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Alvo de depredações, estátua de Iemanjá na Lagoa da Pampulha conta com portal protetor
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Alvo de depredações, estátua de Iemanjá na Lagoa da Pampulha conta com portal protetor

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Aventuras Na História
04/07/2023 21h36
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©Tavinho Moura
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Um marco na cidade de Belo Horizonte, o Portal da Memória, monumento elaborado pelo artista plástico mineiro Jorge dos Anjos, protege a imagem de Iemanjá localizada na Lagoa da Pampulha, que, por muitas vezes, foi alvo de depredações. Recentemente, essa construção tão importante para a capital mineira inspirou um livro organizado por Rita Lages Rodrigues, historiadora e professora de História e Teoria da Arte da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Maria Tereza Dantas Moura, conservadora-restauradora e mestre em Patrimônio Cultural pela UFMG. 

O livro "Portal da Memória: A poética construtiva de Jorge dos Anjos na paisagem da cidade" é fruto de um trabalho de pesquisa que começou na iniciação científica de MariaTereza. Naquela ocasião, Rita, que era sua mentora, pediu para que sua aluna escolhesse um monumento urbano para trabalhar como objeto de estudo. A partir disso, com uma abundância de material colhido para o projeto acadêmico, o que a princípio seria somente uma pesquisa, se tornou uma obra que retrata os inúmeros significados do monumento. 

O Portal da Memória, construído com o intuito de homenagear às matrizes culturais africanas de Belo Horizonte, foi inaugurado no ano de 2007, e protege a imagem de Iemanjá, presente na Lagoa da Pampulha desde 1982, ano instalada na localidade. A escultura da Orixá foi por inúmeras vezes alvo de depredações, o que fez com que a associação existente entre os terreiros de Candomblé e de Umbanda da capital mineira exigisse uma solução da prefeitura. 

Para resolver o problema, além de colocar a imagem de Iemanjá alguns metros para dentro da lagoa, a prefeitura de Belo Horizonte cogitou o nome de JorgedosAnjos, que, com exclusividade para o site Aventuras na História, comentou uma das ideias consideradas naquele instante.

"Na época, eles [a prefeitura] pensaram em tirar a imagem, e eu disse que não se podia tirar a imagem do lugar, porque era de veneração, ali era um lugar de cerimônia, da festa da Orixá. E o projeto nasceu daí, da demanda e de uma necessidade de proteger aquele lugar e aquela imagem de Iemanjá", explicou Jorge.

O artista plástico, que conta com outras obras espalhadas por Belo Horizonte, como o monumento “Zumbi Liberdade e Resistência — 300 anos”, que faz referência ao quilombola brasileiro Zumbi dos Palmares, ressaltou o que o Portal da Memória representa:

Essa obra não fala somente de religiosidade, ela fala de cultura, de respeito e conversa com a lagoa, com as pessoas que param para fotografar.”

Para a historiadora Rita Lages Rodrigues, os ataques que a imagem da Pampulha é alvo, se relaciona, de certa forma, com a intolerância às religiões de matrizes africanas, o que pode criar obstáculos quanto a prática dessas religiões. A professora também relata que, algumas pessoas que praticam depredação em monumentos, muitas vezes fazem isso de maneira inconsciente.

"Nesse ponto das depredações, a gente tem que compreender o porquê desses atos, que muitas vezes acontecem a partir de pessoas que estão afastados dessa dimensão da cidadania, ou muitas vezes são pessoas que estão ali questionando inconscientemente determinados espaços", afirma Rita

Quanto aos ataques de intolerância religiosa, a docente da UFMG destacou também sobre a importância da variedade de religiões em nossa sociedade:

A convivência dentro do espaço público, dentro do espaço urbano, é uma convivência com aquilo que é comum e com aquilo que é diferente da gente. Eu acho que se a gente for para um lado autoritário, absoluto, essa lógica de coexistência do diferente corre o risco de ser anulada".

Seguindo a mesma premissa, Jorge comenta que, ao produzir esculturas para espaços públicos, por conta do risco de ataques, elabora as obras com aço: "Quando eu penso a escultura para os espaços públicos, o aço é o material mais resistente".

O artista também destaca a estrutura do Portal da Memória, que foi elaborado utilizando a mesma matéria-prima: “Então isso faz parte do nosso caráter, ele [o aço] tem uma resistência muito importante. A escultura [Portal da Memória] tem que ser resistente, porque nós vivemos e lutamos pela resistência. Nós precisamos ser resistentes. Nós temos que ser resistentes.” 

O livro 

A transformação do projeto de iniciação científica em livro foi um consenso de RitaLagesRodrigues e MariaTerezaDantasMoura. Segundo Maria, estudar o monumento como o Portal da Memória foi como "atravessar para um mundo novo". A pesquisadora acredita que, ao elaborarem o livro, elas conseguiram "fazer essa travessia", colaborando com que o projeto mostrasse "um pouco dessas múltiplas portas possíveis de se atravessar".

Livro
O livro "Portal da Memória: A poética construtiva de Jorge dos Anjos na paisagem da cidade" e o Portal da Memória / Crédito: Mariana Cordeiro 

De acordo com Rita, os leitores de "Portal da Memória: A poética construtiva de Jorge dos Anjos na paisagem da cidade" podem “esperar um passeio por essa obra, e também por uma arte da cidade de Belo Horizonte”. Ela espera que o livro consiga gerar a seguinte reflexão nas pessoas: “eu espero que [as pessoas] reflitam sobre o espaço urbano, que eles pensem e reflitam, a partir desse livro, o lugar que ocupamos dentro da cidade, do espaço urbano, público.”

"Portal da Memória: A poética construtiva de Jorge dos Anjos na paisagem da cidade" foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte (LMIC-BH) e se encontra disponível para leitura aqui.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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