'Melzinho do amor' pode causar danos à saúde, diz Unicamp
Tecmundo
Na semana passada (dia 29), o Laboratório de Toxicologia Analítica do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unicamp (CIATox) divulgou o resultado da análise toxicológica de um produto vendido clandestinamente que promete alta performance através de sua composição “100% natural”, segundo as embalagens. O “melzinho do amor”, como é conhecido popularmente, tornou-se uma febre entre os jovens e até um hit em forma de funk.
Vendido no formato de sachê, o "puro mel da montanha", conforme descrito em árabe, garante ser feito de substâncias naturais como: café, extrato de caviar, ginseng, maçã, gengibre, canela, mel da Malásia e Tongkat Ali. O problema, aponta o CIATox, é que, misturadas às especiarias, foram encontradas concentrações preocupantes de Sildenafila e Tadalafila, fármacos indicados para o tratamento da disfunção erétil, e só vendidos com prescrição médica.
Para o coordenador executivo do CIATox, José Luiz Costa, a exigência de uma avaliação médica para consumo dos dois princípios ativos presentes no melzinho do amor é imprescindível para pessoas com problemas de saúde, como cardiopatias e hipertensão arterial. Usar esses fármacos sem orientação médica pode causar efeitos colaterais graves e até mesmo risco de morte.
Efeitos colaterais do melzinho do amor
O CIATox detectou Sildenafila e Tadalafila nas três amostras do "melzinho do amor". (Fonte: CIATox/Unicamp/Divulgação)
Na publicação da Unicamp, Costa explica que, quando uma pessoa toma um medicamento com receita, o médico conhece previamente os seus problemas de saúde. Mas, "alguém que faz uso desses medicamentos por conta própria pode estar colocando sua saúde em risco sem saber". O professor e bioquímico alerta que, embora os rótulos anunciem apenas extratos de plantas nos sachês do melzinho do amor, "não há nada de natural neles".
Os cientistas analisaram os produtos “Power Honey" (embalagens amarela e rosa) e “Alibaba Power Honey”. O objetivo foi avaliar se as concentrações de Sildenafila e Tadalafila presentes eram pelo menos compatíveis com as indicadas pelos médicos. Porém, os resultados mostraram concentrações maiores em uma amostra e menores em outra. Uma das amostras oferecia um coquetel com as duas substâncias, o que potencializa o risco.
Um desses efeitos – o priapismo prolongado – causa uma ereção longa e dolorosa com risco de necrose do pênis. Quando ingerida com álcool ou outros fármacos, a substância pode intensificar efeitos colaterais, como tontura, hipotensão arterial e dores de cabeça. Em pacientes cardiopatas, tanto homens quanto mulheres, a Sildenafila e a Tadalafila podem levar a um quadro de hipotensão grave, potencialmente mortal.
A venda do “melzinho do amor” é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde o dia 27 de maio de 2021. Segundo o coordenador executivo do CIATox, esta foi uma ação preventiva de farmacovigilância do laboratório, "mas se não forem tomados cuidados e se não forem feitos esses alertas, pode ser que eles apareçam", adverte Costa.