Bremen proíbe gesto usado por professores por ligação com extrema direita turca

A cidade de Bremen, na Alemanha, proibiu recentemente o uso de um gesto de mão comumente utilizado por professores em sala de aula para manter a ordem entre os alunos.

O gesto, conhecido como “raposa silenciosa”, envolve posicionar a mão imitando a cabeça de uma raposa, com as orelhas eretas e a boca fechada. No entanto, as autoridades locais temem que o gesto possa ser confundido com a "saudação do lobo" da extrema-direita turca.

Utilizado há muito tempo por educadores no jardim de infância para incentivar o silêncio e o comportamento adequado em sala de aula, o gesto aparentemente inofensivo agora está envolto em controvérsia.

As autoridades de Bremen alegam que o símbolo pode ser erroneamente associado à saudação dos Lobos Cinzentos, a ala ultranacionalista do Partido do Movimento Nacionalista da Turquia, que tem uma aliança com o Partido AK do presidente Recep Tayyip Erdogan.

“O significado político do gesto com a mão é absolutamente incompatível com os valores da cidade de Bremen”, afirmou Patricia Brandt, porta-voz da autoridade educacional de Bremen, em uma entrevista ao The Guardian. Segundo a mesma, os professores consideram o gesto "pedagogicamente ultrapassado" e seu "estilo regulatório" condescendente, reforçando a decisão de bani-lo das salas de aula.

A "saudação do lobo" dos Lobos Cinzentos tem uma conotação altamente politizada e está ligada a episódios de violência política, incluindo um golpe de Estado na Turquia em 1980 que resultou na morte de cerca de 5.000 pessoas. Recentemente, o gesto voltou aos holofotes quando o jogador de futebol turco Merih Demiral o utilizou para comemorar um gol durante a Eurocopa, gerando uma reação negativa e uma subsequente suspensão de duas partidas pela UEFA.

Brigas políticas

A decisão de Bremen ocorre em meio a tensões diplomáticas entre a Alemanha e a Turquia. Após a condenação do gesto por parte da ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, a Turquia convocou o embaixador alemão em Ancara para protestar. Faeser argumentou que "os símbolos dos extremistas de direita turcos não têm lugar em nossos estádios" e que "usar o campeonato europeu de futebol como plataforma para o racismo é completamente inaceitável."

Segundo o 'Independent', a proibição do gesto em Bremen e a suspensão de Demiral causaram críticas tanto na Turquia quanto na Alemanha. O presidente Erdogan descreveu a suspensão da UEFA como uma decisão "puramente política". Paralelamente, a Sociedade Israelense Alemã pediu às autoridades alemãs que banissem os Lobos Cinzentos, citando ameaças à segurança pública e à coexistência pacífica de várias comunidades, incluindo judeus, armênios, gregos e curdos.