Visões e alvo da Inquisição: Rosa Maria Egipcíaca, a mulher homenageada pela Viradouro
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Da África para o Rio de Janeiro, Rosa Maria Egipcíaca tinha apenas seis anos de idade quando foi escravizada no século 18 anos. Símbolo de resistência, ela se tornou a primeira mulher negra do Brasil a escrever um livro. Agora, sua história é resgatada e homenageada pela Unidos de Viradouro no Sambódromo na próxima segunda-feira, 20.
Em entrevista ao G1, o carnavalesco Tarcísio Zanon destaca a importância de homenagear Rosa Maria Egipcíaca em um desfile que vai mostrar não só a força mas também resiliência de uma mulher que não desistiu, apesar do sofrimento e dos obstáculos.
A história de Rosa é documentada com maestria na obra do historiador e antropólogo Luis Mott, “Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil”, de 1993. Inicialmente, vale destacar que Rosa passou a ser chamada por esse nome após ter sido rebatizada em solo brasileiro.
Hoje você vai conhecer Luiz Mott, autor de “Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil”, livro que a Viradouro utilizou como referência para seu enredo no Carnaval 2023. pic.twitter.com/lAPvKKf6jk
— Unidos do Viradouro 🌹 (@gresuviradouro) February 16, 2023
Escrava doméstica, foi aos 10 anos que acabou sendo vendida e prostituída, ou seja, forçada a satisfazer sexualmente fidalgos e os donos de minas de ouro que residiam em Minas Gerais. Nessa época, inclusive, ganhou dinheiro ao juntar o pó e pedras de ouro.
Mas, ao se converter ao cristianismo, entregou tudo o que tinha aos pobres. Por seu gesto, foi associada a uma santa egípcia, daí surgir o nome Rosa Maria Egipcíaca", explicou Tarcísio ao G1.
Tomada por visões que causavam temor, a igreja passou a ver Rosa Maria como bruxa, todavia, o mesmo não acontecia com a população, que a considerava uma santa e a levou a condição de beata. Levada de volta para o Rio de Janeiro, se tornou alvo da inquisição.
"A Rosa era uma megalomaníaca, na verdade. Ela dizia ser esposa do Espírito Santo e fez uma previsão de que o Rio de Janeiro seria inundado. Isso logo depois do terremoto de Lisboa, em 1755. Na época a colônia ficou em polvorosa, porque as pessoas concluíram: se Deus tinha castigado a metrópole, aconteceria a mesma coisa no Brasil", explicou Luis Mott ao site Setor 1.
Foi enquanto esteve em um convento franciscano que aprendeu a ler e escrever com auxílio de um padre. Assim nasceu o livro que registra sua própria história: "Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas". Rosa Maria também foi apoiada por um exorcista, conhecido como Xota Diabos.
Generosidade
Rosa Maria Egipcíaca teve a vida marcada por gestos generosos. Ao abrir o que se parecia com um convento, passou a abrigar e cuidar de meninas negras desabrigadas. Sustentava o local por doações. Infelizmente, era vista pela igreja como feiticeira e acabou sendo levada para a Torre do Tombo, localizada em Portugal, ao lado do padre que a ajudava.
"Rosa foi enviada para Lisboa em 1762, onde manteve sua posição. Ela sempre afirmou que era tudo verdade, que as visões aconteciam de fato. Já o padre, enviado também para o julgamento em Lisboa, negou tudo. Ele se defendeu dizendo que seguiu as autoridades, os franciscanos, e que era um sacerdote com pouca formação teológica. Ainda assim, ele foi enviado para o exílio no Algarve", disse Mott ao Setor 1.
Uma das visões de Rosa - que nunca se concretizou - será apresentada no desfile. Em um sonho, Rosa viu o Rio de Janeiro tomado por uma inundação que seria responsável por lavar os pecados de quem ali vivia. Simultaneamente, seu convento seria transformado numa arca. Já em outra arca, a água traria Dom Sebastião, rei de Portugal, que se casaria com ela. Juntos, eles formariam um novo Brasil, que seria não só mais abastado, mas também justo com as pessoas. Rosa Maria morreu em Lisboa de causas naturais em outubro de 1771.
"Faremos uma grande procissão de tambores e folguedos populares para acalmá-la Santa do povo. A Rosa Maria não foi canonizada pela Vaticano, mas ela foi aclamada no passado. Agora, ela será novamente aclamada na Sapucaí", disse Tarcísio, conforme repercutido pelo O Dia.