar já tenham sido identificadas na Suécia.
Antes da descoberta da deleção, mais de 50 outras mutações no gene da APP associadas ao início precoce da doença de Alzheimer foram identificadas em todo o mundo. Essas mutações são responsáveis por menos de 10% de todos os casos com início precoce.
A menos que uma cura seja encontrada, o Alzheimer deve sobrecarregar os sistemas globais de saúde até 2050 em decorrência do envelhecimento da população mundial, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma série de tratamentos como medicamentos e vacinas vêm sendo testados, em busca de encontrar uma cura ou, pelo menos, frear os efeitos da doença.
ARTIGO Science Translational Medicine: doi.org/10.1126/scitranslmed.abc6184