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Entenda o que foi a operação Tempestade no Deserto, uma das mais importantes da Guerra do Golfo
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Entenda o que foi a operação Tempestade no Deserto, uma das mais importantes da Guerra do Golfo

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Aventuras Na História
04/08/2021 16h59
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O plano iraquiano de invadir o Kuwait foi suficiente para os Estados Unidos planejarem um guerra com força máxima, utilizando meios aéreos, marítmos e em solo com tecnologias de ponta. Com isso, surgia o projeto 'Tempestade no Deserto'. O título sugestivo relacionava não apenas a interferência destes veículos de guerra no local, mas previa a chuva de ataques norte-americanos contra as tropas iraquianas.

Se por um lado Saddam Hussein tentava o domínio do Golfo Pérsico e chamava o presidente dos Estados Unidos de 'demônio', como noticiou o Jornal Nacional na época, as forças aliadas lideradas pelo país do presidente George Bush contava com o secretário de defesa, Dick Cheney, e o chefe do estado-maior, Colin Powell, formulando o plano de ação ao lado do general Norman Schwarzkopf, meticulosamente.

Dividida em quatro fases, a Tempestade no Deserto foi idealizada com ataques coordenados por ar, mar e terra. A estratégia da primeira fase havia sido usada na II Guerra Mundial: atacar o sistema nervoso, a infra-estrutura do governo iraquiano. As armas seriam apontadas contra as instalações das lideranças militares e os sistemas de comunicação e eletricidade de Bagdá, além dos radares iraquianos.

Na segunda etapa, a Coalizão atacaria a força aérea iraquiana no Kuwait e pontes, portos e estradas de ferro no Iraque. Na terceira, os alvos principais seriam a Guarda Republicana de Saddam e o que restasse do armamento inimigo. Na quarta e última fase da Tempestade no Deserto, um ataque por terra expulsaria os invasores do Kuwait.

Com essa estratégia, os americanos seguiram para o golfo. Pelos cálculos de seu governo, apenas a campanha aérea, chamada de Trovão Instantâneo (Instant Thunder), seria suficiente para expulsar o exército de Saddam, de 550 mil homens, do território vizinho.

Para facilitar a locomoção, a Arábia Saudita serviu de base para grande parte dos mais de 600 mil militares dos países da Coalizão (franceses, ingleses, sauditas e holandeses, entre outros, também entraram na guerra).

Só os Estados Unidos mandaram cerca de 500 mil. No golfo de Omã, ficavam as bases marítimas americanas. As primeiras tropas, com 18 mil homens, chegaram em 20 navios anfíbios ainda no início da Operação Escudo do Deserto (Desert Shield), que precedeu a Tempestade no Deserto. Um mês depois da invasão do Kuwait, os fuzileiros navais já estavam à espera de um sinal para começar a bombardear o exército iraquiano.

Um avião americano stealth F-117 Nighthawk / Crédito: Wikimedia Commons

 

Aplicação da ofensiva

No dia 17 de janeiro de 1991, às 2h38m (horário de Bagdá), a guerra começou, como nos planos de Norman Schwarzkopf: com helicópteros Apache destruindo dois radares a sudoeste da capital iraquiana. Cinco aviões F-117 atacaram as torres de energia, os centros de comunicação e o palácio presidencial. Sete navios no golfo Pérsico e no mar Vermelho lançaram mísseis Tomahawk contra Bagdá. Apenas um piloto da Coalizão morreu na primeira noite contra centenas de iraquianos.

A Trovão Instantâneo, a campanha aérea, tinha 84 alvos estratégicos a ser combatidos na primeira semana. Trinta e cinco deles estavam no centro da capital. Se todos fossem destruídos, Saddam Hussein não teria nenhum controle sobre a cidade, seu exército seria expulso do Kuwait e o poder do partido do ditador, o Baath, estaria com os dias terminados.

A primeira onda de ataques da Coalizão explodiu o sistema de comunicação de Bagdá. Grande parte das instalações elétricas também foi atingida, deixando a cidade no breu. Dez bombas e 33 mísseis alcançaram a capital do Iraque, mas nenhum deles chegou perto do ditador. Apesar de George Bush não admitir, Saddam era o alvo principal.

“O líder iraquiano é o foco de todos os nossos esforços”, disse, numa entrevista ao jornal Washington Post, Michael Dugan, general da força aérea americana, 1 mês depois de o Iraque invadir o Kuwait. Dugan foi afastado do cargo de chefe do estado-maior da força aérea e obrigado a se aposentar por causa da declaração.

Na segunda onda de ataques, na madrugada do dia 18, mais de 80 aeronaves com tecnologia de visão noturna entraram em ação. Três divisões da Guarda Republicana do Iraque ficaram em frangalhos. O mau tempo provocou inúmeras mudanças nos planos da Coalizão. Metade da escala aérea precisou ser modificada por causa de neblina, chuva e tempestade de areia.

Em Bagdá, a força aérea americana derrubou 3 pontes na mesma semana. Os militares acreditavam que os iraquianos tinham colocado cabos de comunicação debaixo das pontes. Os caças F-117 atacaram outras 4 delas. Dois aviões foram perdidos no último ataque por erro dos pilotos. Na queda, atingiram prédios civis da capital iraquiana, matando, segundo o governo local, 135 pessoas.

Quando os militares da Coalizão achavam que haviam descoberto o esconderijo de Saddam Hussein, ele já partira para outro lugar. Dezenas de alvos relacionados com o presidente iraquiano foram atacados nos primeiros 3 dias de guerra. Para tentar evitar os mísseis, Saddam passou a colocar armamentos e instalações militares perto de civis. Ele apostava que os inimigos não atacariam, preocupados com a repercussão caso os ataques matassem inocentes.

Restos de um míssil iraquiano / Crédito: Wikimedia Commons

 

Estratégia no caos

Saddam errou. A Coalizão continuou atacando seus alvos e, entre poupar militares e matar civis, ficou com a segunda opção. Pelo menos até o ataque ao abrigo antiaéreo Amiriyah, na manhã de 13 de fevereiro. Imagens de satélites tinham colocado o abrigo na lista de alvos. Carros militares estacionados nas redondezas levantaram a suspeita de que o local, na parte oeste de Bagdá, estaria sendo usado por líderes iraquianos. O ataque foi feito por dois caças F-117.

De fato, o primeiro andar do Amiriyah virara um pequeno centro de comunicação militar. Mas o segundo estava sendo usado por centenas de civis para se proteger dos ataques noturnos. Cerca de 300 pessoas morreram – a maioria, mulheres e crianças de famílias da elite ou do governo. O exército americano prometeu cautela na escolha dos alvos.

Saddam também errou ao mandar atacar Al Khafji, na Arábia Saudita, no dia 29 de janeiro. A 13 km ao sul da fronteira com o Iraque, a cidade foi dominada pelos iraquianos – por apenas um dia. Homens do exército saudita e ataques aéreos de aviões americanos expulsaram na manhã seguinte os homens de Saddam.

Ao ver o exército iraquiano recuado, George Bush deu um ultimato para ele deixar o Kuwait no dia 23 de fevereiro. Caso contrário, os países da Coalizão começariam a Operação Espada do Deserto (Desert Sabre), nome dado ao ataque por terra da Tempestade no Deserto. O ditador não se rendeu.

A campanha por terra começou então na fronteira da Arábia Saudita com o Iraque e o Kuwait. Os fuzileiros navais entraram no território iraquiano às 4h (de Bagdá) do dia 24. As Forças Especiais dos Estados Unidos seguiram para a Cidade do Kuwait. Pelo caminho, os militares da Coalizão prenderam desertores do exército de Saddam.

No segundo dia do ataque, 1 míssil Scud atingiu a base americana de Dhahran, na Arábia Saudita, matando 28 militares. O terceiro, em 26 de fevereiro, foi marcado pela destruição de tanques da Guarda Republicana do Iraque. Em toda a guerra, foram destruídos quase 4 mil tanques iraquianos, contra 15 americanos. As baixas e os estragos no exército iraquiano foram decisivos para que, antes do anoitecer, o Iraque anunciasse que deixaria o Kuwait.

Saddam Houssein em 1983 / Crédito: Getty Images

 

No quarto dia, as tropas de Saddam fugiram em direção à cidade iraquiana de Basra. Um derradeiro bombardeio contra a fila de tanques e caminhões lotados de militares deixou milhares de mortos pelo caminho. O rastro de sangue foi chamado de Estrada da Morte. A estimativa é de que morreram 10 mil iraquianos na campanha por terra. Após esse último ataque, o presidente George Bush anunciou um cessar-fogo em 28 de fevereiro. A Tempestade no Deserto terminou 100 horas depois do início do ataque por terra.

A estréia militar do GPS

Para se localizar no meio das tempestades de areia no deserto, os militares americanos usaram um instrumento de navegação por satélite que era uma novidade até então: o GPS (Global Positioning System). A tecnologia começou a ser desenvolvida 18 anos antes da Guerra do Golfo pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Funciona assim: com o auxílio de satélites Navstar, receptores na terra calculam a latitude, a longitude e a altitude e as informações são transmitidas pelo GPS.

A margem de erro do instrumento é bem pequena: apenas 30 m. Em um relatório sobre o conflito, feito pelo Departamento de Defesa para o Congresso dos Estados Unidos em 1992, o GPS foi considerado fundamental na campanha por terra da Coalizão. Depois da guerra, o exército passou a usá-lo em todos os seus tanques. Quatro anos depois da guerra, a tecnologia foi liberada para o uso de civis e passou a ser comercializada pelo mundo afora.

Medo e paranóia em Israel

Quando o Iraque invadiu o Kuwait, o governo de Israel sabia que o país seria o próximo alvo de Saddam Hussein. O ditador atacaria os israelenses para ganhar apoio de países árabes e ameaçou: se os Estados Unidos entrassem na história para defender o Kuwait, ele lançaria bombas e mísseis sobre cidades israelenses. Dois anos antes, o ditador iraquiano tinha matado 5 mil curdos com armas químicas. O medo desse tipo de ataque se alastrou então por Israel.

O governo aconselhava o povo a estocar comida e água. Máscaras de gás foram distribuídas para a população. Ao ouvir qualquer sirene, anunciando o perigo de ataque, os israelenses tratavam de se proteger com elas. No dia 17 de janeiro, quando a Coalizão começou a atacar, houve histeria coletiva em Israel. Estradas engarrafaram e aeroportos ficaram lotados de gente tentando deixar o país.

No dia seguinte, mísseis Scud atingiram Telavive. Ao todo, 40 mísseis foram lançados contra Israel na Guerra do Golfo, ferindo 161 pessoas e matando 3. Não houve ataque com armas químicas, biológicas ou nucleares.


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