O túmulo que revelou o medo do "retorno dos mortos", há 2 mil anos
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Uma descoberta arqueológica no sudoeste da Turquia sugere que os antigos romanos podem ter temido os "mortos inquietos". A evidência é um túmulo datado de 2 mil anos atrás, no qual um corpo cremado foi colocado.
Conforme estudo publicado no último dia 21, na revista Antiquity, o local de sepultamento encontrado contém pregos dobrados, sendo selado com duas dúzias de tijolos, além de uma camada de gesso.
No túmulo, que fica no sítio arqueológico de Sagalassos, estão os restos mortais de um homem adulto. A sepultura incomum data do período entre 100 e 150 d. C.
De acordo com o portal LiveScience, Sagalassos foi ocupada do século V a. C. ao século 13 d. C. e possui numerosos exemplos de arquitetura da era romana, incluindo um teatro e um complexo de banhos.
Combinação incomum
Embora as práticas de cremação, sepultamento e, até mesmo, o ato de colocar pregos e selar o local fossem realizadas na época romana, a combinação dos três é bastante incomum, conforme afirmam os especialistas no tema.
O local de enterro foi fechado com não uma, não duas, mas três maneiras diferentes que podem ser entendidas como tentativas de proteger os vivos dos mortos - ou o contrário", disse à fonte o principal autor do estudo, Johan Claeys, arqueólogo da Universidade Católica de Lovaina (KU Leuven), na Bélgica.
Local do Túmulo / Crédito: Divulgação / Projeto de Pesquisa de Sagalassos
Além disso, de acordo com o estudo, a maioria dos pregos encontrados ao longo das bordas da cremação não tinha função prática. Diferentemente de outros de pregos intactos encontrados em outras partes do cemitério, utilizados para selar caixões ou objetos de madeira, estes pregos parecem ter tido uma função ritualística na sepultura em questão.
Fontes literárias antigas fornecem relatos de pregos sendo usados em contextos mágicos como feitiços neutralizantes contra uma ampla variedade de influências malignas”, explicam os autores.
Cremação
O processo de cremação na era romana geralmente envolvia a construção de uma pira funerária, seguida pela coleta dos restos mortais, que eram colocados em uma urna e enterrados em uma sepultura ou depositados em um mausoléu.
No entanto, a sepultura encontrada em Sagalassos apresenta uma característica única: o homem foi cremado e enterrado no mesmo local, como indicado pela posição de seus ossos.
Pregos encontrados em túmulo / Crédito: Divulgação / Projeto de Pesquisa de Sagalassos
A forma incomum do sepultamento pode ter sido realizado pelas pessoas da região por motivos ritualísticos, possivelmente como uma forma de magia ou por causa de uma conexão sobrenatural.
Há a possibilidade de que a sepultura tenha sido construída para neutralizar uma morte incomum ou não natural, mas os pesquisadores não encontraram evidências de traumas ou doenças nos ossos do homem.
Enterro
Os estudiosos apontam que o homem pode ter sido sepultado por seus familiares mais próximos, em uma cerimônia que teria exigido vários dias de preparação e execução. A forma de enterro escolhida teria tido uma função mágica ou um propósito específico, decorrente de uma conexão sobrenatural.
"Independentemente de a causa da morte [do homem] ter sido traumática, misteriosa ou potencialmente o resultado de uma doença contagiosa ou punição", disseram os pesquisadores no estudo, parece ter deixado "os vivos com medo do retorno do falecido"