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1899: série da Netflix é boa mesmo? Narrativa se destaca! (Crítica)
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1899: série da Netflix é boa mesmo? Narrativa se destaca! (Crítica)

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Tecmundo
02/12/2022 18h00
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Uma série de época? Uma produção de terror? Ficção científica? Drama? Ou tudo isso e mais um pouco? O fato é: definir 1899 , nova série da Netflix, é uma tarefa bem complicada.

A narrativa explora elementos como navios fantasmas, memórias, viagens cerebrais, o Mito da Caverna, de Platão, traumas e por aí vai. O que pode parecer meio confuso em um primeiro momento.

Todavia, de alguma forma, 1899 consegue entrelaçar tudo isso em uma narrativa bem interessante e intrigante, que, quase sempre, te presenteia com mais perguntas do que respostas. Pelo menos no início.

E é difícil esperar algo diferente se considerarmos que os criadores de 1899 são Baran bo Odar e Jantje Friese, dupla alemã responsável por nada mais, nada menos do que a série Dark  (2017).

Como você deve se lembrar, Dark oferecia uma obra que mais parecia um quebra-cabeça do que uma história. E só nos episódios finais foi possível ter uma noção da figura completa e compreender todas as ideias narrativas.

Nesse sentido, 1899 segue muito por esse caminho e consegue criar um novo quebra-cabeça para os espectadores desvendarem (ou tentarem, ao menos).

Mas será que vale a pena assistir 1899 mesmo ou a série é apenas muito hype para pouca qualidade? Chegou a hora de responder essas e outras questões com uma análise narrativa e crítica completa de 1899, da Netflix!

1899 é uma série original da Netflix  que foi lançada no dia 17 de novembro deste ano. Como já mencionado, a produção é de autoria de Baran bo Odar e Jantje Friese, idealizadores de Dark.

A primeira temporada contou com oito episódios, lançados de maneira simultânea, e trouxe Emily Beecham, Andreas Pietschmann, Aneurin Barnard, Miguel Bernardeau, Isabella Wei, Clara Rosager, entre outros nomes, no elenco principal.

Em relação à trama, me aterei ao mínimo do mínimo para não estragar quaisquer surpresas. E já aproveito para reiterar que, nesta parte do texto, não há spoilers. Então, pode seguir sem medo, ok?

Muito bem, 1899 conta a história de vários passageiros europeus que embarcam no navio Kerberos rumo à Nova York. E são passageiros de vários locais diferentes, como Alemanha, Portugal, Espanha, França e por aí vai. Um verdadeiro misto de culturas, línguas e costumes.

Até aí, tudo certo. Entretanto, a viagem, aparentemente tranquila, muda a partir do momento em que a tripulação do Kerberos recebe sinais de um outro navio. É o Prometheus, embarcação que estava desaparecida há tempos e que todos acreditavam ter afundado.

Eis que parte das pessoas do Kerberos resolvem ir até o Prometheus, que se encontra todo destruído e abandonado no meio do mar. Ou, melhor dizendo, quase abandonado. Isso porque um único passageiro é descoberto no local: um garoto misterioso.

O tal garoto é levado, então, para dentro do Kerberos. E é a partir desse ponto da narrativa que coisas bem esquisitas e suspeitas começam a acontecer com todos os passageiros, incluindo visões, pesadelos, entre outras bizarrices. O que só prova uma coisa: há muito mais do que se poder ver nessa história toda.  

Os mistérios de 1899 se intensificam com o passar dos episódios, tornando a narrativa intrigante do início ao fim.Os mistérios de 1899 se intensificam com o passar dos episódios, tornando a narrativa intrigante do início ao fim.

ATENÇÃO: ALERA DE SPOILERS! A PARTIR DE AGORA, SE VOCÊ NÃO ASSISTIU 1899, NÃO CONTINUE LENDO! 

Não à toa, 1899 se passa em meio a uma viagem, pois a narrativa é exatamente isso: uma grande viagem. A diferença é que, enquanto somos levados a acreditar que aquilo é apenas uma viagem física, a trama vai nos mostrando, pouco a pouco, que a viagem em questão é mental.

O navio, Nova York, tudo não passa de meros detalhes em uma trama muito mais densa do que se imagina em um primeiro momento.

E 1899 acerta ao desenrolar seus mistérios e pormenores lentamente. Assim como Dark, a série  é o que chamamos de “slow burner” (uma história cadenciada, que queima aos poucos até revelar sua verdadeira face). Por esse motivo, pode ser que alguns espectadores fiquem impacientes, já que a trama nos oferece mais perguntas do que respostas até seus episódios finais.

A primeira metade do seriado, inclusive, se preocupa muito mais em ambientar o espectador e apresentar seus personagens do que mergulhar de cabeça de uma vez só em seus segredos. Algo que se mostra necessário, visto a grande quantidade de personagens de 1899.

Nos primeiros quatro, cinco episódios, portanto, temos vários flashbacks e explicações sobre as origens dos personagens. E uma coisa já fica clara a essa altura do campeonato: todos têm traumas e estão fugindo de passados desagradáveis. O que nos leva a crer que eles não estão no navio por simples acaso.

É a partir do quinto episódio, contudo, que a narrativa começa a acelerar e “recompensar” o espectador após levantar diversas questões mirabolantes. Na reta final da obra, conseguimos nos distanciar cada vez mais do quebra-cabeça para ter uma vista completa da imagem.

Nessa parte, entendemos, finalmente, que Maura (Beecham) é esposa de Daniel (Bernanrd) e mãe do garoto sem identidade. Também já temos noção de que, realmente, os passageiros do Kerberos não estão ali aleatoriamente e tudo parece ter sido orquestrado para acontecer daquela maneira.

A verdade é que tudo o que está acontecendo em 1899 não passa de uma simulação. Uma ilusão criada pela própria Maura como uma maneira de estar próxima ao filho e ao marido. Porém, ela não consegue se lembrar com precisão dos detalhes de sua vida, já que a simulação reúne um emaranhado de construções, traumas e memórias.

Nesse sentido, a própria série nos lembra do Mito da Caverna, de Platão, texto no qual somos desafiados a nos questionar sobre o que é real. Será que o que estamos vendo não é apenas uma camada e a realidade está além da superfície? Deus seria o responsável por tudo, ou alguém também criou Deus?

São essas ideias intrigantes que 1899 tenta (e consegue) trabalhar, mostrando que Maura criou sua própria realidade e conectou todos os personagens da trama em uma grande simulação, que gera loopings infinitos, que se reiniciam toda vez que em que eles morrem e que continuarão acontecendo até que Maura acorde e encerre o caos.

E o papel de acordar Maura para que todos fiquem livres da situação cabe ao seu marido, que, apesar de ter falhado diversas vezes durante os loopings, consegue “hackear” a simulação, levando Maura a despertar em outra camada da ilusão, que, finalmente, a leva para o “mundo real”.

Mas, adivinhe só? Maura acorda em uma nave espacial, em 2099, 200 anos no futuro. Ela sai de uma espécie de câmara de hibernação, em que estão os demais passageiros vistos no Kerberos também, e descobre que seu irmão está no controle de tudo.

Estaríamos em mais uma camada de simulação ou seria essa a realidade? Apenas a 2ª temporada de 1899 poderá nos responder.

1899 trabalha conceitos bem interessantes, incluindo o Mito da Caverna, de Platão.1899 trabalha conceitos bem interessantes, incluindo o Mito da Caverna, de Platão.

Se você já assistiu Matrix  e gostou, 1899 é uma ótima pedida, pois trabalha ideias muito parecidas, envolvendo diferentes realidades, simulações, relacionamentos entre criador e cria, etc. A diferença é que 1899 trabalha isso de uma maneira mais íntima, apostando nos dramas da protagonista e de seus personagens como ponto de partida, em vez de algo mais geral (uma guerra ou revolução, no caso de Matrix).

Apesar de parecer meio confusa, a narrativa de 1899 é bem interessante, mas exige um pouco de paciência do espectador, que precisa estar disposto a montar um longo quebra-cabeça, que só fica pronto, de fato, no episódio final (se não considerarmos o gancho para a 2ª temporada, claro).

O cuidado com os arcos narrativos dos personagens também é louvável, já que não é fácil conferir empatia a um elenco tão vasto e diferente. Mas a produção fez um bom trabalho nesse sentido, nos aproximando de suas figuras principais, bem como de seus traumas e problemas.

Por fim, 1899 é uma experiência bem legal e faz jus à obra anterior de seus criadores, Dark, dando continuidade à estética sombria e à narrativa complexa cultivada pela dupla alemã.

A pergunta que fica, porém, é: este texto é real ou uma mera simulação de uma mente alheia? Faça suas apostas.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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