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Ainda Estou Aqui: o coronel que relatou o destino do corpo de Rubens Paiva
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Ainda Estou Aqui: o coronel que relatou o destino do corpo de Rubens Paiva

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Aventuras Na História
11/02/2025 22h00
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©Divulgação/ Secretaria de Cultura de SP
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Rubens Paiva foi levado de sua casa, no Rio de Janeiro, por agentes da ditadura em 20 de janeiro de 1971. O ex-deputado federal cassado foi encaminhado para depor no DOI-Codi, na Barra da Tijuca. Depois deste dia, jamais foi visto com vida novamente. 

Rubens Paiva se tornou um dos casos mais emblemáticos de desaparecidos durante os Anos de Chumbo, o que levou sua esposa, Eunice Paiva, passar toda sua vida lutando por Justiça e em busca de respostas, como retratado no filme 'Ainda Estou Aqui'. 

A primeira 'conquista' da Família Paiva só ocorreu mais de duas décadas depois, em 1996, quando foi emitido a certidão de óbito de Rubens. Já em 2014, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) conseguiu estabelecer que Rubens Paiva foi torturado e morto pelos militares — em algum momento entre os dias 20 e 22 de fevereiro do ano de seu desaparecimento. 

Parte fundamental para essa revelação aconteceu com base nos depoimentos do ex-tenente-coronel Paulo Malhães, que, na época, confidenciou aos jornais cariocas Dia e O Globo que recebeu ordens do general José Antônio Nogueira Belham para ocultar o cadáver de Rubens Paiva na Praia do Recreio, zona oeste do Rio, em 1973.

Um mês após seu chocante depoimento, porém, Paulo Malhães foi morto em sua casa. Encontrado com marcas de asfixia em seu rosto e pescoço; em um episódio repleto de mistérios até hoje. Relembre! 

Relatos dos porões da Ditadura

Em 2014, o depoimento do ex-coronel Paulo Malhães marcou a Comissão da Verdade. Na ocasião, o ex-militar deu detalhes das técnicas que eram usadas para a ocultação de cadáveres de presos políticos que passavam por prisões clandestinas, como a Casa da Morte, em Petrópolis (RJ). 

"Quando o senhor vai se desfazer de um corpo, quais são as partes que podem determinar quem é a pessoa? Arcada dentária, digitais e só", respondeu Malhães a José Carlos Dias, membro da CNV.

Quebrava os dentes. As mãos, não [eram cortadas]. Cortavam-se os dedos. E aí se desfazia do corpo… Eu não era tão especialista assim, existia gente mais especialista do que eu", prosseguiu. 

O ex-coronel também explicou, conforme repercutido em matéria do jornal O Dia, que muitos guerrilheiros foram assassinados por, após serem presos, não concordarem em atuarem como agentes infiltrados em suas organizações de esquerda. 

Sobre as mutilações, Malhães revelou que elas realizadas em quartinhos nestas prisões clandestinas. No entanto, não soube afirmar quantas pessoas ele matou: "É impossível determinar quantos". 

Paulo Malhães apontou que não possui arrependimentos pelos crimes que cometeu, alegando: "Eu acho que eu cumpri o meu dever". 

O caso Rubens Paiva

Anteriormente ao seu depoimento à CNV, Paulo Malhães havia confidenciado aos jornais cariocas Dia e O Globo que foi um dos comandantes da missão responsável por sumir com a ossada de Rubens Paiva — desenterrando-o de uma praia no Rio e lançando seu corpo no mar ou num rio (deixando a questão em aberto). Mas à Comissão, ele voltou atrás, recorda a BBC. 

Ainda assim, durante seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade, o ex-coronel Paulo Malhães falou sobre o desaparecimento da ossada do ex-deputado cassado Rubens Paiva. 

Rubens Paiva, do PTB - Divulgação/Memórias da Ditadura

Malhães afirmou que havia recebido uma missão do Centro de Informações do Exército, mas que não conseguiu cumpri-la, porque havia sido acionado para outra ação. Ainda assim, afirmou que os restos mortais de Rubens Paiva eram "uma massa morta, enterrada e desenterrada". 

Não tinha mais nada. Nem sei se aquela massa era realmente dele".

Tremendo pela vida

Pelo seu discurso à CNV, o ex-coronel sabia que corria riscos. Conforme aponta o Carta Capital, um integrante da Comissão da Verdade do Rio relatou que Malhães deixou claro que poderia sofrer retaliações

Um desses exemplos ocorreu quando ele foi questionado sobre os nomes de militantes infiltrados aliados ao regime ou de agentes envolvidos na repressão. Como resposta, ele alegava "ter medo" e apontava que não podia entregá-los, pois sabia estar "correndo risco de vida". 

As falas de Malhães, cheias de horror e choque, mas também de muita frieza, ajudaram no indiciamento de José Antônio Nogueira Belham, general responsável por comandar o Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do Rio de Janeiro; onde Rubens Paiva foi levado.

Belham é um dos cinco militares indiciados pelos caso (saiba mais quem são os outros e o papel de cada um no caso Rubens Paiva clicando aqui!). 

O medo de Paulo Malhães se concretizou cerca de um mês após prestar depoimento à CNV. Afinal, no dia 24 de abril, ele foi encontrado morto em sua casa, com marcas de asfixia em seu rosto e pescoço. Em um crime até hoje cercado de mistérios. 

A morte do delator

Conforme relatado pelo O Dia, o assassinato de Paulo Malhães foi registrado na tarde da quinta-feira, dia 23 de abril, quando três homens invadiram seu sítio no bairro de Marapicu, no interior de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. 

Segundo informações da Delegacia de Homicídios (DH), as imagens de segurança do local deram conta de que Malhães, sua esposa e o caseiro do local foram amarrados em cômodos separados e ficaram cerca de nove horas sob poder dos invasores. 

Paulo Malhães - ALESP

As investigações apontam que a ação começou às 13 horas e terminou por volta das 22 horas. A DH esclareceu que Malhães não tinha marcas de tiro em seu corpo. Segundo profissionais que realizaram a perícia no local, ele morreu asfixiado com um travesseiro

Além disso, os criminosos levaram uma submetralhadora 9 mm, uma pistola 9 mm, um revólver calibre 38, alguns rifles e duas carabinas. A suspeita é que a morte se tratou de uma 'queima de arquivo', relata o portal Memórias da Ditadura. Desta forma, a CNV e a ONU pediram para que o caso fosse investigado. 

Qualquer profissional ligado à investigação vai trabalhar com essa hipótese [queima de arquivo]. Pode ter sido assalto, mas fica difícil acreditar nisso uma vez que ele foi morto por asfixia quando andava de cadeira de rodas. É uma morte extremamente suspeita", relatou à época Wadih Damous, presidente da CNV do Rio, recorda a Carta Capital. 

Aquela altura, Paulo Malhães tinha 76 anos e vivia com sua mulher, Cristina Batista Malhães. Devido seu estado de saúde, ele se locomovia com a ajuda de uma cadeira de rodas

Por fim, o Memória da Ditadura aponta que as investigações afirmaram que o caseiro Rogério Pires teria planejado a invasão com a ajuda de dois amigos. Mas ele negou a ação em depoimento à Comissão de Direitos Humanos do Senado e à Comissão Estadual da Verdade do Rio. 

De qualquer forma, o atestado de óbito de Paulo Malhães consta que ele faleceu devido a um edema pulmonar, isquemia de miocárdio e miocardiopatia hipertrófica.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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