Moedas romanas de ouro, consideradas espólio de guerra, são encontradas na Holanda
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Um significativo achado arqueológico foi feito em um campo na cidade de Bunnik, perto de Utrecht, onde duas pessoas que utilizavam detectores de metais descobriram um tesouro composto por 44 moedas de ouro britânicas, conhecidas como staters, e 360 moedas romanas.
Este conjunto é considerado muito provavelmente como espólios de guerra de um soldado romano durante a conquista da Grã-Bretanha.
As moedas em questão trazem a inscrição do rei celta britânico Cunobelino, figura imortalizada por Shakespeare na peça "Cymbeline". Cunobelino reinou entre os anos 5 e 40 d.C., na região sudeste da Grã-Bretanha.
O achado
A análise do achado, que representa a primeira coleção de composição mista encontrada na Europa continental, indica que as moedas foram enterradas intencionalmente em uma fossa rasa e provavelmente armazenadas em um saco de pano ou couro.
Localizadas a menos de 30 centímetros da superfície do solo, as moedas somam o equivalente a aproximadamente 11 anos de salários para um soldado romano comum. Dentre os staters britânicos, quatro são considerados emissões póstumas, possivelmente cunhadas pelos sucessores de Cunobelino como governantes da tribo Catuvellauni, os irmãos Togodumnus e Caratacus, em torno do ano 43 d.C.
A diversidade cronológica das moedas sugere que elas não foram escolhidas com base na qualidade ou no teor de ouro, mas sim retiradas da circulação durante um único evento, alinhando-se à narrativa dos despojos da conquista romana inicial da Grã-Bretanha sob o comando do general Aulus Plautius entre 43 e 47 d.C.
Segundo o Museu Nacional de Antiguidades da Holanda, onde as moedas estão expostas, é possível que estas tenham sido distribuídas ao exército como um 'donativum', uma gratificação monetária frequentemente concedida aos soldados romanos após campanhas vitoriosas.
Entre as moedas romanas encontradas, 72 são aurei de ouro e 288 são denários de prata. Elas datam aproximadamente entre 200 a.C. e 47 d.C., sendo que as mais recentes foram cunhadas entre 46 e 47 d.C., apresentando o retrato do imperador Cláudio.
Os sinais idênticos nas moedas sugerem que elas foram produzidas como parte de um único lote. No conjunto também há moedas romanas da época de Júlio César, incluindo uma que retrata Juba, rei da Numídia, localizada na atual Argélia.
O achado foi realizado por Gert-Jan Messelaar e Reinier Koelink em outubro de 2023. Eles inicialmente descobriram 381 moedas, e uma escavação subsequente realizada pela Agência Cultural do Patrimônio dos Países Baixos revelou mais 23. Messelaar recorda: "Abrimos uma garrafa de champanhe. Você nunca encontra algo assim", disse ao The Guardian.
A área onde as moedas foram descobertas era um local onde os romanos se prepararam para a primeira travessia à Grã-Bretanha, revelando agora que era também um ponto para onde as tropas conquistadoras retornavam ao continente.
A fossa onde as moedas foram enterradas provavelmente foi escavada em uma área úmida e próxima a um canal aquático que não era apropriado para habitação ou agricultura.
Anton Cruysheer, da Fundação Paisagem e Patrimônio de Utrecht, afirmou: "Esta é a primeira vez que evidências físicas do retorno das tropas foram encontradas. Aparentemente, eles voltaram com diversos itens. Isso é uma nova informação".
Antes da invasão ordenada pelo imperador Cláudio ao general Aulus Plautius com um contingente formado por quatro legiões e mais 20 mil soldados auxiliares, a Grã-Bretanha era composta por vários reinos independentes.
Caratacus e Togodumnus lideravam ataques à tribo Atrebates, que mantinha ligações políticas e comerciais com os romanos, expandindo assim a influência anti-romana dos Catuvellauni para o oeste a partir de suas terras ao norte do rio Tâmisa.