Bet estatal? Caixa entra no mercado de apostas com nova plataforma
Anamaria
Em abril de 2025, a Caixa Econômica Federal planeja lançar sua própria plataforma de apostas em meio à crescente popularidade das casas de apostas no Brasil. Esse movimento ocorre em um cenário de preocupação com o impacto das apostas online, tanto por parte do governo quanto da população. O lançamento da bet estatal será realizado após a conclusão da regulamentação oficial dos jogos no país, prevista para o início de 2025.
O banco público espera que o novo produto amplie o alcance das suas loterias, que hoje arrecadam bilhões de reais anualmente. O objetivo é atingir um novo público, sem que haja canibalização entre os consumidores tradicionais das loterias e os novos apostadores das bets.
Bet da Caixa e o mercado de casas de apostas
Para Igor Lucena, economista e CEO da Amero Consulting, a iniciativa da Caixa de criar uma bet estatal pode parecer, à primeira vista, uma contradição frente às críticas governamentais sobre o uso das casas de apostas. No entanto, ele destaca que essa estratégia faz sentido do ponto de vista comercial. “As loterias vêm perdendo espaço, e a bet da Caixa pode trazer uma renovação ao mercado”, explica em entrevista à AnaMaria.
Ele ressalta, no entanto, a importância de estabelecer medidas que alertem sobre os riscos do jogo, assim como ocorre com as advertências em maços de cigarro. Lucena vê com bons olhos a possibilidade de a Caixa criar um modelo de compliance robusto, que pode servir de exemplo para outras empresas do setor, principalmente na prevenção de crimes financeiros, como a lavagem de dinheiro.
Do ponto de vista financeiro, o mercado de apostas online no Brasil tem crescido de maneira acelerada, ultrapassando, em número de usuários, até mesmo países como os Estados Unidos. Essa expansão, segundo Igor, reforça a necessidade de regulação clara e de ferramentas que protejam o consumidor.
Preocupações sociais e impacto nas famílias
Marcello Marin, especialista em governança corporativa, por outro lado, alerta para os aspectos prejudiciais da bet estatal. Para ele, as casas de apostas já apresentam riscos e a iniciativa do banco público pode ampliar ainda mais os problemas sociais relacionados ao jogo.
Segundo Marin, muitos apostadores acabam utilizando recursos de programas sociais, como o Bolsa Família, para fazer suas apostas, o que pode agravar o endividamento e a vulnerabilidade dessas famílias. “A criação da bet estatal pode passar a mensagem de que apostar é algo positivo, o que, na prática, pode intensificar a epidemia de apostas que temos hoje”, salienta o especialista.
Em resposta a essas preocupações, o governo está estudando formas de limitar o uso de benefícios sociais nas plataformas de apostas. Uma das medidas em análise é o bloqueio do uso do cartão do Bolsa Família em casas de apostas, além da possibilidade de transferir a titularidade do benefício para outro membro da família, caso o titular utilize o recurso de forma inadequada.
A volta da raspadinha e novos produtos
Além do lançamento da bet da Caixa, o banco público se prepara para relançar a tradicional raspadinha, descontinuada em 2015. Agora, com novas tecnologias, será possível comprar e raspar os bilhetes virtualmente, utilizando o celular.
A raspadinha terá preços que variam entre R$ 2,50 e R$ 20, e os prêmios poderão chegar a R$ 2 milhões. Essa novidade deve atrair tanto os jogadores antigos quanto novos consumidores, complementando a oferta de apostas da Caixa.
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