Cobaia humana: o duro experimento do pequeno Albert
Aventuras Na História
"Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e um mundo propriamente especificado por mim para criá-las, e eu garanto que posso pegar qualquer uma aleatoriamente e treiná-la para se tornar qualquer tipo de especialista que eu selecionar – médico, advogado, artista, gerente e, sim, até mendigo ou ladrão, independentemente de seus talentos, gostos, tendências, habilidades, vocações e raça de seus ancestrais. Estou indo além dos meus fatos e admito, mas os advogados do contrário também fazem isso e o têm feito por muitos milhares de anos."
A frase acima foi dita pelo psicólogo americano John B. Watson em 1930. Membro da Universidade Johns Hopkins e fundador do behaviorismo (também chamado de comportamentismo), Watson queria mostrar que o ambiente na formação humana era mais importante que seus próprios genes.
Um ponto importante e fundamental para contradizer as políticas eugenistas que surgiram ao longo da história. Apesar da importância de seu estudo, John B. Watson ficou marcado por um episódio assustador.
Em 1919, ao lado da estudante de pós-graduação Rosalie Rayner, que no futuro se tornaria sua esposa, o psicólogo realizou um teste perturbador com uma cobaia humana: um bebê com pouco menos de um ano de idade. Conheça o duro experimento do pequeno Albert!
O pequeno Albert
No início do século 20, o russo Ivan Pavlov realizou um simples experimento com cães: sempre que os animais eram alimentados, um sino soava. Com o passar do tempo, os cachorros passaram a associar o som com a alimentação; o que os faziam salivar só de escutar o barulho — o que Pavlov chamou de reflexos condicionados.
Watson e Rayner queriam ir além, demonstrando como tais mecanismos também funcionam em humanos. Assim, escolheram uma cobaia emocionalmente estável: um bebê com menos de um ano; a quem poderiam condicionar fobias.
Embora seja chamado de pequeno Albert, como aponta matéria da Superinteressante, a criança jamais teve sua identidade revelada — o que até hoje causa discussões na comunidade científica.
Voltando ao experimento, o pequeno Albert precisou passar por uma bateria de testes preliminares, que consistiam em ele ser exposto, pela primeira vez e de forma muito rápida, a um rato, um coelho branco, um macaco, um cachorro, algodão, jornal pegando fogo, máscaras e alguns outros estímulos.
O próximo estágio foi colocá-lo em um colchão em cima de uma mesa, alocada no meio de uma sala. Então, um rato-branco foi solto para interagir com o pequeno Albert — que, obviamente, não demonstrou nenhum sinal de medo. Apenas queria brincar e interagir com o animal.
O processo foi feito diversas vezes antes da parte mais dura acontecer. Após algumas sessões, no entanto, os pesquisadores decidiram que sempre que o pequeno Albert tocasse no rato, um martelo bateria numa barra de aço que estava suspensa, colocada bem às costas do bebê.
O barulho ensurdecedor assustava a cobaia, que chorava instintivamente por uma reação típica do medo. Como se não bastasse o trauma da primeira vez, o experimento foi repetido por diversas rodadas.
Após um tempo, o último passo começou. Nele, o pequeno Albert e o rato voltariam a se encontrar, mas, desta vez, o barulho não seria produzido de nenhuma forma. O bebê, porém, só de se aproximar do rato já entrava em um estado choroso, demonstrando incômodo e apreensão.
O medo do barulho logo foi associado ao rato — embora o animal nada fez. Mas não foi só isso, o trauma passou para diversos outros objetos: como um cão peludo e até uma máscara de papai Noel.
O pequeno Albert, segundo John B. Watson, teria sofrido com uma chamada fobia instalada por condicionamento; generalizando seu medo para coisas similares ao rato, mas não todas elas.
O mesmo experimento foi refeito com o pequeno Albert, mas sem a mesma eficácia quando os pesquisadores tentaram atrelar o medo do som aterrorizante com um coelho e um cachorro.
Apesar disso, Watson considerou seu progresso um sucesso, que confirmaria seu método behaviorista. Atualmente, porém, muito se debate sobre se os resultados são conclusivos ou não.
Além disso, e talvez um dos principais pontos da discussão, é que como a identidade do pequeno Albert nunca foi revelada, jamais se soube quais sequelas o experimento deixou naquele bebê e como aquilo moldou seus medos e traumas futuramente.