Filme na Amazon Prime testa os benefícios do exercício no cérebro
Tecmundo
A Amazon prime lançou recentemente o documentário “Ming games – O experimento” que conta a história de atletas um pouco diferentes – jogadores mentais e o potencial do exercício físico para melhorar o desempenho deles.
O documentário, com duração de uma hora e 13 minutos, narra a trama de quatro jogadores mentais competitivos ao redor do mundo que participam de um experimento com exercícios físicos para verificar se seu desempenho pode ser melhorado. Porém o foco foi o desempenho mental e não o físico, ou seja, a capacidade cognitiva, envolvendo raciocínio, resolução de problemas, concentração e memória. A relação entre exercícios e cérebro foi testada.
O número total de participantes da pesquisa foi de 77 de 21 países. Porém os protagonistas foram apenas quatro: atletas de xadrez, e-sports, mahjong (jogo de mesa) e de competições de memória, que mostram resultados frustrantes em suas modalidades, no começo da jornada.
No documentário, uma atleta de e-sport é submetida a treinos físicos para melhorar seu desempenho no jogo.
Um mestre britânico da memória consagrado na área, antes dos treinos afirmou: "Eu não acho que há uma ligação entre a forma física do corpo e uma mente em boa forma", para ele "toda a coisa física está muito separada do desenvolvimento do cérebro". Já o japonês especialista em mahjong, acredita que quanto mais exercícios fizer, mais foco e concentração no jogo vai ter.
Até que é proposto o programa de exercícios junto a equipe de um dos maiores pesquisadores em saúde mental do mundo: Brendon Stubbs do King’s College London, que tem mais de 700 artigos científicos publicado e está no seleto 1% de pesquisadores mais citados no mundo, atualmente. Além disso, contaram com o patrocínio da marca de material esportivo Asics.
Não sou eu quem vai dar spoiler e estragar o prazer de ver um bom documentário. Fica a sugestão e aqui vai um pouco de ciência sobre o assunto, pois ao mesmo tempo está acontecendo uma bela discussão na ciência sobre exercícios e cognição. Fique por dentro agora.
Em um intervalo de 4 dias, dois artigos ganharam atenção da comunidade científica e da mídia, mostrando a essência da ciência: o avanço científico.
Primeiro, uma revisão publicada na Nature Human Behavior por uma equipe de pesquisadores na Espanha, da Universidade de Granada, reuniu 109 estudos de intervenção, aqueles que testaram a eficácia do exercício sobre a cognição, com um total de 11.266 participantes. E embora a maioria dos ensaios individuais tenha encontrado um efeito positivo, um novo cálculo dos resultados encontrou apenas evidências “insignificantes” de benefícios cognitivos.
Isso foi tão impactante que os autores sugeriram que organizações como a OMS deveriam evitar de citar a saúde do cérebro como uma razão para se exercitar até que melhores evidências estejam disponíveis, uma vez que nos principais documentos da instituição consta essa informação.
Só que talvez eles não contavam que novas evidências surgiriam tão rápido. Um grupo de pesquisadores do Canadá, Suíça e Estados Unidos, publicou na revista Scientific Reports um inovador estudo, apenas 4 dias depois. Esse é o maior estudo sobre atividade física e função cognitiva, em relação ao número de participantes – mais de 350 mil. Mas a maior novidade vem da qualidade da estatística.
Eles fizeram randomização mendeliana, que usa variações genéticas para caracterizar e classificar as pessoas. Essa randomização, que consiste em um sorteio para tornar algo aleatório, ocorre efetivamente no nascimento. Algumas pessoas nascem com variantes genéticas específicas que as predispõem a se exercitar mais ao longo de suas vidas.
Essas variantes genéticas não têm efeito conhecido sobre a função cognitiva, portanto, se as pessoas portadoras dessas variantes pontuam melhor em testes cognitivos, isso sugere que seus níveis mais altos de exercício fizeram a diferença. Os pesquisadores monitoraram atividade física de maneira direta com acelerômetros.
Eles encontraram possíveis efeitos causais, com níveis mais altos de atividade física moderada e vigorosa levando ao aumento do funcionamento cognitivo. Por outro lado, o inverso não se confirmou, pois não houve efeito da cognição sobre a atividade física.
Curiosamente, os efeitos do exercício moderado foram cerca de 50% mais fortes do que o exercício vigoroso, sugerindo que você não precisa se esforçar até a exaustão para obter os benefícios, ou seja, pode ficar longe dos bordões “no pain no gain” ou “morri, mas passo bem”, populares nas redes sociais.
Pessoas com predisposição genética para exercícios normalmente praticavam exercícios e pontuavam melhor em testes de raciocínio. E mesmo sem os genes considerados melhores para exercícios, obteve-se benefícios cerebrais ao se exercitar.
A atividade física pode aumentar a neuroplasticidade, a angiogênese, a sinaptogênese e a neurogênese por meio da regulação positiva de fatores de crescimento como o BNDF, uma proteína que serve como adubo cerebral. Além disso, a ativação repetitiva de funções cerebrais necessárias para atividade física como planejamento, inibição e raciocínio, podem contribuir para a melhora da cognição. Atividade física é saúde do corpo e do cérebro.