O racismo científico em 'Os Sertões'

Aventuras Na História






'Os Sertões', de Euclides da Cunha, é um dos livros mais influentes da literatura brasileira. Com jornalismo, literatura e ciência, ele narra a Guerra de Canudos (1896–1897), um dos conflitos mais brutais do Brasil.
Primeiro, Euclides descreve o sertão e sua paisagem. Depois, fala sobre o povo do sertão. Por fim, narra a guerra e a destruição de Canudos. O problema é que ele interpreta tudo sob a lente do racismo científico, uma teoria comum na época, que afirmava haver raças superiores e inferiores.
O racismo científico em 'Os Sertões'
Na parte "O Homem", Euclides descreve o sertanejo como um produto do ambiente hostil do sertão, reforçando estereótipos raciais. Ele argumenta que a miscigenação entre indígenas, negros e brancos teria gerado uma população degenerada. Em um dos trechos mais polêmicos, afirma que o "mestiço é um decaído, sem a energia física dos ascendentes selvagens, sem a altitude intelectual dos ancestrais superiores".
Hoje, sabemos que essa ideia não tem fundamento científico. A diversidade é uma riqueza, não um problema. Mas na época, esse tipo de pensamento servia para justificar políticas de exclusão e discriminação.
Outra contradição interessante é a maneira como Euclides retrata o sertanejo. Ele exalta sua força ("O sertanejo é, antes de tudo, um forte"), mas também o descreve como um entrave ao progresso da civilização republicana. Isso reflete a própria dúvida do autor, que denuncia o massacre de Canudos, mas também parece acreditar que sua destruição era inevitável.
Euclides expõe a barbárie cometida pelo Exército, mas evita apontar culpados. Enquanto intelectuais como Émile Zola publicavam textos exigindo justiça, Euclides preferiu uma abordagem mais vaga, responsabilizando um "nós" genérico pelo massacre.
Ler 'Os Sertões' criticamente não é negar sua importância, mas entender seus erros e contradições. O livro ajuda a compreender o Brasil, mas também nos lembra de como o racismo científico influenciou nosso passado. E o que mudou desde então? O racismo ainda persiste, e a violência do Estado contra os mais pobres continua. Revisitar 'Os Sertões 'é também uma forma de refletir sobre o presente e pensar em um futuro mais justo.


