O experimento científico que criou um bebê humano e um chimpanzé lado a lado
Aventuras Na História
Winthrop Niles Kellogg foi um pesquisador estadunidense de psicologia comparativa, que é um campo de estudo destinado à análise das diferenças comportamentais de diferentes seres vivos.
O homem nutria grande curiosidade em relação à questão do quanto o ambiente moldava o comportamento de um animal. Se interessava, em particular, por casos de "crianças selvagens", por exemplo, que por algum motivo acabavam crescendo sem contato humano, sendo criadas por outras espécies (como macacos, lobos ou cães).
Seria antiético, porém, propositalmente largar um bebê na natureza a fim de estudar de perto a maneira como seu desenvolvimento seria impactado pela experiência. O experimento científico que Kellogg de fato acabou fazendo, por sua vez, invertia essa situação: criava um chimpanzé como se fosse um humano.
Veja, a seguir, como o pesquisador explicou sua proposta, que foi repercutida pelo NPR:
Suponhamos que um antropoide fosse levado para uma família humana típica no dia do nascimento e criado quando criança. Suponhamos que ele fosse alimentado com uma mamadeira, vestido, lavado, banhado, acariciado e recebesse um ambiente caracteristicamente humano; que se falava dele como se fosse uma criança humana desde o momento do parto; que ele teve uma mãe humana adotiva e um pai humano adotivo".
O episódio
O psicólogo decidiu colocar seu plano em prática após o nascimento de seu próprio filho, Donald, ao que adotou um chimpanzé fêmea chamada Gua. Eles foram unidos quando o primeiro tinha dez meses de vida, e a segunda sete meses e meio.
Durante os próximos nove meses, os bebês de diferentes espécies receberiam exatamente a mesma criação. Para completar a tarefa em tempo integral, Kellogg contou com a ajuda de sua esposa: eles foram simultaneamente pais e cientistas, realizando diversos testes ao longo do tempo para avaliar o desenvolvimento das habilidades físicas e cognitivas do humano e do primata sob seus cuidados.
Vale apontar que o norte-americano relatou ter tido dificuldades para convencê-la inicialmente — uma reação compreensível, dada a estranheza da situação.
Segundo informado pelo Smithsonian Magazine, algumas das categorias de avaliação eram "pressão arterial, memória, tamanho corporal, rabiscos, reflexos, percepção de profundidade, vocalização, locomoção, reações a cócegas, força, destreza manual, resolução de problemas, medos, equilíbrio, comportamento lúdico, escalada, obediência, agarramento, compreensão da linguagem, capacidade de atenção".
Como esperado, Gua se destacou em relação a Donald no quesito habilidades motoras (como força e coordenação), mas também surpreendeu seus pais adotivos em muitos aspectos.
Ela aprendeu a andar ereta e calçar sapatos, dividia os brinquedos com seu irmão humano sem brigas (portanto, não desenvolveu o comportamento violento) e reagia de forma apropriada a diversas palavras e expressões diferentes usadas pelos adultos humanos com quem vivia.
Desfecho
A despeito dos esforços de Kellogs, no entanto, um chimpanzé simplesmente não é capaz de aprender a linguagem humana, de modo que, eventualmente, a primata acabou ficando para trás em relação ao bebê Homo Sapiens.
Há limites definidos para o grau de humanização que pode ser alcançado pelas espécies não humanas, independentemente da quantidade de efeitos de socialização e humanização", concluiu o psicólogo em seu posterior artigo a respeito da experiência, repercutiu o site Edublox.
O experimento científico chegou ao fim não apenas por conta da barreira cognitiva por parte de Gua, mas também devido aos temores do psicólogo norte-americano de que seu filho, Donald, pudesse ser prejudicado pela situação.
Como convivia muito com a primata, também imitava os sons que ela fazia, deixando seus pais preocupados com um possível atraso em suas habilidades linguísticas.
A chimpanzé, assim, foi levada a um santuário — onde, infelizmente, acabou morrendo ainda jovem devido a uma pneumonia — e Donald Kellogs cresceu normalmente, sem ter retido as memórias da época em que viveu lado a lado com a primata.
Abaixo, veja um vídeo mostrando imagens do experimento: