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Bombardeio 'ofuscado' por Hiroshima e Nagasaki segue em busca de reconhecimento
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Bombardeio 'ofuscado' por Hiroshima e Nagasaki segue em busca de reconhecimento

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Aventuras Na História
10/03/2025 14h45
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Cerca de 300 bombardeios B-29 Superfortress lançaram 330.000 dispositivos incendiários sobre Tóquio logo nas primeiras horas de 10 de março de 1945. O ataque deixou cerca de 100.000 civis mortos — mais do que o bombardeio atômico sobre Nagasaki, meses depois —, mas o ataque jamais teve o devido reconhecimento no país. 

Após oito décadas, Shizuko Nishio continua com memórias da noite em que os americanos mataram centenas de japoneses e transformaram sua cidade em cinzas; em questão de pouquíssimas horas.

Horas antes de tudo acontecer, ela estava ansiosa para comemorar seu aniversário de seis anos no dia seguinte e começar sua rotina na escola primária. Mas enquanto dormia, Nishio ouviu a sirene de ataques aéreos soar. 

Meu pai nos disse para fugir para a escola primária em frente à nossa casa", recorda, conforme repercute o The Guardian. 

Com o abrigo já lotado, ela e sua mãe foram para outro porão da escola, deixando seu primo e uma enfermeira para trás — eles acabariam carbonizados junto de 200 pessoas que foram "cozidas vivas" dentro do primeiro abrigo enquanto incêndios devastavam do lado de fora.

A jovem foi a única de sua classe do jardim de infância, que tinha cerca de 20 crianças, a sobreviver ao pior bombardeio convencional da Segunda Guerra Mundial. 

Naquela data, os B-29 lançaram bombas napalm nos bairros lotados do centro da região de Shitamachi, em Tóquio. O ataque destruiu cerca de 41 quilômetros quadrados da capital, deixando mais de 1 milhão de pessoas desabrigadas. 

Mas tudo acabou eclipsado pelas tragédias de Hiroshima e Nagasaki, em agosto. O ataque em Tóquio caiu no esquecimento da memória coletiva do Japão e permanece ignorado pelo governo do país. 

A última chance

Segundo Yoshiaki Tanaka, professor de história antiga na Universidade Senshu, em Tóquio, muitas pessoas que sobreviveram aos bombardeios ainda sofrem com flashbacks e sentem a chamada 'culpa de sobrevivente'."Muitos ainda vivenciam traumas severos".

Tanaka diz que conheceu mais de 100 sobreviventes na última década. "Alguns deles não conseguiam nem falar sobre suas experiências, então sugerimos que tentassem desenhar figuras, e por meio disso alguns conseguiram se abrir".

Oito décadas depois, o país não possui um memorial nacional para as vítimas do bombardeio incendiário — e também não houve nenhuma tentativa oficial para estabelecer um número preciso de vítimas ou para resgatar o testemunho de sobreviventes. Aqueles que estão vivos, ainda, jamais receberam o direito de uma indenização do governo. 

Sendo assim, Yoshiaki Tanaka crê que uma compensação financeira e um monumento público, juntamente com a criação de arquivos de depoimentos de sobreviventes, possam ajudar, em partes, a curar as feridas e gerar um alerta sobre os horrores da guerra para as gerações futuras.

É absolutamente correto que honremos as vítimas e os sobreviventes dos bombardeios atômicos, mas também devemos nos lembrar do atentado de Tóquio e olhar para o futuro e pensar que nunca devemos deixar algo assim acontecer novamente".

Yumi Yoshida, que perdeu os pais e a irmã no bombardeio, faz parte de um grupo de sobreviventes que exigem que o governo reconheça seu sofrimento e forneça compensação. Por conta da idade avançada do grupo, um próximo grande aniversário da tragédia pode até mesmo não ocorrer. "Este ano será nossa última chance".

Após o fim da guerra, o governo japonês forneceu 60 trilhões de ienes (cerca de R$ 2,3 trilhões) em apoio financeiro para veteranos militares e famílias enlutadas, assim como apoio médico para sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki. Mas as vítimas do bombardeio de Tóquio e de outras cidades não receberam nada. 

Os tribunais japoneses já rejeitaram o pagamento de 11 milhões de ienes (R$ 429 mil) para cada um dos sobreviventes, argumentando que os cidadãos, tendo sido mobilizados como parte do esforço de guerra, deveriam suportar seu sofrimento. Em 2020, um grupo do parlamento propôs um pagamento único de 500 mil ienes (R$ 20 mil), mas o plano foi frustrado em meio à oposição de membros do partido no poder.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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