O 'tubarão' colocado em um telhado do Reino Unido que gerou um processo judicial
Aventuras Na História
Durante a madrugada de 9 de agosto de 1986, a cidade de Oxford, situada na porção centro-sul da Inglaterra, teria sua paisagem alterada permanentemente por uma ousada decisão decorativa de um homem de 41 anos chamado Bill Heines.
O britânico encomendou uma enorme escultura de tubarão inserida em seu telhado fazendo uso de um guindaste. O animal de ponta-cabeça parecia atravessar o teto da residência, criando uma cena surreal em meio à outrora pacata rua de casas geminadas.
Nomeada de "Sem Título 1986", a obra-de-arte pouco convencional feita de fibra de vidro tinha 7,6 metros de comprimento e pesava 400 quilos. Ela havia sido confeccionada por John Buckley, um escultor amigo de Heines.
Conforme registrado pelo portal de Headington, o subúrbio que serviu de palco para os gostos arquitetônicos diferenciados de Bill Heines, a única explicação já oferecida por ele para o significado da peça é a seguinte:
O tubarão era para expressar alguém que se sente totalmente impotente e abre um buraco em seu telhado por um sentimento de impotência, raiva e desespero…. Está dizendo algo sobre CND, energia nuclear, Chernobyl e Nagasaki".
A escultura, no entanto, atraiu muito mais do que olhares curiosos: durante os anos seguintes, o proprietário daquela que seria rapidamente apelidada de 'Casa do Tubarão' precisou lutar na Justiça pelo direito de manter a decoração inusual em seu telhado.
Disputa judicial
Inicialmente, a prefeitura de Oxford tentou argumentar que a presença do peixe gigante criava preocupações de segurança, porém a alegação acabou não indo para frente quando um time de engenheiros inspecionou o local, constatando que Heines havia tomado providências para reforçar seu telhado a fim de aguentar o peso da obra.
A tentativa seguinte das autoridades de retirar o tubarão do local fez referência a uma lei de planejamento urbano que a estátua supostamente estaria violando.
A briga foi para os tribunais da cidade, e seis anos mais tarde, em 1992, após Bill ter inclusive recorrido ao ministro britânico que na época ocupava o cargo de Secretário de Estado do Ambiente, ele finalmente conseguiu permissão para manter o peixe de cabeça para baixo que decorava o topo de sua casa.
Não há dúvida de que esta é uma característica grande e proeminente. Essa era a intenção, mas a intenção do recorrente e do artista não é um problema no que diz respeito à permissão de planejamento. O caso deve ser decidido pelos seus méritos de planejamento, não pelo recurso ao 'utilitarismo', no sentido do maior bem para o maior número. E é preciso considerar a relação entre o tubarão e seu ambiente…. Neste caso, é indiscutível que o tubarão não está em harmonia com os seus arredores, mas também não se pretende que esteja em harmonia com eles", afirmava a carta que autorizava a peça.
"O contraste é deliberado… e, nesse sentido, a obra é bastante específica de seu cenário. Como uma 'obra de arte', a escultura (“Sem título 1986”) seria 'lida' de forma bastante diferente, digamos, em uma galeria de arte ou em outro local. Um objeto incongruente pode ser aceito como um marco depois de um tempo, tornando-se bem conhecido, até mesmo amado no processo. Algo desse tipo parece ter acontecido, para muita gente, com o chamado 'tubarão de Oxford' (...) Qualquer sistema de controle deve criar um pequeno espaço para o dinâmico, o inesperado, o totalmente peculiar", continuava o documento ainda.
Esse último trecho, vale apontar, acertou em sua observação, uma vez que até hoje a Casa do Tubarão é um marco turístico em Headington, Oxford.
Outro ponto abordado pela carta é o medo das autoridades da região que diversos outros moradores locais colocassem esculturas no topo de seus telhados caso aquela fosse permitida, o que mesmo naquela época, alguns anos após a instalação do tubarão, se mostrava um temor sem bases, já que ninguém havia seguido o exemplo de Heines até então.
Bill Heines morreu em 2019 aos 74 anos. Na ocasião, sua residência seria reapropriada pelo banco, que pretendia retirar a obra de arte incomum antes de vendê-la, mas seu filho a comprou novamente para preservar o toque artístico do pai à construção, conforme uma matéria do The Guardian daquele ano. Hoje, o local está disponível para hospedagem pelo Airbnb.