E se nós não estragássemos a primeira vitória do Brasil no Oscar?

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97 edições, quase 100 anos de existência e, finalmente, o Brasil tem o seu primeiro Oscar. No último domingo (2), no lendário Dolby Theatre, em Los Angeles, na Califórnia (EUA), Ainda Estou Aqui fez história ao vencer a categoria de Melhor Filme Internacional e conquistar a primeira estatueta de ouro brasileira. Porém, aparentemente, a vitória valeu nada.
Além de Melhor Filme Internacional, Ainda Estou Aqui ainda concorria às categorias de Melhor Filme, principal honraria da maior premiação do cinema, e Melhor Atriz, para Fernanda Torres (Tapas & Beijos). Ambas, no entanto, foram conquistadas por Anora, grande vencedor da noite, e a sua protagonista, Mikey Madison (Pânico).
Doeu, é claro. Orgulhosos e otimistas, queríamos ver o Brasil chegando com o pé na porta, tomando Hollywood de assalto, sem deixar migalhas, para mostrar que não se brinca com brasileiro. Mas não deu. As chances não eram as mais altas — e nós sabíamos disso. Até mesmo Fernanda Torres sabia que, provavelmente, não levaria o prêmio de Melhor Atriz, por exemplo.
“Eu tenho plena certeza de que o Oscar deste ano vai para a Demi Moore [por A Substância], uma mulher que merece. Ela é incrível", declarou ao Jornal Nacional.
O pressentimento estava correto. Nós, irredutivelmente brasileiros, não demos o braço a torcer até o último minuto. Além da vitória, queríamos ver a história ser reparada com a filha conquistando o prêmio que, um dia, esteve tão próximo à sua mãe, mas acabou virando batente de porta de Gwyneth Paltrow.
Porém, tentar traçar um paralelo entre as duas derrotas não faz o menor sentido. Nem sempre a experiência vem com a idade e, com apenas 25 anos, Mikey Madison já é alguém que Gwyneth Paltrow jamais será: uma atriz apaixonada por seu ofício. No futuro, espere mais algumas estatuetas de ouro na estante da jovem artista, e não velas aromatizadas com o cheiro de sua vagina.
Não há motivo para desmerecer a vitória de Madison. Nem por ser a mais jovem entre as concorrentes, nem por ser "apenas a sua primeira indicação" — assim como as de Fernanda Torres e Demi Moore —, menos ainda por reparação histórica ou por justiça. Queria fazer história? Dava a estatueta para Karla Sofía Gascón, de Emilia Pérez, a primeira mulher transgênero a concorrer na categoria. Queria ser justo? Premiava Cynthia Erivo, de Wicked, indicada duas vezes ao longo de sua carreira. Só que ninguém queria isso.
"Ah, mas Anora glamouriza a prostituição", "a Academia está cheia de velhos tarados"... Ou você só não entendeu o filme e, pior ainda, talvez seja menos progressista do que jamais admitiria em uma conversa de bar com os seus amigos? Após as vitórias de Anora, li críticas baseadas apenas na sinopse do filme. É um nível ainda mais baixo do que se baser em um corte viralizado no Twitter ou um resumo no TikTok. Ao menos, assistam ao filme antes de opinar. É o mínimo.
Infelizmente, Oscar não é concurso de popularidade. Se fosse, Ainda Estou Aqui, que carrega a maior aprovação da crítica internacional entre os indicados a Melhor Filme no Rotten Tomatoes, teria vencido com folga.
Ainda assim, foram quase 100 anos esperando por esse momento. No meio do caminho, Ainda Estou Aqui difundiu uma mensagem extremamente poderosa mundo afora. Uma mensagem que não era codificada, não precisava ser lida nas entrelinhas, nada disso: uma mensagem dura, clara e sonora, mesmo em sua quietude. O mundo inteiro recebeu essa mensagem — e, melhor ainda, a entendeu. Identificou-se com ela.
Hoje, todos conhecem os nomes de Rubens e Eunice Paiva, e o que o regime militar significou para o Brasil. Não é pouca coisa. "Em nome do cinema brasileiro, é uma honra tão grande receber isso de um grupo tão extraordinário. Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande em um regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir... Esse prêmio vai para ela: o nome dela é Eunice Paiva", bradou o diretor Walter Salles no palco da maior premiação do cinema. Isso é gigante!
Não há motivos para transformar um momento de alegria em uma busca infundável por "vingança". Queríamos Fernanda Torres premiada? Com certeza! Ainda Estou Aqui como Melhor Filme? Sem a menor dúvida! Mas não é porque não é perfeito, que não é válido.
Nós vamos sorrir, como pediu Fernanda, eternamente creditada como "a atriz indicada ao Oscar". É tempo de celebrar. O sabor da vitória, nesse momento, é muito mais doce que o amargo da derrota. Vamos aproveitar.
Qual é a história de Ainda Estou Aqui?
Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, Ainda Estou Aquié ambientado no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970, em meio à ditadura militar, e conta a história de Eunice (Fernanda Torres), mãe de cinco filhos, que se envolve em uma busca infindável pela verdade após o seu marido, Rubens (Selton Mello, O Auto da Compadecida 2), ser levado por policiais à paisana e desaparecer.
Além de Fernanda Torres e Selton Mello, o longa ainda conta com Fernanda Montenegro (A Vida Invisível), Maeve Jinkings (Pedágio), Antonio Saboia (Destino Particular), Humberto Carrão (Marighella), Marjorie Estiano (Sob Pressão), Camila Márdila (Que Horas Ela Volta?), Valentina Herszage (Mate-me Por Favor) e, entre outros, Charles Fricks (Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro). Assista ao trailer:
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