A história da crucificação, a punição mais brutal da Roma Antiga
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A cruz é um símbolo quase onipresente no Ocidente, por causa de sua associação com o cristianismo. Um cidadão brasileiro do século 21 talvez nem imagine o tamanho do tabu que isso representava na Roma Antiga. O filósofo romano Cícero, por exemplo, considerava a crucificação a punição "mais cruel e terrível" que existia, dizendo que a palavra "cruz" deveria ficar "longe dos pensamentos de um cidadão romano".
Talvez ajudasse a manter a ideia da crucificação distante que esse método de execução extremo era raramente utilizado em cidadãos romanos. Como explica a pesquisadora Louise Cilliers em entrevista à BBC News, a morte por cruz era considerada a forma mais brutal de executar alguém na antiguidade, na frente de cremação e decapitação.
O crucificado podia morrer dias após ser preso à cruz, virando um espetáculo que todo transeunte poderia observar. A causa de morte seria um misto de sufocamento, perda de sangue, falência de diversos órgãos, desidratação e muito outros possíveis problemas. Talvez o homem mais famoso a morrer crucificado,Jesus foi, segundo os relatos bíblicos, torturado e espancado antes de sofrer a cruz em si, uma penalidade romana chamada de "flagelação".
Normalmente ligada ao Império Romano, essa prática violenta nasce bem antes, com outro grande império: o dos assírios.
Origens
O império assírio se tornou uma grande civilização entre 900 e 600 a.C. Eles eram conhecidos por seus avanços tecnológicos, suas riquezas e, segundo a BBC, sua crueldade na guerra. O papel do inimigo e, especialmente, do castigo que esse oponente recebe, era mais importante na cultura assíria do que em outras sociedades do Oriente Médio da época, como explica a historiadora Eva Miller.
A crucificação provavelmente se originou com eles e com os babilônios, passando a ser usada de maneira sistemática pelos persas a partir do século 6 a.C. Esses primórdios da técnica de tortura mostravam um misto entre empalação e morte por cruz. Ao invés de um suporte parecido com o que conhecemos da história de Jesus, os persas usavam árvores e postes.
Alexandre, o Grande importou a técnica de execução brutal, levando-a aos países do Mediterrâneo oriental que ele dominou. Louise Cilliers afirma que Alexandre e seu exército crucificaram cerca de 2 mil pessoas quando invadiram a cidade de Tiro, que continua a ser habitada ainda hoje, no Líbano. O exército do conquistador levou a técnica de tortura para o Egito, a Síria e a cidade de Cartago.
Romanos
Os romanos batalharam contra os cartaginenses durante mais de um século nas Guerras Púnicas, entrando em contato com a técnica da crucificação e aperfeiçoando-a por mais de cinco séculos. Cilliers diz que, onde as legiões romanas iam, as cruzes apareciam. Assim, eles e os povos que eram conquistados por eles passaram a usar a crucificação para executar e torturar os piores inimigos da sociedade, principalmente escravos e estrangeiros.
As cruzes podiam ter formato de "T" ou "X", e os condenados eram geralmente obrigados a carregar a parte horizontal da estrutura de madeira até o local de sua execução.
Os crucificados tinham as roupas removidas e os braços ou amarrados às traves, ou pregados a elas, com pregos nos pulsos. A parte horizontal da cruz era, então, afixada ao poste vertical já fincado na terra. Quando o condenado era levantado, seus pés passavam pelo mesmo suplício que seus braços.
O professor Diego Pérez Gondar fala, em entrevista à BBC, que a dor de ter os pés trespassados por pregos era inimaginável, com muitas terminações nervosas sendo tocadas e perda de sangue em excesso. Para acelerar a morte, que poderia levar dias, os soldados batiam nos joelhos e quebravam as pernas do condenado, que não conseguia se levantar para respirar e morria asfixiado.
A crucificação foi abolida do Império Romano pelo imperador Constantino I, no século 4 d.C., que foi o primeiro césar a professar a religião do mais famoso crucificado,Jesus. Assim, um passo importante se dava na direção da cristianização do Império Romano.