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Nazistas procuraram a origem da falsa ‘raça ariana’ no Tibete
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Nazistas procuraram a origem da falsa ‘raça ariana’ no Tibete

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Aventuras Na História
12/08/2023 23h00
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A 'ideologia nazista' de Adolf Hitler partia do princípio de que as características, as atitudes, as habilidades e o comportamento das pessoas eram determinadas por suas "origens raciais".

Na visão do ditador alemão, os grupos, povos ou raças (tratando todos esses termos como sinônimos) carregavam traços imutáveis que eram transmitidos de geração para geração. Portanto, ninguém poderia superar as qualidades inatas de sua raça, a ariana.

A visão defasada de Hitler entendia que toda a história humana poderia ser explicada em termos do conceito de luta racial, explica a Enciclopédia do Holocausto do United States Holocaust Memorial Museum.

Usando os ideais do darwinismo social alemão do século 19, a ideologia nazista acreditava que os seres humanos poderiam ser divididos e classificados por "raças" — cada qual com características distintas herdadas do surgimento dos humanos na Pré-história.

Adolf Hitler, líder nazista, em pintura/ Crédito: Getty Images

 

E tais características não eram apenas físicas, elas diziam respeito também a vida mental das pessoas, na maneira como elas desenvolvem seus pensamentos, em suas habilidades criativas e de organização, em seus gostos, na sua inteligência, na forma como valorizam a cultura, na força física e também na capacidade militar.

Hitler adotou a ideia darwinista social relativa à teoria da evolução das espécies, onde os "mais fortes sobrevivem". Entretanto, na teoria do naturalista britânico não são os mais fortes que sobrevivem, mas quem está mais apto a se adaptar às mudanças e às condições do ambiente.

Os nazistas acreditavam que a sobrevivência de uma raça dependia do quão ela tinha sucesso em se reproduzir e se multiplicar; no quão ela conseguia acumular terras para prover o sustento e alimento de sua população em crescimento; e do cuidado em manter a 'pureza' de seu patrimônio genético, evitando a miscigenação e, portanto, a perda de suas características raciais únicas. Assim, Hitler foi em busca da origem da superioridade ariana e essa procura acabou no Tibete.

Em busca da raça ariana

Em 1935, Heinrich Himmler, um dos principais arquitetos do Holocausto, criou dentro da SS uma unidade chamada Ahnenerbe — ou Bureau of Ancestral Heritage —, que visava descobrir para onde os sobreviventes de Atlântida (a mítica cidade perdida) haviam ido.

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Importante ressaltar, conforme recorda matéria da BBC, que aqueles que acreditavam no mito da raça ariana superior nórdica branca também acreditava no mito de Atlântida, onde as pessoas do "sangue mais puro" da história viveram.

A lenda aponta que a ilha, que deveria estar situada entre Inglaterra e Portugal, no Oceano Atlântico, afundou após ser atingida por um raio divino. Já seus sobreviventes buscaram abrigos em lugares mais seguros, como a região do Himalaia — no Tibete, considerado "o teto do mundo", para ser mais preciso.

Membros da expedição com anfitriões/ Crédito: German Federal Archive/Deutsches Bundesarchiv

 

Assim, a missão de Himmler era encontrar os vestígios da raça. Para isso, em 1938, cerca de um ano antes do início da Segunda Gurra Mundial, o Reichsführer enviou um grupo de cinco alemães ao Tibete nesta "operação de busca".

Nazis no ‘teto do mundo’

Conforme explica Vaibhav Purandare, autor de 'Hitler And India: The Untold Story of His Hatred For the Country And Its People', Adolf Hitler acreditava que o povo ariano nórdico havia desembarcado no norte da Índia há 1.500 anos. Porém, eles haviam cometido um erro: misturar a raça com o povo "não-ariano", o que fizeram perder atributos de sua raça superior.

Acontece que o ditador alemão também nutria uma grande antipatia pelos indianos e a luta do povo pela liberdade. A repulsa do Führer está presente em discursos, materiais escritos e em debates.

Escola missionária em Lachen/ Crédito: German Federal Archive/Deutsches Bundesarchiv

 

Voltando à expedição pelo Tibete, dos cinco alemães que integravam o grupo de exploração de Himmler, dois nomes se destacava: o primeiro era Ernst Schafer. Com 28 anos, o talentoso zoólogo já visitara a fronteira Índia-China-Tibete em duas ocasiões diferentes antes da busca nazi. Ernst, além disso, passou a fazer parte da SS ainda em 1933, quando os nazistas triunfaram; ou seja, muito antes de Heinrich se tornar o líder da expedição.

A BBC repercute que o homem também era fissurado por caça. Um dos seus hobbies era colecionar troféus em sua casa, em Berlim. Em uma de suas caçadas, porém, aconteceu uma grande tragédia: ao mirar para atirar em um pato, quando estava em seu barco, ele acabou escorregando e atingindo a cabeça de sua esposa — matando-a.

Bruno Beger e Ernst Schafer/ Crédito: German Federal Archive/Deutsches Bundesarchiv

 

O outro considerável nome era o de Bruno Beger. Jovem antropólogo, ele era mais 'caçula' na SS, ingressando na organização paramilitar em 1935. Por sua profissão, era o responsável por tirar a medida dos crânios e dos detalhes faciais dos tibetanos. Beger também fazia máscaras faciais, como ele mesmo dizia, "especialmente para coletar material sobre as proporções, origens, significado e desenvolvimento da raça nórdica nesta região".

Apesar do afinco do grupo, não foi tão fácil assim chegar ao destino. Primeiro, o navio que transportava o grupo atracou no Sri Lanka, na cidade de Colombo, em maio de 1938. Do porto, o grupo pegou outra embarcação para a cidade indiana de Madras (atualmente conhecida como Chennai); de lá ainda embarcariam rumo à Calcutá.

No entanto, as autoridades britânicas na Índia não viram com bons olhos o desembarque de viajantes alemães no país e temiam que eles seriam espiões. Desta forma, a entrada do grupo na Índia foi dificultada. Até mesmo o jornal Times of India repercutiu a chegada: "Um agente da Gestapo na Índia".

Mas os enviados de Himmler venceram. Eles entraram no Tibete no final daquele ano, numa comitiva que ostentava bandeiras com suásticas amarradas às mulas e bagagem.

Fotografia da expedição/ Crédito: German Federal Archive/Deutsches Bundesarchiv

 

A suástica, aliás, era um símbolo presente no Tibete, por onde era conhecido como "yungdrung", mas com uma conotação completamente diferente: onde representava um símbolo de boa sorte — comumente visto dentro de templos, do lado de fora das casas, espalhados pelas esquinas…

O Tibete

Enquanto os cinco alemães se aventuraram pelo Tibete, a província passava por mudanças. Em 1933, o 13º Dalai Lama havia morrido e um novo líder havia sido nomeado. Por seu pouco tempo, ele ainda era considerado um budista tibetano regente.

O fato é que o grupo foi tratado excepcionalmente bem pelo líder religioso e pela população local. Beger, o responsável pelas máscaras faciais, até mesmo chegou a atuar por um tempo como um médico substituto para os moradores.

Aquela altura, os budistas tibetanos não tinham ideia de que os nazistas, no profundo de sua ideologia perversa, acreditava que o budismo — assim como o hinduísmo — era uma religião que havia enfraquecido os arianos que chegaram por lá. O que significava que eles haviam feito a raça ariana perder seu espírito e força.

Beger com o Regente do Tibete/ Crédito: German Federal Archive/Deutsches Bundesarchiv

 

Mas foi justamente quando o grupo passou a ter mais tempo para explorar o real motivo de sua expedição — que usava o pretexto de realizar investigações científicas em áreas como zoologia e antropologia —, que a guerra tornou a excursão científica inviável. Tudo isso em agosto de 1939.

Mesmo assim, Vaibhav Purandare aponta que, aquela altura, Bruno Beger já havia medido os crânio e feições de 376 tibetanos. O nazista também já havia registrado 2 mil fotografias e "feito moldes de cabeças, rostos, mãos e orelhas de 17 pessoas", além de coletar "as impressões digitais e das mãos de outras 350".

Beger também foi responsável por reunir 2.000 "artefatos etnográficos". Já outro membro da expedição foi tão prolífico quanto, registrando 18.000 metros de filme em preto e branco e 40.000 fotografias.

Com a excursão interrompida, Heinrich Himmler providenciou tudo para que o grupo deixasse Calcutá no último momento possível. O arquiteto do Holocausto também lhes esperou quando o avião pousou em Munique. Grande parte do "tesouro" tibetano recolhido por Schafer foi levado pelo próprio para um castelo em Salzburgo, onde ele se mudou durante a Guerra.

Ernst Schafer com Tashi Namgyal (Marajá de Sikkim) e Tashi Dadul Secretário Geral do Chogyal/ Crédito: German Federal Archive/Deutsches Bundesarchiv

 

Mas quando as tropas Aliadas chegaram à Alemanha, em 1945, parte de todo o material recolhido no Tibete foi perdido, o que resta até hoje está guardada em museus e arquivos dos Estados Unidos e Alemanha.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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