Forvik: A ‘nação soberana’ situada em uma rocha
Aventuras Na História
É verdade que muitas pessoas só desejam um pedaço de terra para chamar de seu e exercer sua soberania. E olha que não precisa ser nem um terreno luxuoso e rico em minérios e plantações.
Uma pequena ilha rochosa irregular, de um hectare de terreno, em um arquipélago na Escócia, já é mais que suficiente. Mesmo que ela seja usada apenas, casualmente, como local de descanso para focas e gaivotas.
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Bom, pelo menos é assim que pensa Stuart ‘O Capitão Calamidade’ Hill, que aproveitou a região de Forewick Holm, situado nas ilhas Shetland, para reivindicar sua própria nação: o Estado Soberano de Forvik.
Desta forma, em 21 de junho de 2008, Stuart Hill, atualmente perto dos 80 anos, proclamou a declaração de Dependência da Coroa Britânica de Forvik. “Nós, o povo soberano de Forvik, mantemos essas verdades como evidentes”, começou seu discurso.
Que todos os homens tenham direitos iguais, dotados pelo seu Criador de certos Direitos inalienáveis, que entre estes estão a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade”, proferiu.
O surgimento do ‘Capitão Calamidade’
A história por trás do Capitão Calamidade começa oito anos antes da criação de Forvik, aponta matéria da BBC News de 2001, quando Stuart Hill iniciou uma tentativa fracassada de circunavegar a Grã-Bretanha sozinho em um bote de cerca de 4 metros e meio.
A embarcação, denominada Maximum Exposure, era uma espécie de "barco a remo convertido", segundo a BBC, comparado a uma vela "canibalizada" de uma prancha de windsurf, completou o The Independent.
Já é de se esperar que tal equipamento foi considerado inapto para a tarefa, conforme apontou a Guarda Costeira. Mesmo assim, Stuart prosseguiu com sua jornada, que resultou em nove chamadas de salva-vidas e um resgate de helicóptero, antes do acidente que 'naufragou' sua embarcação. Pensando bem, Capitão Calamidade faz todo sentido agora, não é verdade? Enfim…
Durante seu encalhe, o futuro primeiro-ministro de Forvik questionou se as rochas das ilhas Shetland eram legalmente parte da Escócia/Grã-Bretanha. Usando o ponto para protestar sobre questões constitucionais, Stuart Hill fez reivindicações relativas à formação de sua própria micronação.
Segundo relatado pelo portal All That Interesting, o Capitão Calamidade aponta que a reivindicação do território pela Escócia é, na verdade, “uma fraude gigantesca que foi arquitetada e perpetrada no mais alto nível por séculos”.
Afinal, um tratado firmado, em 1469, por Christian I da Dinamarca e James III da Escócia nunca estabeleceu tecnicamente a propriedade das ilhas.
“O Sr. Hill traça sua reivindicação de soberania a um acordo de dote do século 15 entre o rei norueguês Christian I e o rei James III da Escócia, quando as ilhas Shetland foram essencialmente penhoradas ao rei James”, explica uma mensagem de reconhecimento da soberania de Forvik feito pela República da Molossia, um país independente’ localizado dentro de Nevada.
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“Em 1669, o rei Carlos II reconfirmou o status de Shetland na época do penhor, o que significa que as ilhas permaneceram diretamente dependentes da coroa — representada hoje pela rainha [à época da publicação do texto, em 2008, a rainha Elizabeth II ainda era viva]”, prossegue o comunicado.
Por causa dessa história, as Ilhas Shetland, e Forvik em particular, devem apenas lealdade direta à Rainha e não estão sujeitas ao domínio britânico. Isso significa nenhuma tributação ou imposto de adesão à UE [União Europeia]”, encerra.
E há até outras pessoas que concordam com o ponto de vista de Stuart, como o líder do Conselho das Ilhas Shetland, Gary Robinson.“Provavelmente há uma dúvida quanto ao status constitucional de Shetland”, apontou.
Robinson ainda declarou que gostaria de ver mais autonomia para a região, mas que as "palhaçadas" feitas por Stuart Hill no passar dos anos vem irritando as pessoas e as autoridades locais.
Excentricidades de um soberano
As 'palhaçadas' de Hill já o levaram a diversas aparições no tribunal, como por condenações por vandalismo e infrações de trânsito, visto que a polícia confiscou três carros de Stuart pelo fato de suas placas serem de Forvik.
Por essas e outras, o Capitão Calamidade acabou preso por 28 dias, chegando até mesmo fazer uma greve de fome de curta duração, aponta o All That Interesting. Stuart também deixou de pagar seus impostos e construiu uma estrutura na ilha sem suas devidas licenças.
O prédio, em si, não tem nada de aconchegante. Aliás, para se chegar em Forvik é algo muito complicado a se fazer, até mesmo para um marinheiro experiente. Sendo assim, o primeiro-ministro Stuart Hill visita seu país apenas duas vezes ao ano.
Mas o grande propósito de Forvik não é operar como uma nação independente, mas sim desafiar o Reino Unido a explicar por que eles têm autonomia em controlar a região de Shetland.
O objetivo de longo prazo é mostrar a outras comunidades, regiões e nações que seus políticos estão ali para representá-los, não para governá-los”, explica o premiê no site da nação. “E que o destino deles está em suas próprias mãos.”
As vantagens de Forvik
Mas apesar da sua localização um tanto quando complicada, viver em Forvik tem suas regalias, a principal delas é a isenção de impostos, seja de tributos bancários, financeiros ou até mesmo para mercadorias. As lojas locais também não são taxadas. Embora não exista nenhuma por lá. Mas isso é só um detalhe.
Stuart Hill aponta, aliás, que Forvik possui a “primeira constituição verdadeiramente válida do mundo”. Afinal, todos os membros do país concordaram e assinaram ela. Ou seja, apenas ele mesmo.
Muitas pessoas apoiam o que eu faço, porque sabem que meu coração está em Shetland”, disse Hill. “Existe o outro lado que pensa que sou apenas um maluco completo e que devo ir embora e cuidar da minha vida.”
Mas ele está certo até determinado ponto. Por mais que muitas pessoas vejam sua 'soberania' como algo ridículo, há quem olhe para o Capitão Calamidade e diga: 'Sabe, até que esse cara tem uma certa razão'.
“Há um sentimento em Shetland de que todo mundo está trabalhando e estamos pagando a conta, e estamos sendo enganados”, defende Garry Smith, morador de Shetland e simpatizante das ideias de Stuart, em entrevista ao The New York Times.
Se bem que Smith também concorda que, talvez, Hill “provavelmente está cerca de 400 anos atrasado com seu argumento”.