Pesquisa aponta que chimpanzés também passam pela menopausa
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Uma pesquisa recente, publicada no periódico Science em 26 de outubro, identificou a menopausa pela primeira vez em primatas não humanos. O estudo revela que fêmeas de um grupo de chimpanzés da espécie Pan troglodytes experimentam uma interrupção da ovulação e vivenciam anos de vida pós-reprodutiva.
Tobias Deschner, primatologista da Universidade de Osnabrück, na Alemanha, comentou que muitas espécies se reproduzem até o fim de suas vidas. Até agora, apenas cinco outros mamíferos são conhecidos por viverem além da idade reprodutiva: orcas, baleias-piloto de barbatanas curtas, narvais, baleias beluga e falsas baleias assassinas.
Para realizar o estudo, foram analisados 185 chimpanzés da comunidade Ngogo no Parque Nacional Kibale, em Uganda, ao longo do período de 1995 a 2016. O estudo revelou que aproximadamente 20% da vida das fêmeas Ngogo corresponde ao período pós-reprodutivo, uma descoberta surpreendente para os cientistas.
De acordo com o portal Galileu, embora a existência de "fêmeas pós-reprodutivas" não seja nova, anteriormente acreditava-se que a diminuição da fertilidade poderia estar relacionada a doenças, em vez de ser um processo fisiológico semelhante ao humano.
Análises
Coletas de urina indicaram uma diminuição nos níveis de estrogênios e progestinas, juntamente com um aumento nos hormônios folículo-estimulante e luteinizante, ambos responsáveis pelo controle da ovulação e renovação do revestimento uterino após a menstruação.
Os dados demonstram que muitas fêmeas continuaram a viver após a reprodução, algumas até os 60 anos. Em geral, o número de nascimentos diminuiu após os 30 anos de idade e cessou aos 50. No entanto, ainda não está claro se o caso das fêmeas Ngogo é excepcional.
Kevin Langergraber, primatologista da Universidade Estadual do Arizona em Tempe, nos Estados Unidos, observou que será necessário um longo período de estudo em diferentes locais para determinar se a vida além da reprodução é a norma ou uma anomalia entre os chimpanzés.
Hipóteses
Em seres humanos, a "hipótese da avó" sugere que a existência de uma fase pós-reprodutiva tem a finalidade de encorajar mulheres mais velhas a auxiliarem suas filhas na criação dos netos, aumentando assim o legado reprodutivo. No entanto, no caso das chimpanzés, as fêmeas jovens deixam o grupo familiar para acasalarem, separando-se de suas mães.
Com base nisso, os cientistas exploraram algumas teorias. Uma delas sugere o conflito reprodutivo: fêmeas mais velhas deixariam de reproduzir para evitar competição com as jovens, que eventualmente poderiam se tornar parentes próximas.
Outra teoria sugere que a interrupção da reprodução poderia estar relacionada às mitocôndrias. À medida que as fêmeas envelhecem, o número de óvulos com mitocôndrias de qualidade inferior diminui, e essas mitocôndrias são especialmente cruciais para as células cerebrais dos filhotes. Uma vez que os machos não transmitem suas mitocôndrias, sua capacidade reprodutiva não seria afetada.
Em outro estudo publicado no mesmo dia na revista científica Cell, as biólogas Angela Gonçalves e Ivana Winkler, do Centro Alemão de Pesquisa sobre Câncer em Heidelberg, na Alemanha, indicam que ainda não está claro se a menopausa é causada pelos ovários ou pela glândula pituitária, que produz hormônios.
Elas observam que fêmeas de animais em zoológicos, laboratórios e outros ambientes de cativeiro são levadas a uma fase estéril da vida, e o mesmo pode ocorrer com as chimpanzés de Ngogo, que são mantidas em condições protegidas. A fonte destaca que para obter conclusões mais sólidas, seria necessário estudar populações de chimpanzés selvagens que vivem em ambientes naturais semelhantes àqueles onde evoluíram.
+ Confira aqui o estudo completo.