Como o teste de DNA comprova uma relação familiar?
Tecmundo
Quem não gostava de ver um bafafá televisionado quando o relatório do laboratório era aberto e revelava uma paternidade surpresa? Os testes de DNA ficaram famosos, não tanto pelo avanço tecnológico, mas sim pela capacidade de gerar entretenimento.
Já no campo acadêmico, a possibilidade de observar e comparar dados genéticos entre as pessoas, foi o grande clímax científico da década de 1990, culminando em experimentos como a clonagem da famosa ovelha Dolly em 1996.
Há registros de que o primeiro teste de DNA possa ter ocorrido em 1986 no Reino Unido, como técnica para solução de um crime. Mas nessa época, o teste ainda não era tão assertivo, além disso, o genoma humano só foi completamente sequenciado em 2003, demostrando que todos os seres humanos compartilham 99,9% do código genético.
Em um mundo de iguais, não seria difícil que essa primeira tentativa mostrasse que todos na cidade eram responsáveis pelo crime. Não aconteceu, mas poderia.
Mas como somos capazes de identificar essa variação tão pequena entre todos os seres humanos? Vamos estudar mais um pouquinho de genética!
Sua mãe estava certa, você não é igual a todo mundo
Sabe aquele 1%? Ela faz muita diferença! Ainda que nosso código genético fosse compartilhado em uma taxa de 99,99%, ainda haveriam 300 mil possibilidades para serem combinadas e analisadas, afinal, o genoma humano contém 3 bilhões de pares de bases! A magia dos exames de DNA está na capacidade de identificar iguais e apontar as diferenças.
As semelhanças familiares são encontradas devido ao material genético doado a você por seus pais. Cada um contribuiu com 23 cromossomos, que se somando formam os 46 pares necessários para sua existência. Há quem possua um número maior, mas isso é assunto para síndromes genéticas.
Essa "doação" nem sempre será pareada, por isso, caso você não seja um gêmeo univitelino, será diferente dos seus irmãos, ainda que compartilhem a mesma quantidade de DNA herdada dos seus genitores.
Pense no macarrão para sopa de letrinhas, o pacote inteiro representa a combinação genética entre seus pais. Na primeira receita, um scoop pode conter as letrinhas ACGU.
Em outro dia, na segunda receita, com a mesma medida de macarrão, as letras podem ser CCGA. Todo restante do preparo é igual. É assim que os bebês são feitos, crianças, com macarrão para sopa de letrinhas, pode confirmar com seus pais. Explicado isso, vamos para o fantástico mundo dos exames de DNA!
Como funcionam os testes de DNA?
Os teste de DNA podem ter diversos usos, como, por exemplo, podem ser utilizados para verificar quais partes da sequência genética apresentam falhas ou mutações. Com finalidade diagnóstica e terapêutica, ajudam a compreender e evidenciar consequências para saúde em relação a essa variação.
Também podem ser utilizados com fins forenses, que ajudam no reconhecimento de criminosos e na identificação de vítimas, quando não há documentos que atestem a identidade ou ainda, quando o reconhecimento facial não é possível.
Mas a tecnologia avançou e os exames, antes muito inacessíveis e caros, destinados apenas às investigações específicas de saúde ou para elucidação de crimes, ganhou novos adeptos, curiosos com sua ancestralidade.
Alguns laboratórios passaram a oferecer testes "caseiros" de DNA, que só precisam de um, cotonete e uma lista de instruções para coleta. Me dê um pouquinho de saliva e eu te digo quem é e de onde veio.
Para que um teste de DNA seja realizado é necessário apenas uma pequena quantidade de material genético presente nas células das mucosas, bulbo capilar, células epiteliais, sangue, dentre outras fontes. Se a célula tem núcleo, certamente irá conter material genético.
O que os laboratórios de testagem fazem é comparar o material enviado por você com registros em bancos de dados genéticos, buscando por traços iguais ou muito semelhantes, que evidenciem características específicas. A técnica utilizada verifica microarranjos (Microarray) no DNA de forma global, evidenciando essas variações.
Exemplificando, digamos que algumas pessoas da Europa apresentem uma combinação única de genes que contribuem para maior resistência a sensação de frio. Mesmo que gerações tenham se passado, e seus ancestrais tenham imigrado para regiões tropicais, esse traço nunca será apagado do código genético.
Quando os pesquisadores fazem essa comparação, eles são capazes de descrever que alguém no seu passado morava na região X do mundo. Se o traço for forte, a probabilidade de uma ligação mais próxima é maior.
Ainda no mesmo exemplo, digamos que seu bisavô se mudou para uma região mais quente por ter se casado com uma brasileira, que tinha descendentes portugueses e da Costa Rica. Toda essa ascendência pode ser visualizada pelos traços genéticos que você possui, e estarão representados nos resultados em formas de porcentagem, pois isso os resultados mostram você subdivido em vária "nacionalidades".
Caso você esteja interessado apenas na sua linhagem materna, ao invés do DNA nuclear, os pesquisadores irão analisar seu DNA mitocondrial, pois as mitocôndrias são doadas apenas pelas mães.
Nos casos de exames de parentalidade, para saber se pertencemos ou não a um grupo familiar, as amostras comparadas pertencem às pessoas que irão ser testadas. Sequência por sequência é comparado , buscando identificar o maior número de igualdades entre as pessoas testadas.
Se o exame foi realizado com avós, tios e meio-irmãos, para o teste ser considerado positivo, as pessoas devem compartilhar 25% do código genético. Se o grau de parentesco for mais distante, como primos de primeiro grau, o compartilhamento deve ser de 12,5%, e em segundo grau de 3,13%.
E para pais, você adivinha? Como dissemos no início, os pais contribuem com 50% do DNA dos filhos, então, quando os exames de DNA apontam para uma concordância de 47,5% a 50%, parabéns, você é o pai!
Mas e se eu receber uma transfusão sanguínea e talvez passar por um exame de DNA, pode haver um falso positivo? Não, a maioria das células que compõem o sangue são anucleadas e não guardam DNA.
Quando sangue é recolhido para exames de DNA, os pesquisadores buscam exclusivamente pelos leucócitos, que são células do sistema imunológico que circulam com as outras células que compõem nosso sangue.
Elas não possuem contagem suficiente para alterar o seu DNA. Além disso, essas células morrem depois de um tempo. O teste, se bem feito, raramente erra, então você não tem desculpas, exceto caso você seja uma quimera. Mas isso fica para outro dia.
Se você gosta de genética, saiba quais outras informações seu DNA pode revelar sobre você. Para mais sopas de letrinhas fundamentais para sua informação, continue acompanhando o TecMundo!