Cientistas criam 'relógio imunológico' que prevê morte e doenças
Tecmundo
Para saber a idade real de seu corpo, é preciso descobrir a idade de seu sistema imunológico – quem diz são os pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Stanford e do Instituto Buck para Pesquisa do Envelhecimento, ambos na Califórnia, Estados Unidos.
Eles construíram um "relógio" (o iAge) que mede o envelhecimento inflamatório e é altamente preciso em prever a força de seu sistema imunológico e quando você se tornará frágil ou desenvolverá doenças potencialmente fatais.
iAge promete medir com precisão idade inflamatória de um indivíduo.
O resultado do estudo foi publicado em 12 de julho na revista científica Nature Aging. “Todos os anos, o calendário indica que somos um ano mais velhos”, disse na publicação David Furman, PhD autor sênior do estudo. “Mas nem todos os humanos envelhecem biologicamente no mesmo ritmo. Você vê isso na clínica – alguns idosos são extremamente propensos a doenças, enquanto outros são a imagem da saúde”, explicou.
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Segundo Furman, a diferença entre uma pessoa saudável e outra frágil se deve, em grande parte, às taxas diferentes de declínio do sistema imunológico – uma coleção de células, substâncias e estratégias com as quais a evolução nos equipou para lidar com ameaças como lesões ou invasões por patógenos microbianos. Quando atacado, o corpo monta uma resistência rápida, intensa e localizada de reparo chamada inflamação aguda. Essa “boa inflamação” faz seu trabalho e desaparece rápido.
Mas à medida que envelhecemos, uma "má inflamação" constante e de baixo grau em todo o corpo começa a se manifestar. É essa inflamação sistêmica e crônica que causa danos aos nossos órgãos e promove a vulnerabilidade a uma série de doenças, como câncer, ataques cardíacos, derrames, perdas neurológicas e autoimunidade.
"Até o momento, não haviam métricas para avaliar com precisão o estado inflamatório dos indivíduos de uma forma que pudesse prever esses problemas clínicos e apontar maneiras de abordá-los ou evitá-los", disse Furman. Mas agora, segundo ele, o estudo produziu uma medida quantitativa de número único que parece fazer exatamente isso.
O projeto, intitulado 1000 Immunomes Project, reuniu amostras de sangue de 1.001 pessoas saudáveis com idades entre 8-96 anos, entre 2009 e 2016. As amostras foram submetidas a análises que determinam os níveis de proteínas de sinalização imunológica chamadas citocinas, o estado de ativação de vários tipos de células em respostas a vários estímulos e os níveis gerais de atividade de milhares de genes em cada uma dessas células.
Depois, a equipe empregou inteligência artificial para reunir esses dados em um relógio inflamatório – o iAge. Eles descobriram que cerca de 50 proteínas de sinalização imunológica – citocinas – são quem fazem as previsões mais fortes a respeito da idade inflamatória. Por meio de um algoritmo complexo, os dados geram uma pontuação inflamatória que acompanha a resposta imunológica de uma pessoa e a probabilidade de desenvolver alguma doença relacionada ao envelhecimento.
Furman e seus colegas realizaram uma série de estudos na última década até chegar aos resultados apresentados nesta semana. Entre eles, se destaca a avaliação de pessoas excepcionalmente longevas da Itália: comparando as idades inflamatórias de 29 dessas pessoas, os mais velhos apresentaram idades inflamatórias em média 40 anos a menos do que sua idade real. "Um deles, um homem de 105 anos, tinha 25 anos de idade inflamatória", afirmou Furman.
A equipe observou que os níveis de uma substância no sangue, o CXCL9 – uma citocina secretada por certas células do sistema imunológico para atrair outras células imunológicas para o local de uma infecção –, contribuíram com mais força do que qualquer outro componente do relógio para a pontuação da idade inflamatória. Os níveis dessa substância começam a subir rapidamente após os 60 anos, em média.
O CXCL9 foi relacionado pelo time de cientistas com doenças cardiovasculares. Uma série de experimentos mostrou ele também é secretado pelas células endoteliais – que são os principais componentes das paredes dos vasos sanguíneos. Para eles, a idade avançada se correlaciona com um aumento significativo nos níveis de CXCL9 nessas células, diminuindo sua capacidade de formar redes microvasculares, se dilatarem e contraírem.
Em experimentos com tecidos de camundongos e células humanas, a redução dos níveis de CXCL9 restaurou a função das células endoteliais jovens – sugerindo que o CXCL9 contribui diretamente para problemas nessas células. Isso significa que inibi-lo pode ser a chave para reduzir o risco de doenças cardiovasculares em indivíduos suscetíveis. Furman lembrou: “Todos os distúrbios são tratados melhor quando são tratados precocemente”.