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Os momentos finais das múmias de Llullaillaco
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Os momentos finais das múmias de Llullaillaco

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Aventuras Na História
21/02/2024 19h41
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https://timnews.com.br/system/images/photos/16067911/original/open-uri20240221-18-8eftlt?1708544624
©Divulgação/ Johan Reinhard
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Em 1999, um trio de múmias congeladas pertencentes a três crianças foi descoberto nas proximidades do cume do vulcão Llullaillaco, localizado na fronteira entre a Argentina e o Chile. Pertencentes ao período em que a civilização inca vivia ali, elas foram colocadas no local há cerca de 500 anos e submetidas a um ritual de sacrifício.

"Esse tipo de cerimônia se chamava capacocha ou obrigação real, em que eram feitas em situações especiais. Quando um inca que subia ao governo, ou de uma catástrofe climática. Então tinha que dar à terra, a maior das oferendas, que era a vida de uma criança" disse Gabriela Recagno Browning, então diretora do Museu de Arqueologia de Alta Montanha, durante entrevista ao Globo Repórter em 2015.

Em julho de 2013, foi publicado na revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences" um estudo a respeito da curiosa descoberta arqueológica que buscou explicar como foram os últimos meses de vida daquelas crianças incas.

Hierarquia 

Um dos primeiros detalhes de relevância é a diferença entre as três múmias: elas foram batizadas de Donzela, Menino Llullaillaco e Menina Relâmpago (cujos restos mortais estavam carbonizados, tal como ficariam após serem atingidos por um raio). 

A primeira era a mais velha, com 13 anos, enquanto os outros dois tinham 4 e 5, respectivamente. Segundo teorizado pelos pesquisadores, a selecionada para protagonizar o ritual foi Donzela. As crianças pequenas teriam apenas sido suas acompanhantes. 

A Donzela / Crédito: Wikimedia Commons

Para entender as mudanças de vida pelas quais o trio passou no fim da vida, seus fios de cabelo foram submetidos a testes laboratoriais — isso, pois a análise de sua composição química revela, por exemplo, a alimentação do indivíduo ao longo do tempo. 

"O cabelo cresce cerca de um centímetro por mês e, uma vez formado, não sofre quaisquer alterações", disse Andrew Wilson, o líder da pesquisa, em comunicado divulgado em 2013. "Substâncias como a cocaína e o álcool deixam marcadores que podem nos dizer o quanto a pessoa estava consumindo quando essa parte do cabelo estava crescendo. Do cabelo da Donzela, temos um cronograma dos últimos dois anos até sua morte, mostrando-nos um pouco do que ela comeu e bebeu". 

As múmias pertenciam a jovens camponeses que tinham uma dieta composta majoritariamente por vegetais comuns às plantações da região, como batatas. Em seu último ano, porém, eles passaram a ser alimentados com carne seca de lhama e milho, que faziam parte do cardápio da elite da época, explica o Live Science em reportagem.

A menina mais velha, em particular, comeu ainda melhor que seus pares. Os autores do estudo acreditam que, após ser escolhida para a cerimônia, Donzela teve uma mudança de status social, passando a viver em meio às classes mais altas de sua sociedade. 

Ela tornou-se alguém diferente de quem era antes. Seu sacrifício foi visto como uma honra (...) A Donzela foi, talvez, uma jovem escolhida para viver à parte da sua vida anterior, entre a elite e sob os cuidados das sacerdotisas", explicou o arqueólogo britânico Andrew Wilson, que liderou a pesquisa, conforme repercutido pelo Live Science. 

A menina possuía ainda os cabelos trançados, um cocar de penas sobre a cabeça e artefatos ao seu redor. Eram elementos ritualísticos, que indicam o valor dado à sua morte pelas pessoas do período. 

Objetos encontrados junto com as múmias / Crédito: Wikimedia Commons

Substâncias psicoativas 

Outra descoberta importante, resultante das análises, foi relativo ao consumo psicoativo das crianças incas. Eles mastigaram folhas de coca (a planta de propriedades analgésicas e estimulantes a partir do qual é feita a cocaína) e ingeriram bebidas alcoólicas.

Os cientistas acreditam que o uso da plantapelo trio teria ajudado a aceitar a aproximação da morte. Com a sedação proporcionada pelo efeito dessas substâncias, eles teriam uma atitude mais tranquila em relação ao ritual. 

Aliás, a maneira como as múmias estavam dispostas reflete isso: a Donzela, que também é quem teve o maior consumo psicoativo entre os três, foi encontrada sentada de pernas cruzadas, uma posição relaxada. 

Não se sabe a causa de morte das crianças, no entanto, é possível que tenham falecido devido às baixas temperaturas no cume do vulcão Llullaillaco. Existe também a possibilidade de que Donzela ainda estava viva quando foi abandonada no local onde descansaria até ser descoberta em 1999, de forma que sua pose quando morreu é de grande relevância para os arqueólogos. 

Em sua boca, inclusive, foi encontrado um caroço de coca, mostrando que ela mastigava a planta no dia de seu sacrifício.

Já as crianças também revelaram fatos instigantes. O menino, por exemplo, apresentou sangue na capa e também tinha lêndeas no cabelo. Com um pano amarrado no corpo, pesquisadores sugerem que ele teria morrido por asfixia. 

A menina, que ficou conhecida como 'Garota Relâmpago', também chamou atenção dos pesquisadores. Sua tumba foi atingida por um raio.  

"Sabemos, por estudos arqueológicos e pelos objetos que a rodeavam, que em algum momento dos 500 anos em que esteve enterrada um raio atingiu a tumba, penetrou na terra e queimou parte do seu rosto e parte do seu corpo, por isso chamam menina do raio", disse Browning ao Globo Repórter.

Outra cultura 

O estudo das três múmias infantis ajudou a comunidade arqueológica a entender melhor a sociedade inca. Sacrifícios humanos, e ainda mais de crianças, são vistos com choque nos dias atuais. Para aquela população, contudo, o ato tinha implicações culturais diferentes. 

Um detalhe curioso, aliás, é que as famílias cujos filhos eram escolhidos para serem sacrificados também não podiam reagir com tristeza pela perda iminente de sua prole, dado que isso era considerado uma grande honra. 

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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