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Tales of Arise evolui a série em tudo e preza por ritmo impecável
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Tales of Arise evolui a série em tudo e preza por ritmo impecável

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Tecmundo
25/09/2021 14h00
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Sendo bem sincero, não precisei de muito tempo para perceber que estava diante de um dos melhores JRPGs da atualidade quando iniciei um save em Tales of Arise. O novo game desenvolvido e publicado pela Bandai Namco nos remete à magia dos RPGs de ação que tínhamos aos montes no PlayStation 2, numa época em que era uma árdua tarefa escolher entre Dark Cloud, Drakengard, Rogue Galaxy e Star Ocean: Till the End of Time – só para citar alguns nomes que me vieram à cabeça ao revisitar memórias. 

Cá entre nós, ser capaz de nos levar de volta à era do PlayStation 2, à melhor safra de Action RPGs na humilde opinião deste redator que vos escreve, é de fato uma grande virtude. Se analisarmos friamente, o gênero acabou caindo em desuso, assim como o hack'n'slash, e é por isso que valorizamos tanto toda vez que um novo título do tipo chega às plataformas atuais. Tales of Arise não apela à nostalgia gratuita e, ao invés disso, respeita o DNA da franquia e do gênero ao qual pertence, provando que nem sempre é necessário se reinventar para evoluir. 

Em um exercício de analogia, Tales of Arise representa um largo passo rumo à dominação da franquia no ocidente, tal qual Monster Hunter World representou para a valiosa série da Capcom em 2018. Arise consegue abraçar novos jogadores por ser mais acessível, ao mesmo tempo que sabe dialogar com os seguidores de longa data se pautando por sistemas complexos.

Do nicho ao mainstream, deem as boas-vindas a Tales of Arise

História: elevando a franquia ao seu potencial máximo

Todos nós sabemos que um bom RPG depende de um roteiro bem redigido para fisgar o jogador em uma aventura com dezenas, talvez centenas de horas. Arise cumpre com maestria a missão de amarrar você à trama sem se arrastar em uma narrativa entediante. Na verdade, cada linha de texto contribui de maneira expressiva para edificar a base de relacionamento dos seis incríveis personagens jogáveis que temos à disposição. 

Ironicamente, conversas banais dizem muito mais sobre as motivações dos heróis e suas conexões com os mundos, Dahna e Rehna, do que muitas missões secundárias – que também são boas, só que se resumem a cumprir favores simples a personagens-chave de cada localidade. Aos que não estão familiarizados com outros idiomas: fiquem tranquilos, pois os textos estão localizados ao português brasileiro, então não há como perder conteúdo.

Pensando em preservar a experiência de quem pretende jogar ou já está jogando, vou me limitar a dar detalhes que fogem da premissa. Vamos lá: Arise conta a história de Alphen, conhecido inicialmente como Máscara de Ferro, um escravo dahniano que parte rumo à jornada para libertar o povo de Dahna após três séculos de hegemonia rehnana. Com o desenrolar dos acontecimentos, o protagonista é incumbido da tarefa de desmantelar os cinco reinos de Dahna, cada um deles governado por um tirânico lorde rehnano, a fim de trazer paz de volta à terra natal.

À medida que avança no caminho para cumprir o seu propósito, Alphen conhece outros personagens que se unem a ele pela mesma causa, também recebendo ajuda de grupos de resistência, com os quais estabelece relações de confiança durante toda a aventura. A pauta de amizade é explorada sem forçar a barra e compõe boa parte dos diálogos opcionais, as esquetes, que nada mais são do que interações descompromissadas entre o grupo. Aprimorar a ligação entre os heróis selecionáveis, aliás, é algo fundamental a quem busca clareza a respeito deles e das miudezas da narrativa.  

Embora a sinopse não chame tanta atenção à primeira vista, você só precisa passar do primeiro lorde para enxergar o que esse jogo tem de melhor: as reviravoltas no enredo. O cuidado minucioso ao desenvolver o diversificado elenco de personagens, aliado à esplêndida habilidade que o título tem de fascinar a partir de eventos imprevisíveis, é o que nos mantém com os olhos grudados na tela, sem a mínima vontade de fazer uma pausa. Perdi a conta de quantas vezes prometi a mim mesmo que jogaria só mais um pouco, mas os minutos acabaram virando horas. 

Além da qualidade inquestionável de um roteiro que verdadeiramente mexe com a gente, há um outro aspecto que favorece a história: o ritmo. Tales of Arise procura dosar na medida certa cutscenes, diálogos, exploração, combate e gerenciamento para que você nunca se sinta entediado com as atividades que são ofertadas. 

Por mais que exista um ciclo de gameplay a ser percorrido, que com o tempo cai na repetição, o título sempre toma um cuidado extra para não deixar o interesse de quem está jogando escorregar por entre os dedos, algo raro de ser visto nos dias de hoje. Torno a dizer e continuarei dizendo que ritmo é um fator determinante para o sucesso, especialmente num contexto em que games e outras mídias de entretenimento digladiam-se pela atenção do jogador.

Combate personalizável e com ritmo próprio

Quem conhece um pouco melhor a série Tales sabe bem que ela preza pela ação, englobando a complexidade característica dos RPGs. Apesar das semelhanças com Zestiria e Berseria, Arise traz melhorias significativas numa tentativa de se distanciar desses dois irmãos, apostando agora em sistemas dinâmicos e acessíveis, sem abandonar a parte estratégica da coisa. 

Não há, no entanto, como assimilar todas as mecânicas nas primeiras horas, um ponto que pode acabar desestimulando os jogadores que buscam um combate mais “direto ao ponto”. Arise gosta de seguir o seu próprio balanço e não faz questão de acelerar o processo de aprendizagem; faz tudo no seu tempo. O jogo quer que você se sinta suficientemente confortável com as lições aprendidas em cada trecho até que esteja apto a desbravar novos recursos – e funciona bem dessa forma. 

Você pode se esquivar, utilizar golpes normais com os gatilhos e acionar ars, as habilidades especiais, para desferir golpes elementais no solo ou no ar, além de ativar os Ataques de Impulso dos aliados para amplificar o dano. O grupo titular é composto sempre por quatro heróis, sendo que dois ficam na reserva atuando como membros de suporte. Como já mencionei nesta análise, os seis são jogáveis: Alphen, Shionne, Rinwell, Kisara, Dohalim e Law. 

De forma resumida, você precisa saber o momento certo de utilizar e conectar ataques para encadear combos, uma vez que são os acertos sequenciais que derrubam os inimigos e abrem brechas para poderosas investidas. Quanto mais habilidoso você for para sustentar as séries de ações sem intervalos, mais Pontos de Combate irá receber para fortalecer sua equipe com rapidez. 

Tales of Arise não é tão frenético quanto um hack'n'slash nem tão cadenciado quanto os Final Fantasy recentes, mas dança conforme a sua própria música, cuja velocidade rítmica é muito particular. Há sistemas profundos ao fã que deseja mergulhar nas minúcias, da mesma forma que existem muitos facilitadores ao novato que está chegando agora, como um modo história, bem suave e que não exige conhecimento sobre os sistemas avançados, e uma opção semiautomática de batalha, uma espécie de assistente. 

Como em qualquer RPG que se preze, aqui o grind se faz necessário, mas não é nenhum martírio também. Pelo contrário: o combate é gostoso o suficiente para encorajar a repetição, e as criaturas espalhadas pelo mundo, sinalizadas com cores para representar diferentes níveis de raridade, caracterizam ótimas oportunidades de testar novas combinações de ars. Farmar pontos, subir de nível e desbloquear habilidades são tarefas cruciais para vencer chefes de área e lordes, que aos poucos vão se revelando como os principais desafios da jornada. 

A meu ver, o maior mérito do combate de Tales of Arise é a sua capacidade de abrir portas para quem não tem familiaridade com o gênero, sem desamparar seus admiradores de longa data que acompanham os jogos há mais de 25 anos, desde o lançamento de Tales of Phantasia no Super Nintendo. Arise pode ser fácil ou masoquista, mas quem decide isso é você. 

Roupagem de AAA e boas adições à estrutura que conhecemos

Quando foi anunciado na apresentação da Microsoft na E3 2019, Tales of Arise já demonstrou ser um projeto de escopo maior, com valores altos de produção em relação a outros nomes do mesmo balaio. É interessante refletir sobre isso, já que quase nenhum JRPG atual tem roupagem de AAA e coragem de apostar todas as suas fichas no ocidente.  

Arise, por sua vez, é um título que deixa transparecer sua pompa logo nos primeiros minutos de gameplay, seja pelo visual colorido, com modelos detalhados e cenários em aquarela, seja pela concepção ambiciosa de mundo ou pela trilha sonora com arranjos orquestrados impressionantes. Inclusive este é o primeiro título da série concebido com o motor gráfico Unreal Engine 4, o que explica a transição dos gráficos obsoletos de antes para essa maravilhosa estética que vemos hoje. Dar uma repaginada no visual é sempre bom, né? Já aproveito o ensejo para classificá-lo como um um dos games mais bonitos desse início de geração, ainda que seja multiplataforma. 

A começar pelos mapas, por exemplo, que são maiores e mais variados. O jogador é guiado pelo senso de descoberta, já que não há ambientes reciclados aqui. De florestas obscuras a passagens subterrâneas, dos pântanos às zonas litorâneas, os cenários mudam num timing perfeito, antes de nossos olhos ficarem saturados.

Quase no mesmo molde de seus antecessores, Arise não se passa em mundo aberto, mas as regiões que conectam as cidades principais são enormes e promovem diversos elementos de interação além de NPCs e missões secundárias. Os pontos brilhantes que lotam o mapa irão recompensá-lo com ingredientes e minério, sem contar os baús de tesouro que fornecem armas e equipamentos melhores. O loot nunca é redundante, e a exploração é sempre recompensadora. 

O sistema de progressão é viciante e não fica limitado a pontos de experiência. Em linhas gerais, você pode melhorar os personagens por todos os meios possíveis: equipando armas, armaduras e acessórios, gastando Pontos de Habilidade (PH) no painel de skills, desbloqueando novas ars e carregando artefatos que conferem efeitos especiais. Há uma boa sensação de progresso em absolutamente tudo que você faz.

É possível entregar os componentes adquiridos a um ferreiro para forjar e aperfeiçoar itens, assim como criar animais em um rancho para obter ingredientes valiosos, preparar receitas recém-descobertas a fim de aumentar seus status e encontrar Corujas Dahnianas (que seriam os colecionáveis) em pontos escondidos do mapa para ser recompensado por isso. Há até um divertido e pacífico microgame de pesca para robustecer o pacote de atividades.

Mais do que evoluir seus personagens para o combate, perambular sem rumo pelo mundo de Dahna é tão necessário e divertido quanto se sentir mais poderoso. Mesmo quando você estiver fora das lutas e ausente da história, tenha em mente que sempre haverá muita coisa para fazer neste mundo. 

A propósito, foi difícil encontrar ressalvas durante a minha longa peregrinação por Dahna, porém eu não precisei me esforçar muito para reconhecer que a navegação é uma delas. Isso porque o mapa muitas vezes deixa de apontar o seu próximo destino, além de limitar o uso da viagem rápida a certas regiões, em trechos específicos, forçando o sexteto de heróis a queimar calorias em extensas caminhadas. O jogo poderia tentar não te limitar quando você realmente precisa mudar de área.

Ainda sobre as ressalvas, confesso que fiquei um pouco decepcionado com os recursos do DualSense disponíveis até então. Primeiro que não há resposta do controle para todas as ações que você executa, então o ato de correr, por exemplo, o mais básico, acaba não refletindo na ponta dos dedos. Já as vibrações em pontos específicos só acontecem durante os combates, mas nada que o controle do Xbox Series X/S não saiba fazer. No fim, as versões de nova geração só valem por terem telas de carregamentos mais rápidas e um modo de desempenho – a melhor escolha –, que coloca o jogo para rodar em estáveis 60 fps, ainda que não atinja o 4K nativo. 

Veredito

Respeitando as raízes da franquia, Tales of Arise é um JRPG amadurecido, com combate e ritmo harmoniosos, cuja principal qualidade é não deixar o seu nível de empolgação oscilar. Trata-se de um jogo inesquecível, que eleva a barra de exigência de qualquer seguidor do gênero e pavimenta o terreno para a chegada de novos fãs. O triste é saber que não há como apagar essa experiência incrível da memória para revivê-la do zero, como se fosse a primeira vez. 

Tales of Arise foi gentilmente cedido pela Bandai Namco para a realização desta análise

Nota do voxel: 95

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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