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Os intensos relatos da filha de um casal assassino: 'Nos sentimos estigmatizados'
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Os intensos relatos da filha de um casal assassino: 'Nos sentimos estigmatizados'

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Aventuras Na História
05/03/2024 22h00
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©Arquivo Pessoal
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"Minha mãe está na prisão perpétua. Ela foi condenada pelos assassinatos de uma criança e de nove mulheres jovens — uma delas minha irmã mais velha, Heather — e, de certa forma, está protegida...

...Às vezes eu sinto: 'Está tudo bem para ela'. Ela recebeu aconselhamento, formou-se em inglês; ela disse 'sim' para todos os cursos que lhe foram oferecidos. Ela tem uma vida plena: hobbies, academia, costura, culinária. Ela vive em uma bolha. Mas e nós, seus filhos? Não há lugar para sermos nós mesmos."

Hoje Mae West tem uma vida estável: casada, com dois filhos e vive em uma casa moderna e confortável em uma cidade histórica inglesa. Entretanto, com os relatos acima, fornecidos ao Daily Mail, já se pode imaginar todo o horror e depravação que marcaram sua infância. 

"Às vezes penso que quando os criminosos são capturados, as pessoas ignoram as suas famílias. Muitas vezes vejo casos nas notícias e me pergunto: O que aconteceu às crianças?'".

O questionamento de Mae, embora simples, reflete uma verdade que viveu na pele: praticamente ninguém se importa com familiares de serial killers — mesmo que também tenham sido vítimas. 

Infância ceifada

Caso você ainda não esteja ligando o nome ao caso, Mae West é filha do casal assassino Fred e Rosemary West. Seus crimes foram tão hediondos e brutais que o mundo ficou chocado quando o modus operandi do casal veio à tona. 

Em 1994, a polícia visitou a casa da família West em uma rua movimentada de Gloucester. Por lá, encontraram os restos mortais da filha mais velha do casal, Heather — irmã de Mae — e outras diversas vítimas. 

Mae ao lado dos irmãos Heather e Stephen - Arquivo Pessoal

O labirinto de corredores onde Rose atuava como prostituta, e Fred subdividida quartos alugados, ficou conhecido como Casa dos Horrores. Por lá, escavações revelaram os restos mortais de mulheres desmembradas e enterradas pela adega ou o jardim. 

Heather havia sido morta há sete anos, em 1987, quando tinha apenas 16 e tentava fugir para evitar os abusos sexuais predatórios de Fred. Durante 14 anos, descobriu-se que o chefe da família West havia cometido mais de uma dúzia de assassinatos — a maioria deles com o suporte de Rose, sua segunda esposa. 

Na Cromwell Street, onde eles moravam, suas vítimas eram sempre mulheres: quer fossem inquilinas, babás, estudantes ou até mesmo pessoas para quem o casal oferecia carona.

Elas foram submetidas as agressões sexuais mais brutais pelas mãos de Fred; e, às vezes, até mesmo por Rose. Muitas das vítimas ainda foram mutiladas e decapitadas. Há ainda o caso de uma vítima mumificada ainda viva. 

Ao união entre o casal de assassinos rendeu oito filhos: sendo Mae West, agora com 46 anos, a mais velha sobrevivente. Até então, nenhum deles tinha a menor ideia de que a casa onde nasceram e foram criados guardava um segredo tão sangrento. No entanto, tudo mudou quando a exumação dos corpos começou. 

Presos, Fred logo assumiu a culpa sozinho por tudo. Ele cometeu suicídio em 1º de janeiro de 1995, em sua cela na prisão de Birmingham, onde estava detido de forma preventiva. Rose, por sua vez, jamais confessou. Dizia-se ser também uma vítima do marido. 

Quando o juri a condenou à prisão perpétua em novembro daquele ano, em decorrência de dez assassinatos, sua família não lhe abandonou. Taxada como 'a mulher mais malvada que já existiu', Rose recebia constantes visitas de Mae

Ela, no entanto, era realmente uma vítima e estava perdida. Aos cinco anos, já havia sido violentada sexualmente por seu tio John, irmão de Fred. Nos anos seguintes, seu próprio progenitor se tornou seu algoz — nutrindo a deturpada visão de que ele precisava 'preparar' suas filhas para quando elas chegassem na puberdade e 'precisassem' perder a virgindade. Rose sempre foi cúmplice, batendo nos seus filhos de forma sádica e indiscriminada. 

Meia-irmã de Mae, Anne Marie — fruto do primeiro casamento de Fred — também recebeu um tratamento brutal em sua infância. Aos oito, era violentada pelo pai enquanto sua madrasta, Rose, era conivente. Mae nunca duvidou das crueldades do pai, mas tinha dificuldade em enxergar o mesmo mal da mãe.

Durante uma década, recorda o Daily Mail, ela visitou a mãe na prisão. Sempre satisfazendo seus constantes pedidos por roupas ou por dinheiro. Por outro lado, 'recebia' as demonstrações tardias de afeto da matriarca. 

"Eu não percebi isso na época', diz Mae agora, "mas mamãe me manipulou. Ela começou a me abraçar e segurar minha mão quando eu a visitei. Ela nunca me mostrou nenhum carinho antes. Ela assinava todas as cartas 'com amor como sempre, mãe'. Embora ela jamais tenha me dito antes que me amava". 

Acabei percebendo que ela tinha muitos rostos diferentes e consegui aquele amoroso. Ela colocou todos os seus filhos em caixas diferentes e meu papel era cuidar dela… Mantive-me leal à minha mãe. Ela alegou que papai a influenciava e controlava e que ela havia feito um pacto de ficar com ele desde que ele não fizesse mal a nós, crianças", resgatou. 

"De qualquer maneira, as coisas começaram a parecer improváveis. Afinal, por qual motivo ela então não foi embora quando Heather 'desapareceu'? Por que ela sempre foi conivente com o abuso sexual de Fred? "Quando comecei a pensar sobre tudo isso, surgiram dúvidas", disse Mae.

"Então, quando ela me escreveu da prisão — suas cartas chegavam toda semana — e disse que tentaria ser uma mãe adequada e me contaria tudo o que eu precisava saber, decidi perguntar a ela sobre Heather na próxima visita. E eu a observei se contorcer. Pensei: 'Ela não vai me dar uma resposta honesta para todas as suas promessas'. E ela nunca fez isso", aponta. "Ela é uma hipócrita". 

Logo, o contato com as duas terminou e Mae West começou a tirar o peso sobre seu passado. A enxergar e entender tudo o que passou. "Ela parou de escrever para mim. Não estou mais na lista de visitantes dela. Foi um grande alívio encerrar o contato com ela. Tornou-se um fardo".

"A morte dela será a próxima coisa (West tem agora 70 anos), e suponho que ela possa fazer uma confissão no leito de morte. Eu só queria que ela contasse a verdade às autoridades, então todos nós saberíamos, não é?", prossegue. 

Nova vida

Mae West sempre esteve determinada a sair dos horrores em que foi criada. Menosprezada e humilhada pelo pai, ela era obrigada a contatar clientes para o bordel de Rose; que funcionava no último andar da Casa dos Horrores (os clientes passavam pelo quarto de Mae enquanto ela fazia o dever de casa e perguntavam se ela estava 'disponível'). 

Então, com 18 anos, Mae tinha um bom emprego, um carro e até uma relação duradoura. No entanto, nos quatro anos seguintes, sua vida virou de cabeça para baixo quando as atrocidades de seus pais foram descobertas. 

Até hoje Mae carrega marcas de seu passado. "Eu me preocupo com as pessoas sabendo ou descobrindo quem eu sou. E tenho toda essa ansiedade com a possibilidade de meu filho descobrir sobre os avós".

Após o fim de sua 'vida normal', tudo se transformou numa bola de neve para Mae. Há 14 anos, porém, ela encontrou o equilíbrio quando conheceu Pete — com quem não só está junto até hoje como aceitou Amy, filha de Mae, agora com 24 anos, fruto de seu relacionamento anterior. 

"Minha filha está crescida agora e ela sabe e já lidou com isso. Ela descobriu que o cartão de crédito de seu tio tinha o nome West, somou dois mais dois e pesquisou no Google. Eu gostaria que ela não tivesse descoberto dessa forma", revela. 

E meu filho está chegando aos nove anos e…", explicou, "todos os velhos medos estão vindo à tona novamente. Minha estratégia é deixar isso. Não vou contar a ele agora. Quero que ele tenha uma infância que não seja prejudicada".

O espectro dos crimes dos seus pais ainda a assombra em diversas vertentes de sua vida. "É sempre um problema fazer parte da família West. Eu sei que não posso trabalhar com crianças, e é mais uma questão de autoproteção do que qualquer outra coisa, porque se algo acontecesse com uma criança sob meus cuidados — se ela caísse e se machucasse — eu seria culpada por causa da minha origem".

"Uma vez pensei em escapar do meu passado e ir para a Austrália, mas eles não me deixaram entrar no país devido ao que meus pais fizeram. E pensar que eles costumavam deportar condenados da Grã-Bretanha para lá!", afirmou ela.

"Certa vez, meu marido se candidatou para ser policial. Mas ele não conseguiu entrar, e tenho certeza de que é porque é casado comigo", aponta. "Nos sentimos estigmatizados, claro que nos sentimos. Fomos ignorados pelas autoridades enquanto nossos pais abusavam de nós sexual e fisicamente quando crianças, e agora, como adultos, dizem: 'Você vem de uma família abusiva. Teremos que ficar de olho em você'".

Com todas suas inseguranças e traumas, Mae West também encontrou conforto após ligar para o Apoio à Vítima, quando começou a fazer sessões semanais com um psicoterapeuta. "Descobri que não tenho o nome West tatuado na testa".

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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