Moído por artista? A estranha história do coração do rei Luís XIV
Aventuras Na História
Um pesquisador francês descobriu, no ano de 2023, que fragmentos do coração do rei Luís XIV, famoso monarca do século 17, foram triturados para produzir uma tinta conhecida como "marrom múmia", feita a partir de restos mortais, e usada em uma pintura guardada no porão de um museu nos arredores de Paris.
A revelação foi pelo cientista forense Philippe Charlier, apelidado de “Indiana Jones dos cemitérios”, depois de analisar corações embalsamados de Luís XIII e seu filho, Luís XIV.
Esses corações, removidos dos corpos logo após suas mortes, foram mantidos em uma igreja de Paris até serem roubados durante a Revolução Francesa, em 1789. O responsável pelo roubo, Louis François Petit-Radel, foi um arquiteto que aproveitou a queda da monarquia para vender relíquias reais.
Com a restauração da monarquia em 1815, essas relíquias reapareceram e foram levadas à Basílica de Saint-Denis, nos arredores de Paris, onde permanecem até os dias de hoje. Até recentemente, porém, não havia uma certeza quanto à autenticidade dos órgãos.
Exames
No documentário "The Strange Story of the Kings' Hearts", transmitido pela France 5, Charlier revela ter submetido os corações a exames rigorosos — como espectrometria de massa e análise proteômica — além de ter solicitado a perfumistas, como Sylvaine Delacourte e Jean-Michel Duriez, que identificassem odores de alecrim e alcatrão, que eram utilizados em embalsamamentos dos séculos 17 e 18.
De acordo com informações do portal The Times, embora não tenha extraído DNA, Charlier estimou em 99% a chance de que os corações sejam dos dois monarcas.
Problemas de saúde
As análises também detectaram doenças características: Luís XIV apresentou sinais de diabetes e gangrena, causas de sua morte. Já Luís XIII, que possivelmente sofria de doença de Crohn, tinha sua saúde debilitada a ponto de ter sido impedido de lutar no Cerco de La Rochelle.
Coração
O que restou do coração do “Rei Sol” teve um destino macabro. Após ser roubado durante a Revolução, foi vendido a artistas que produziam a cor marrom múmia. Esse pigmento era feito com múmias egípcias, no entanto, a escassez delas no século 18 levou os fabricantes a buscar restos humanos mais recentes, incluindo de tumbas reais saqueadas.
Relatos sugeriam que artistas como Alexandre Pau de Saint-Martin e Martin Drolling usaram corações de monarcas para produzir o marrom múmia, entretanto, faltavam provas.
Vestígios
Charlier buscou investigar uma obra de Drolling no Louvre, no entanto, não obteve autorização da instituição. Por outro lado, o Museu Tavet-Delacour, em Pontoise, onde se encontra 'Vue de Caen', de Pau de Saint-Martin, deu permissão para que Charlier pudesse raspar uma amostra de tinta. A análise confirmou vestígios do coração de Luís XIV.
Ao descobrir que a lenda era real, Charlier se surpreendeu. “Estamos acostumados a mergulhar nesses tipos de lendas e descobrir que elas são falsas. Pela primeira vez, esta é uma lenda que é verdadeira”, declarou.