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Em 1989, fundador do Pão de Açúcar passou seis dias em cativeiro
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Em 1989, fundador do Pão de Açúcar passou seis dias em cativeiro

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Aventuras Na História
01/03/2023 22h00
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©Reprodução/Vídeo/YouTube
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Hoje uma das principais redes de supermercados do Brasil, o Pão de Açúcar quase teve uma grande mudança em seu destino, em 1989, pouco antes de se consolidar no mercado brasileiro. Isso porque, em dezembro daquele ano, Abílio Diniz, então dono da marca, foi sequestrado e mantido em cativeiro durante seis dias.

Em entrevista ao Flow Podcast em 2021, quando o Monark ainda apresentava o progama, o empresário contou alguns detalhes do sequestro. Na entrevista, disse que acreditava que fosse morrer no período em que esteve sob domínio dos sequestradores, em São Paulo. 

Abílio Diniz em um TED Talks
Abílio Diniz em um TED Talks / Crédito: Reprodução/Vídeo/YouTube

Homens preparados

No começo do relato, Abílio Diniz comenta que, na época do sequestro, já possuía certa visibilidade, embora o Pão de Açúcar tivesse crescido muito mais nos anos que se seguiram. Porém, não via necessidade de ter seguranças consigo, tendo contratado alguns somente para seus pais e filhos.

Eu [pensava] não preciso, vou economizar esse dinheiro. Quem vai se meter comigo? Era um p*** de um encrenca do jeito que era, brigava bem, atirava bem. [Pensava que] ninguém iria se meter comigo", contou em entrevista no Flow.

Porém, no dia que mudou sua vida, os atributos não serviram: seus sequestradores eram homens treinados, ex-guerrilheiros do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR, na sigla em espanhol), uma organização política que lutou no Chile contra a ditadura de Augusto Pinochet (1973 - 1990). Então, quando ia para seu escritório, percebeu uma ambulância atravessada na rua: "Peguei a arma do meu lado da perna, e botei os dois caras na mira que estavam na ambulância."

"Só que eles eram absolutamente profissionais, eram ex-guerrilheiros. Vieram com o carro por trás e bateram no meu. Naquilo desconcentrei e entrou um cara de cada lado da porta, tomaram a arma e fomos para o chão. Rolamos para c******, mas no fim estavam em 10 e me levaram para uma kombi antes de irem para o cativeiro", lembrou.

Cativeiro

Depois de rendido, Diniz foi levado para uma casa no bairro Jabaquara, em São Paulo, onde passaria alguns dos dias mais tensos de sua vida. "Me colocaram nessa casa do Jabaquara e tinha um buraco nesta casa, tipo um porão, e uma escadinha. E dentro deste porão eles construíram uma caixa, um caixote grande, e levaram para baixo, e me puseram dentro do caixote."

O empresário contou ainda que o artefato era "bem feito", com apenas uma fechadura por fora. "Fizeram um buraco em cima, puseram um cano e um ventilador do lado de fora. Esse era o ar que tinha lá fora."

Porém, devido ao tamanho do caixote, era impossível ficar totalmente de pé ali dentro. Por isso, como era dificultada a chegada de ar naquele ambiente, ele precisava de grande esforço para conseguir respirar, e essa razão fez com que ele acreditasse que morreria durante o sequestro.

Tinha certeza que iria morrer, já sentia de cara. Para poder respirar melhor eu tinha que me levantar — não dava para ficar em pé —, encostar o nariz lá no cano e puxar o ar", narrou Diniz no Flow. Em seguida ainda descreveu: "Puseram um controle de luz, às vezes deixavam tudo escuro, às vezes mais claro, às vezes tudo claro. E música alta. Era para me deixar meio enlouquecido."
Abílio Diniz em entrevista no Flow Podcast, em 2021
Abílio Diniz em entrevista no Flow Podcast, em 2021 / Crédito: Reprodução/Vídeo/YouTube

Além do mais, o empresário se preocupava ainda mais com a condição porque, não muito antes, um amigo também havia sido sequestrado e passou 63 dias em um cativeiro não tão sufocante, uma espécie de barraca ao ar livre.

"[Pensava] que eu não iria aguentar ficar 63 dias [como seu amigo ficou], não sabia o que ia acontecer naquela altura. [Pensava] 'Vou morrer, mas não sei como'. Se ia atacar o cara que entra aqui para falar comigo, se ia morrer de inanição. Não sabia o que iria acontecer."

Além do mais, também pensava que a chance de alguém pagar o valor pedido pelos sequestradores era nula: R$ 30 milhões, como informado pelo portal de Economia do UOL. Por isso, a esperança de sair vivo daquela situação diminuía a cada minuto para Diniz.

Resgate caótico

No entanto, enquanto Abílio Diniz era mantido em cativeiro, a polícia investia grandes esforços na investigação para localizá-lo e resgatá-lo. Então, nas buscas, as autoridades chegaram ao grupo que realizou o sequestro, depois de encontrar um cartão de oficina em um dos carros utilizados na operação, que os levou diretamente ao chefe do grupo — este, por sua vez, não estava no mesmo local que funcionava o cativeiro.

"Tinham seis comigo na casa e quatro no apartamento, inclusive o líder. Convenceram o líder a levá-los [os policiais] até a casa do cativeiro, mas quando chegou nela ele disse que se entrasse sozinho, iriam me matar, porque eles tinham ordem de matar se acontecesse qualquer coisa", relatou Diniz. "E deixaram o cara entrar. Ele entrou e correu para dentro da casa, se trancou, chamou a turma, me tirou do buraco e me fez de escudo."

A atitude tomada pelo líder, porém, fez com que começasse um cerco de 36 horas naquela casa, mas surpreendentemente isso trouxe alívio para o empresário, que pôde finalmente respirar bem. "Quando me levaram para cima, o máximo que podia acontecer era levar tiro. [Pensei] 'Sei como vou morrer, sei como vai ser'".

Porém, depois de mais de seis dias sob posse dos sequestradores, a polícia teve sucesso na operação, e Diniz foi libertado na tarde daquele domingo. Entre os sequestradores, depois foi constatado que haviam cinco chilenos, dois argentinos, dois canadenses e um brasileiro, todos membros do MIR.

Traumas

Um dos momentos mais tensos de toda a vida de Abílio Diniz, a história também lhe trouxe, antes de qualquer coisa, alguns traumas.

"Eu saí [do cativeiro] e de início estava bem tranquilo. Depois de 20 dias começou a bater um negócio meio complicado, comecei a escutar uns barulhos estranhos. E procurei uma terapeuta para cuidar um pouco da cabeça. E foi bom, hoje falo disso com maior tranquilidade, sem maiores problemas", comentou na entrevista.

Por fim, Abílio Diniz finalizou seu relato: "Foi traumático. A gente na vida cresce mais no sofrimento e na tristeza do que na alegria. Quando você passa por isso, você cresce ou perece, ou afunda ou cresce. Eu acho que saí maior. Esse alívio que vocês veem hoje, não foi sempre assim, teve épocas que nem eu gostava de mim."

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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