Oppenheimer só foi totalmente inocentado no ano passado
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"Agora eu me tornei a Morte, o destruído de mundos", com essa frase Julius Robert Oppenheimer demonstrou todo seu arrependimento pela criação da bomba atômica já na parte final da Segunda Guerra Mundial.
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Líder do Projeto Manhattan, o físico norte-americano criou o dispositivo que foi lançado contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki entre 6 e 9 de agosto de 1945 — causando entre 150 e 250 mil mortes.
Por conta disso, Oppenheimer se tornou um forte defensor do banimento total das armas nucelares e também se opôs à criação da bomba de hidrogênio. Entretanto, acabou perseguido pelas autoridades norte-americanas e teve sua carreira manchada pelo fim da vida.
O novo filme de Christopher Nolan narra o julgamento que Oppenheimer foi submetido em 1954, acusado de ser um agente da União Soviética. O que poucas pessoas sabem, entretanto, é que o 'perdão' à Oppenheimer só foi inteiramente concedido após 68 anos — ou seja, décadas depois de sua morte. Entenda!
Agente soviético?
Dois meses após o lançamento das bombas no Japão, Oppenheimer renunciou ao seu cargo no Projeto Manhattan. Pouco depois, entre 1947 e 1952, ele se tornou assessor da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos — onde passou a defender ainda mais o controle internacional para o uso da tecnologia nuclear.
Àquela altura, vale destacar, a Guerra Fria já havia começado entre Estados Unidos e União Soviética. Portanto, o país começou um verdadeiro caça às bruxas contra pessoas acusadas de subversão ou traição da pátria. Oppenheimer foi um deles.
O físico já era acompanhado pelo FBI, comandado por J. Edgar Hoover, desde antes da guerra, quando ele ainda era professor em Berkley — período em que se tornou próximo a membros do Partido Comunista, do qual sua esposa e seu irmão faziam parte.
Os órgãos de defesa suspeitavam fortemente que o próprio fosse membro do partido. Desta forma, o monitorava com escutas telefônicas ou até mesmo abrindo suas correspondências.
O FBI também passou a fornecer aos inimigos políticos de Oppenheimer evidências de que ele poderia ser um comunista. Entre eles estava Lewis Strauss, empresário, filantropo e oficial naval americano que fazia parte da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos (AEC).
Como mostrado por Kai Bird e Martin J. Sherwin em Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano (Ed. Intrínseca), Strauss já guardava certo ressentimento contra Robert, não só por ele se opor à bomba de hidrogênio, mas por humilhá-lo perante o Congresso alguns anos antes.
Em 21 de dezembro de 1953, Strauss informou Oppenheimer que sua autorização de segurança havia sido suspensa, devido às acusações descritas em uma carta. Ele também solicitou a rescisão do contrato do físico com a AEC, mas Oppenheimer optou por não renunciar e solicitou uma audiência.
Entre abril e maio de 1954, após 19 dias de audiências secretas, a Comissão de Energia Atômica revogou a autorização de segurança de Oppenheimer. O físico não só teve suas credenciais bloqueadas — que lhe davam acesso aos segredos atômicos do governo — como o fato também levou ao fim sua carreira, devido à grande humilhação que sofreu.
Antes considerado um herói da ciência, Julius Robert Oppenheimer passou a viver como um homem de reputação manchada e morreu de forma melancólica em 1967, aos 62 anos. Mas este não foi o ponto final do caso.
História revisitada
Conforme repercutido pelo The New York Times, em 2014 o governo de Barack Obama tornou pública as centenas de páginas recentemente desclassificadas das audiências secretas contra Oppenheimer. O testemunho demonstrou que elas não foram nem um pouco leais.
Historiadores e especialistas nucleares estudaram o processo e constataram que não havia nenhuma evidência contundente contra Robert. Além disso, concordaram que, de maneira geral, a medida certa teria sido inocentá-lo.
Em 16 de novembro de 2022, a secretária de energia dos EUA, Jennifer Granholm, escreveu em um comunicado alegando que a decisão original da AEC sobre a autorização de segurança de Oppenheimer fazia parte de um "processo falho que violou os próprios regulamentos da Comissão".
Com o passar do tempo, mais evidências surgiram do viés e da injustiça do processo ao qual o Dr. Oppenheimer foi submetido, enquanto as evidências de sua lealdade e amor ao país só foram confirmadas", prosseguiu.
A última marca negativa sobre a vida e carreira de Julius Robert Oppenheimer havia sido limpa. "Estou emocionado", disse Kai Bird conforme registrado pelo The Guardian. Vencedor do Pulitzer de 2005, sua obra junto de Sherwin serviu como base para o filme de Nolan.
"A história importa e o que foi feito a Oppenheimer em 1954 foi uma farsa, uma mancha na honra da nação", continuou. "Estudantes de história americana agora poderão ler o último capítulo do livro e ver que o que foi feito a Oppenheimer naquele processo judicial não foi a última palavra.