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Golpe de 64: o Brasil vivia uma 'ameaça comunista'?
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Golpe de 64: o Brasil vivia uma 'ameaça comunista'?

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Aventuras Na História
30/03/2023 18h48
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Quando Jânio Quadros renunciou à presidência do Brasil em 1961, o cenário político já era de caos. Mas assim que João Goulart, seu vice, assumiu a cadeira, os setores conservadores da sociedade, o partido UDN (União Democrática Nacional), do político opositor a Getúlio Vargas, Carlos Lacerda e grande parte dos militares não ficaram felizes com a novidade.

A polarização da sociedade brasileira já estava em um patamar alto, que persistia na política há aproximadamente 20 anos. Essa cisão ideológica aumentou quando Jango, apoiado por inúmeros setores populares, iniciou o processo de continuação do nacional-desenvolvimentista de Getúlio Vargas.

No artigo 'O projeto de nação do governo João Goulart: o Plano Trienal e as Reformas de Base (1961-1964)', o pós-doutorando em História Política pela UFF, Cássio Silva Moreira, analisa que o projeto econômico e social de Jango estava “focado na substituição de importações de bens intermediários e de capital e nas reformas estruturais — as chamadas Reformas de Base”.

Segundo o autor, o ano de 1964 marcou uma divisão clara entre dois projetos para o país: de um lado estava o nacional-desenvolvimentismo de Jango e, do outro, “o desenvolvimentismo associado-dependente, que tinha como agente principal o capital estrangeiro para a construção do capitalismo no Brasil”.

O ex-presidente João Goulart/ Crédito: Agência Brasil

 

Moreira diz que as Reformas de Base de Goulart tinham como intuito o “fortalecimento do papel do estado e redistribuição de renda, garantindo a consolidação e ampliação do mercado interno e um crescimento econômico mais equilibrado”. Com essa guinada a um nacionalismo de esquerda. Jango já era acusado de ser comunista — mesmo que a ideologia estivesse longe de seus planos.

Ameaça vermelha?

O marxismo visa à extinção da propriedade privada, a partir de uma revolução socialista que colocaria fim ao capitalismo. O ex-presidente não parecia tão interessado nesse objetivo. Além de estar mais próximo aos ideais trabalhistas, ele era um grande proprietário de terras no Rio Grande do Sul.

Seu partido também estava longe do comunismo. O PTB foi criado por Vargas no intuito de tirar dos comunistas os votos de trabalhadores urbanos. Eles não falavam de luta de classes nem de fim do capitalismo, apenas faziam parte do que alguns especialistas chamam de “esquerda moderada”.

"Muitos atores da época acreditaram existir uma ameaça vermelha, mas, com frequência, não tinham visão clara sobre o significado de comunismo, às vezes confundiam-no vagamente com qualquer proposta de esquerda ou mesmo tentativa de reforma social", explica Rodrigo Patto Sá Motta, doutor em História pela USP e professor na UFMG, em entrevista para o portal Agência Pública.

No entanto, muitas lideranças sabiam perfeitamente que o comunismo não estava no horizonte, mas manipularam o medo para engrossar a oposição ao governo Goulart”, completa.

A guerrilha armada e o suposto armamento das Ligas Camponesas faziam parte dessa narrativa anticomunista que passou a circular com afinco durante o governo do petebista. A ameaça de um Golpe Comunista não fazia sentido em 1964.

Segundo Motta, “existe uma estratégia discursiva de generalizar o rótulo comunista para aumentar a gravidade ou a sensação de perigo em relação a certas mudanças sociais que incomodam a opinião conservadora”. Para ele, o medo pode fazer com que muitas pessoas aceitem intervenções autoritárias.

E as lideranças conservadoras conseguiram muito bem captar essa insegurança. Além de conter uma escalada radical cujo objetivo era trazer benefícios à população mais pobre, — sem uma revolução comunista, — eles conseguiram instalar uma ditadura civil-militar no Brasil.

Jango nem o PTB eram comunistas, os brasileiros não sofriam com uma ameaça vermelha, e o país não se tornaria uma nova Cuba.

 

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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