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A história das crianças sequestradas por militares durante a ditadura militar
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A história das crianças sequestradas por militares durante a ditadura militar

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Aventuras Na História
17/03/2025 22h00
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©Arquivo Público do Esado de São Paulo
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O dia 31 de março de 1964 ficará marcado para sempre na história brasileira. Após a deposição do presidente Jânio Quadros, os militares deram um Golpe de Estado, colocando um fim à chamada Quarta República. 

Assim, os Anos de Chumbo perduraram por longos 21 anos, terminando apenas com a redemocratização do Brasil, iniciada em 15 de março de 1985.

Durante o auge da ditadura militar, aos menos 19 crianças foram sequestradas e adotadas ilegalmente por famílias de militares; ou de pessoas ligadas às Forças Armadas. Um movimento que depois foi adotado por outros regimes militares na América do Sul durante as décadas de 70 e 80. 

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Capa do livro 'Cativeiro sem Fim' - Divulgação

As histórias destas vítimas são contadas pelo jornalista Eduardo Reina no livro-reportagem "Cativeiro sem Fim" (Ed. Alameda), lançado em 2019. Em entrevista ao site Aventuras na História, Reina explica que as histórias de sequestro e apropriação aconteciam contra filhos e filhas de militantes de esquerda, que lutavam pelo fim da ditadura e pelo reestabelecimento da democracia no Brasil. 

Infância roubada 

O escritor contextualiza que essas crianças não eram detidas pelos militares, mas sim sequestradas por eles. O pesquisador também aponta que os militares tinham uma predileção por seus alvos. 

"Dos 19 casos citados no livro, 11 estão ligados diretamente à guerrilha do Araguaia. São filhos de guerrilheiros ou filhos de camponeses que apoiaram a luta dos guerrilheiros", informa.

Apesar da maioria dos casos terem ligação com o movimento armado que existiu na região amazônica do país, Reina ressalta que existem casos ocorridos em outros estados brasileiros, como o de Rosângela Serra Paraná, detalhado em 'Cativeiro sem Fim'. 

"Ela sequestrada e apropriada por uma família de militares no Rio de Janeiro. O pai apropriador era motorista — ajudante de ordens — do general Ernesto Geisel. Há ainda o sequestro de 5 crianças indígenas no Mato Grosso, que habitavam uma aldeia situada em terras doadas para usineiros do agronegócio".

O autor explica que o objetivo dos militares era o "domínio total do inimigo". 

"Os militantes de esquerda eram considerados inimigos da pátria. Além de perseguir, prender, torturar, matar ou desaparecer essas pessoas, a estratégia dos militares era exterminar todos que estavam no entorno delas. Daí o sequestro de seus filhos, para que esses descendentes não pudessem difundir a ideologia dos pais", destaca.  

Assim, eles sequestraram bebês, crianças e adolescentes. "Muitos foram parar em família de militares ou em famílias ligadas a militares. Outros desapareceram", conta Eduardo

Para a produção de seu livro-reportagem, Eduardo Reina viajou mais de 20 mil quilômetros pelo Brasil em busca das pessoas, documentos e informações sobre cada um dos casos. "Dos 19 casos relatados no livro, eu localizei cinco em fase adulta", conta. 

Foi um trabalho delicado. Primeiro o de localizar essas pessoas, depois foi necessário ganhar a confiança delas, para que pudessem contar o que passaram. Um trabalho minucioso, de muito cuidado e respeito. Tanto que uma das vítimas pediu sigilo sobre seu nome, o que foi respeitado", finaliza. 

Passado e presente 

Apesar das quatro décadas do fim da ditadura brasileira, o assunto sobre o sequestro de crianças por militares é pouco explorado atualmente. Os principais dados sobre os casos são os registrados por Eduardo em sua obra. 

"Antes do lançamento do livro, entreguei toda documentação levantada, nomes, endereços, certidões, etc., à Procuradoria Geral da República (do Ministério Público Federal). Foi aberta inicialmente uma apuração preliminar e depois foram iniciados cinco procedimentos nas regiões onde ocorreram esses crimes". 

No entanto, durante a gestão de Jair Bolsonaro, o pesquisador aponta que os casos ficaram parados. "Agora, começa a se movimentar novamente. A Polícia Federal iniciou coleta de material para exames de DNA dessas vítimas. Mas é um longo caminho, e os casos exigem rapidez, pois, a idade das vítimas avança. Está tudo no começo ainda".

Devido sua importância, o livro 'Cativeiro em Fim' ganhou uma exposição no Museu das Memórias (in)Possíveis — que pode ser acessado online, clicando aqui! 

A mostra apresenta muitas outras informações sobre essas pessoas: desde entrevistas até vídeos, fotos e documentos. A 'Exposição Cativeiro sem Fim' está classificada no prêmio "Memórias Reveladas" 2024/2025, da Biblioteca Nacional.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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