Eclipse solar artificial: missão da ESA cria um fenômeno espacial único
Tecmundo
Nesta quinta-feira (5), a missão Proba-3 da Agência Espacial Europeia (ESA), uma espécie de "delivery" de eclipses solares, foi lançada a bordo do poderoso foguete PSLV-XL, do Centro Espacial Satish Dhawan em Sriharikota, na Índia, ás 7h34 (horário de Brasília). Cerca de 18 minutos depois, os dois satélites, que subiram empilhados um sobre o outro, se separaram do estágio superior.
Conforme o site da agência europeia, os dois veículos espaciais “têm o potencial de mudar a natureza de futuras missões espaciais” e passarão a realizar voos de formação com precisão milimétrica, como se fossem uma só plataforma gigante. O grau de controle e perfeita sincronização poderá ser visto em eclipses solares artificiais produzidos em órbita, diz a ESA.
A nova dupla de sondas da família de missões de demonstração em órbita da ESA, "Occulter" e “Coronagraph” estarão constantemente alinhadas com o Sol a 150 m uma da outra, de forma que a primeira projete uma sombra controlada sobre a outra, com altíssima precisão de um milímetro e “espessura de uma unha média”, afirma o release.
Qual é a utilidade de um eclipse solar artificial?
Como todos sabemos, um eclipse acontece quando a Lua passa na frente do Sol. Como, por uma coincidência cósmica, o nosso astro é 400 vezes maior do que a nossa lua, e também 400 vezes mais distante do que ela, isso permite que ele fique completamente "encaixadinho" atrás do nosso satélite natural durante um eclipse solar total.
Quem já observou o fenômeno sabe que, no ponto alto do eclipse, um anel de fogo pode visto exatamente ao redor da Lua. Esse é o fenômeno da coroa solar, a camada mais externa da atmosfera do Sol, que é extremamente quente (são milhões de graus Celsius), mas um milhão de vezes menos densa do que a luz visível do Sol.
E é por isso que os cientistas estão sempre correndo atrás de eclipses solares. Essa importante fonte de estudos da dinâmica e do vento solar permanece invisível na maior parte do tempo devido à fotosfera, o brilho intenso da superfície do Sol que ofusca a coroa. Mas, durante o eclipse, a Lua funciona como um filtro solar.
Melhores formas de ocultar o brilho do Sol
Normalmente, os telescópios, espaciais ou terrestres, que estudam o sol são equipados com um coronógrafo, um pequeno disco no meio para bloquear o brilho do disco solar. Com isso, você perde informações sobre uma parte importante da coroa solar, que é a que está mais próxima da superfície do Sol.
A melhor forma de melhorar essa observação é colocar um coronógrafo bem mais longe do telescópio, e isso é feito de uma forma espetacular pela Lua, a cerca de 380 mil quilômetros, durante os eclipses. Só que esses fenômenos são raros (em média, um a cada 18 meses) e tudo o que podemos fazer é esperá-los.
Nesse sentido, a NASA está preparando uma Missão de Ocultação Solar Habilitada pela Lua (MESOM) que enviará uma espaçonave em órbita para obter eclipses mensais de até 48 minutos de duração. Enquanto isso não ocorre, o Proba-3 fará uma espécie de demonstração dessa abordagem, mas sem usar a Lua,
Como funcionarão as espaçonaves gêmeas da Proba-3?
A órbita das duas espaçonaves da missão Proba-3 da ESA será bem excêntrica em relação à Terra, variando entre 600 quilômetros e 60,5 mil quilômetros da superfície terrestre. Elas completarão uma órbita ao redor do planeta a cada 19,7 horas.
Durante essa trajetória, há uma janela de seis horas em que as sondas estarão em seu ponto mais distante da Terra.
Esse momento é considerado o mais importante da missão, pois permitirá que as duas naves se posicionem de maneira a bloquear totalmente a luz do Sol, criando um verdadeiro eclipse solar artificial, e permitindo a observação detalhada da região coronal.