Frank Zappa: como um dos maiores guitarristas da história previu o streaming?
Aventuras Na História
Quando se observa a famosa lista dos 100 maiores guitarristas de todos os tempos, criada em 2003 pela revista estadunidense Rolling Stone, geralmente a atenção da maioria das pessoas se concentra mais nos primeiros nomes. E não à toa, Jimi Hendrix, Eric Clapton, Jimmy Page (Led Zeppelin) e B. B. King, de fato, deixaram grandes marcas na história do rock com suas habilidades quase sobre-humanas com a guitarra.
No entanto, a lista é repleta de nomes interessantes. E, descendo somente um pouco mais nela, ainda com bastante destaque, na vigésima segunda posição está o estadunidense Frank Zappa.
Conhecido não só pelo seu óbvio talento musical, sendo não só guitarrista como também compositor e cantor, a figura de Zappa também é muito adorada pelos fãs por toda a simbologia que carrega: seguindo todo o estereótipo do 'rockeiro doidão', ele era um ícone muito admirado por sua inteligência, e afirmações curiosas sobre o futuro que, embora parecesse loucura na época, surpreendem por serem, de fato, muito próximas a algumas mudanças que realmente aconteceram.
E como exemplo disso, vale apontar que algumas pessoas ousam afirmar que Zappa pode ser um dos 'pais' do streaming. Entenda!
Frank Zappa / Crédito: Foto por Helge Øverås pelo Wikimedia Commons
Guitarrista visionário
Os serviços de streaming já não podem mais ser considerados uma tecnologia nova, visto que até a Netflix, uma das maiores referências, foi criada em 1997 (mesmo que não nos mesmos modelos como é conhecida hoje em dia). Porém, foi ainda no início da década de 1980 que Frank Zappa conseguiu prever em sua autobiografia, 'The Real Frank Zappa Book' (1989), algumas mudanças que a indústria fonográfica sofreria, além da forma como se consome entretenimento — especialmente a música.
Primeiro, é importante compreender que embora seja uma das figuras mais emblemáticas do rock, Zappa também era um visionário empresário. Chefe de uma gravadora própria, a Zappa Records, ele definitivamente compreendia todos os custos que eram envolvidos na gravação e distribuição de músicas, de acordo com o colunista Leonardo Rodrigues em texto ao portal Splash, do UOL.
Um grande entusiasta das novas tecnologias, o guitarrista não era conservador quanto às novas possibilidades que surgiam na indústria musical — o que, por vezes, causava até mesmo estranhamento a alguns executivos, que o consideravam muito 'fora da caixinha'. E algumas dessas (muitas) ideias que ele tinha, realmente escrevia e enviava a executivos de gravadoras e empresas de hardware; queria ele mesmo botá-las em prática.
E entre essas loucas ideias, queixando-se do preço dos CD players entre 1982 e 1983, que estavam ainda sendo introduzidos no mercado — alguns custando mais de US$ 700 na época —, o que o levava a acreditar que esse formato não se popularizaria, surgiu o que, hoje, sabemos ser basicamente o que é o streaming. Porém, ele se referia à criação como uma "proposta para um sistema de substituição do merchandising de discos fonográficos".
A comercialização de discos como existe hoje é um processo estúpido que se preocupa essencialmente com a movimentação de pedaços de plástico, envoltos em pedaços de papelão, de um local para outro", escreve Zappa em sua autobiografia.
Foto de Frank Zappa em 1970 / Crédito: Foto por Fotopersbureau De Boer pelo Wikimedia Commons
Ideia mirabolante
Com a chegada dos CDs, uns problemas que começaram a martelar na mente de Zappa era o investimento da fabricação e distribuição destes discos. Além disso, com o advento das fitas K7, a pirataria também vinha se tornando um problema recorrente e difícil de ser combatido.
Foi então que o guitarrista pensou: e se fosse possível colocar músicas "em um local de processamento central para tê-las acessíveis por telefone ou TV a cabo, compatíveis com eletrodomésticos" já existentes? Basicamente, uma grande rede que, podendo ser acessada por diversos dispositivos, forneceria acesso a músicas às pessoas; em outras palavras, um streaming tal qual o Spotify.
Além disso, a proposta também previa um modelo de assinatura, em que os usuários pagariam taxas de royalties e de cobrança "incorporada ao software do sistema", contendo também "categorias de interesse". E o guitarrista também acrescenta que, aproveitando dos recursos tecnológicos, exibiria "arte da capa, incluindo letras de músicas e dados técnicos, enquanto a transmissão estivesse em andamento, dando ao projeto um toque eletrônico."
No entanto, como é de se imaginar, Zappa foi ouvido com desdém na época, e ninguém deu continuidade nas ideias que ele havia planejado. Porém, hoje sabemos que ele, realmente, foi certeiro em alguns pontos.
Além das teorizações sobre como seria o modelo e funcionamento dessa rede de acesso a músicas, ele também adivinhou ao afirmar que "fornecer material em tal quantidade a um custo reduzido poderia diminuir o desejo de duplicá-lo e armazená-lo, já que estaria disponível a qualquer hora do dia ou da noite", auxiliaria no combate à pirataria.
"A maioria dos dispositivos de hardware já estão, enquanto você lê isso, disponíveis nas prateleiras de loja, apenas esperando para serem conectados uns aos outros para acabar com a indústria fonográfica como a conhecemos agora", profetiza em seu livro.
Frank Zappa / Crédito: Foto por Jean-Luc pelo Flickr