O comportamento peculiar dos corvos em relação à morte
Aventuras Na História
Os corvos, aves frequentemente associadas à inteligência e complexidade comportamental, chamam atenção de cientistas pelo seu comportamento peculiar em relação à morte.
Quando um membro do grupo falece, esses pássaros se reúnem ao redor do corpo, grasnando intensamente, o que levanta questões sobre a natureza desse ato, que pode ser interpretado como um ritual fúnebre, repercute a BBC.
Embora alguns especialistas especulem sobre o significado desse comportamento, a compreensão científica ainda é limitada, o que motivou uma pesquisa na área, repercutida em 2016. O estudo partiu da premissa de que os corvos possuem uma notável memória para identificar humanos que representam uma ameaça.
A equipe de pesquisa liderada por John Marzluff, da Universidade de Washington, em Seattle, revelou que essas aves não apenas lembram de indivíduos que lhes causaram perigo, mas também compartilham essa informação com outros corvos, criando uma rede de advertência dentro da comunidade.
O experimento
Para investigar esse fenômeno, os pesquisadores utilizaram máscaras de látex para ocultar suas identidades. Em um experimento realizado por outra equipe sob a liderança de Kaeli Swift, um dos pesquisadores disfarçados segurou um corvo morto em um local onde os pássaros eram frequentemente alimentados.
Durante meia hora, a cena foi observada enquanto a alimentação habitual continuava com outro membro da equipe.
No primeiro dia do experimento, os corvos demonstraram aversão à comida deixada pela alimentadora habitual e começaram a se agrupar em um comportamento defensivo típico em situações de ameaça. Os pesquisadores acreditam que isso possa ter sido uma forma de reafirmar seu domínio ou sinalizar a percepção de perigo iminente.
Lição?
O experimento prosseguiu com a introdução de um falcão próximo à comida, o que intensificou a relutância dos corvos em se aproximar. Mesmo após a retirada do corvo morto no dia seguinte, as aves continuaram a evitar a área. Isso sugere que os corvos não apenas reconhecem a morte, mas também incorporam esse conhecimento em seu comportamento futuro.
De acordo com Swift, "os corvos veem a morte como um momento que pode ser ensinado. Um sinal de perigo e perigo é algo a ser evitado". A memória dessa experiência se mostrou duradoura: seis semanas após o experimento inicial, aproximadamente 60 pares de corvos ainda demonstravam comportamentos defensivos na presença do indivíduo mascarado.
Publicado na revista Animal Behaviour naquele ano, o estudo se insere em uma linha mais ampla de pesquisa dedicada à compreensão das reações animais à morte. Outras espécies da família Corvidae, como o scrub jay ocidental, também participam de cerimônias semelhantes ao encontrarem um companheiro falecido.
No entanto, os corvos exibem uma particularidade: não mostram desconforto ao ver outras espécies mortas. Por exemplo, quando o mascarado segurou um pombo morto, não houve reação adversa dos corvos presentes.
Os resultados destacam a capacidade dos corvos em reconhecer rostos humanos e expressões faciais — uma habilidade essencial para distinguir entre indivíduos ameaçadores e inofensivos. Swift enfatiza que "É um exemplo de como corvos evoluíram para conviver com seres humanos. Eles podem ler nossas faces em uma série de circunstâncias".