Oppenheimer alguma vez se desculpou pela criação da bomba atômica?
Aventuras Na História
Grande vencedor do Oscar deste ano, Oppenheimer ganhou sete estatuetas durante a premiação mais importante da indústria cinematográfica. O drama histórico de Christopher Nolan é construído em torno do físico Julius Robert Oppenheimer, considerado o 'pai da bomba atômica' e líder do Projeto Manhattan.
Desde o último domingo, 7, o filme faz parte do catálogo do Amazon Prime Video, e pode ser assistido por todos os assinantes do serviço de streaming — sem custos adicionais.
Oppenheimer tem sua história 'dividida' em duas partes: com sua primeira metade focada no desenvolvimento da bomba atômica e em torno da Operação Trinity — o primeiro teste de arma nuclear da história no deserto do Novo México em 16 de junho de 1945.
Depois, a trama se concentra substancialmente nas consequências do teste bem-sucedido, desde os atentados contra Hiroshima e Nagasaki (embora não tenha nenhuma cena de explosão retratada) até a corrida armamentista que seguiu nos anos posteriores.
Com tudo isso, o longa-metragem de Nolan tenta mapear todas as complicadas emoções sentidas pelo físico norte-americano. Mas uma pergunta que fica é: Julius Robert Oppenheimer, alguma vez, se desculpou pela criação da bomba atômica?
O 'arrependimento'
Em uma das cenas já memoráveis do filme, após os atentados contra o Japão, Oppenheimer (Cillian Murphy) visita o então presidente norte-americano Harry S. Truman (Gary Oldman) na Casa Branca.
No encontro, ele confidencia que sente que tem "sangue em suas mãos", devido às inúmeras vítimas inocentes que os bombardeios no Japão causaram. A frase provoca desdém em Truman.
Segundo Kai Bird e Martin J. Sherwin explicam na biografia 'Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano' (Ed. Intrínseca), cujo filme foi adaptado, essa conversa realmente aconteceu.
O momento ilustra como o físico se sentiu nos anos que seguiram à criação da bomba atômica. Mas, o que ele fez de concreto com esses sentimentos é algo mais complicado.
Conforme recorda matéria da NBC, no outono de 1945, o físico fez um discurso aos cientistas de Los Alamos, quando deixou as instalações para cuidar de outras atividades.
No pronunciamento, destaca o Nuclear Museum (Museu Nuclear), ele não mostrou arrependimento pela criação, pois, sentia que eventualmente alguém seria capaz de construir a arma de destruição.
Portanto, como o filme ilustra, ele achou que era importante que os Estados Unidos conseguisse isso antes dos nazistas. Nesse sentido, a crença de Oppenheimer no dever fez com que ele, nem sempre orgulhoso, pelo menos se resignasse ao seu papel na criação da bomba.
Obviamente isso não significa um arrependimento — por mais que a frase 'sinto que tenho sangue nas mãos' possa ilustrar esse sentimento. Mas o que ele fez de fato contra isso tudo?
Ainda conforme a NBC, Oppenheimer, pelo resto de sua vida, passou a cobrar pela supervisão internacional de todos os projetos atômicos, acreditando que transparência e abertura seriam a política que poderia evitar uma eventual guerra nuclear.
Ele ainda passou a considerar a bomba por si só como "uma coisa maligna" e lutou contra o desenvolvimento das bombas de hidrogênio com considerá-las "motores de genocídio".
A certa altura, ele até mesmo visitou o Japão, 15 anos depois de Hiroshima e Nagasaki, e respondeu aos repórteres se a ida ao país havia mudado seus sentimentos sobe seu papel no desenvolvimento da bomba.
+ Como Oppenheimer agiu em viagem ao Japão 15 anos após Hiroshima e Nagasaki?
"Eu não acho que vir para o Japão mudou meu sentimento de angústia sobre minha parte em todo esse pedaço da história. Tampouco me fez lamentar totalmente minha responsabilidade pelo sucesso técnico do projeto", começou. Após mais uma pausa, continuou:
Não é que eu não me sinta mal. É que não me sinto pior esta noite do que ontem à noite".
Desculpas formais
Então, como pode ser observado, Oppenheimer se sentiu mal até certo ponto, mas ele já se desculpou abertamente por sua criação? Se o fez, essas 'desculpas' aconteceram de modo privado e, por alguma razão, nunca foram registradas — até onde os relatos históricos são capazes de apontar.
Afinal, em nenhum momento Oppenheimer se desculpou, de maneira formal ou informal, não só pela criação da bomba atômica, mas também por sua utilização em testes ou até mesmo no Japão.
Durante o fim de sua vida, ele permaneceu preocupado com a natureza da bomba como uma 'ameaça existencial à humanidade'. Segundo Nolan, é justamente essa dualidade das duas últimas décadas de sua vida que o tornam um personagem tão fascinante.
Tal como acontece com tudo relacionado a Oppenheimer, você pode ver as coisas de maneiras muito contraditórias", disse o diretor ao físico Brian Cox em entrevista à Esquire.
"Se você olhar da perspectiva de 2023, há duas maneiras de interpretar suas ações pós-guerra. Embora fosse um orador eloquente e cuidadoso, nunca se desculpou pelos bombardeios no Japão, nem expressou vergonha pessoal pelo seu papel nelas. No entanto, todas as suas ações e políticas pós-1945 refletem as de um homem profundamente culpado, muito consciente das consequências das suas ações", finalizou.