Parteira de Auschwitz: Stanisława Leszczyńska foi sinônimo de vida no campo da morte
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Stanisława Leszczyńska nasceu em uma família católica polonesa em 8 de maio de 1896, na cidade de Lódz. No mesmo ano em que a Primeira Guerra estourou, em 1914, ela havia concluído o Ensino Médio.
Dois anos depois, Stanisława se casou com Bronisław Leszczyński, com quem teve quatro filhos: Bronisław (nascido em 1917), Sylwia (1919), Stanisław (1922) e Henryk (1923). Entre os nascimentos de seu segundo e terceiro filhos, a mulher concluiu seus estudos como parteira em sua cidade natal; onde passou a exercer tal função.
Quando a Alemanha nazista invadiu a Polônia e consequentemente iniciou a Segunda Guerra Mundial, em 1º de setembro de 1939, sua família teve que deixar sua casa após a criação do Gueto de Lódz.
Apesar disso, eles passaram a ajudar os moradores do gueto lhes entregando alimentos e documentos falsos. Stanisława foi presa em flagrante pela Gestapo, em 18 de fevereiro de 1943, e enviada para Auschwitz junto de Sylwia.
Stanisław e Henryk também foram detidos e levados como escravos para o campo de concentração de Mauthausen-Gusen. Já seu marido conseguiu fugir com Bronisław, mas o patriarca da família morreu na Revolta de Varsóvia — sendo o único entre eles a falecer durante a guerra.
A parteira de Auschwitz
Quando chegaram a Auschwitz, Stanisława e sua filha tinham apenas um desejo, sobreviverem. Elas foram tatuadas com os números de campo 41335 e 41336, respectivamente.
As duas foram relegadas à enfermaria feminina do campo. Mas logo Leszczyńska percebeu que as condições básicas do local eram insuficientes para cuidar das mulheres — e a situação se tornaria mais alarmante ainda com as grávidas. Mesmo assim, sabia que sua habilidade poderia ser a salvação de muitas delas.
Pragmática e engenhosa, ela fez questão que as camas mais próximas do fogão no alojamento (que consequentemente seria o local mais quente do abrigo), fossem reservadas para a "enfermaria de maternidade".
Conforme recorda matéria do All That Interesting, muitas mulheres grávidas foram levadas para Auschwitz — e diversas outras que estavam lá sequer sabiam que geravam um fruto. Independente do caso, Stanisława sabia que muitas mamães teriam que fazer sacrifícios.
Um artigo do Museu Virtual da Enfermagem Polonesa aponta que a parteira instruiu as mulheres, semanas antes de darem à luz, abrirem mão de sua ração de pão e trocá-las por lençóis limpos, que queriam usados como fraldas ou para enrolar os bebês. Caso elas não conseguissem isso, seus filhos seriam embrulhados com papéis sujos.
Apesar dos horrores que a cercavam, a única preocupação Stanisława tinha quando uma mulher entrava em trabalho de parto era fazê-la se sentir segura e confortável — assim como ela fazia na Polônia, ajudando mulheres em trabalho de parto em suas casas.
Relatos de sobreviventes que estavam no campo com ela recordam que a parteira ficava acordada a noite toda, com mulher após mulher, o que fosse necessário. Ela raramente tinha tempo para descansar. Por conta de seu semblante calmo, acolhedor e também firme, muitas mulheres a chamavam de "mãe".
Enfrentando Mengele
Além de sua exaustão e desnutrição, o quartel em Auschwitz não tinha nada em termos de antissépticos, curativos ou ferramentas. Isso significava que Stanisława não tinha nada para dar às mulheres para a dor do parto, e todas as suas práticas eram cuidadosamente monitoradas por médicos nazistas.
Apesar da precaridade, havia muitos outros profissionais médicos em Auschwitz. Eles cuidavam dos doentes e feridos seguindo as orientações dos nazistas. Esses profissionais eram instruídos a dar atualizações de progresso sobre os pacientes, e quando uma pessoa não estava apta a se recuperar, eles eram imediatamente levados para a câmara de gás.
Além disso, quando uma pessoa em Auschwitz contraia tifo, apesar da grande chance de não se recuperar, os médicos frequentemente mentiam para os nazistas para que tivessem tempo suficiente para se curar. Se eles sucumbissem a enfermidade, pelo menos não tiveram que enfrentar as câmaras de gás.
Em sua biografia 'Raport położnej z Oświęcimia' ('O Relatório de uma Parteira de Auschwitz', em tradução livre), Stanisława descreveu como colocou sua vida em risco para salvar os recém-nascidos; visto que a parteira se encontrou com o Dr. Josef Mengele, o Anjo da Morte nazista, que lhe solicitou um relatório sobre casos de febre puerperal e casos de morte durante o parto.
Ele também exigiu que os bebês fossem arrancados de suas mães e levados para uma sala, onde seriam afogados em barris. Ela se negou a fazer isso e a função acabou sob responsabilidade da parteira alemã Schwester Klara, que foi presa em Auschwitz por infanticídio.
O pedido de Mengele tinha um pensamento claro: os nazistas presumiam que as mães nunca sobreviveriam até o parto. E caso elas dessem à luz no campo, sabiam que era praticamente impossível os recém-nascidos viverem por muito tempo.
Mas eles não contavam com a eficiência de Stanisława. Segundo os relatórios obtidos por eles, a parteira não havia perdido um único bebê — ou mãe — desde que começou a exercer a profissão no campo.
Os bebês de Stanisława
Enquanto Stanisława continuava a trazer milhares de bebês ao mundo, apesar das condições traiçoeiras do campo, os nazistas começaram a pegar todas as crianças que nasciam com características arianas e as enviava para orfanatos, para serem adotadas por famílias alemãs.
De acordo com o All That Interesting, quando isso começou a acontecer, Stanisława e as mães encontraram um jeito de tatuar secretamente os bebês de maneira sutil, com a esperança de reencontrá-los ao sobreviverem ao campo.
Segundo matéria do Seattle Catholic, Stanisława Leszczyńska ajudou no parto de cerca de 3.000 bebês, mas grande parte deles acabou morrendo nas mãos dos nazistas, seja diretamente por assassinato ou indiretamente por desnutrição. Estima-se que apenas 30 bebês sobreviveram os cuidados das mães — isso sem contar os que foram enviados aos orfanatos.
Apesar do grande número de perdas, Stanisława tinha orgulho de dizer que cada um deles nasceu vivo e em suas mãos amorosas e atenciosas. A parteira também foi responsável por organizar amas de leite dentro dos dormitórios, para os bebês cujas mães estavam tão desnutridas que não poderiam alimentá-los.
Embora Mengele fosse claramente contra a ideia dela de salvar crianças judias e suas mães, ele comentou com os outros médicos nazistas que Stanisława não era apenas uma parteira excepcionalmente habilidosa, mas também a personificação da esperança à qual os prisioneiros se apegavam de que poderiam, eventualmente, escapar do campo.
Após Auschwitz foi libertado, em 27 de janeiro de 1945, há 80 anos, Stanisława Leszczyńska se reuniu com seus filhos, que mais tarde se tornaram médicos. Ela se aposentou na década de 1950 e nunca realmente falou sobre seu tempo em Auschwitz.
Ela morreu em 11 de março de 1974, aos 77 anos. Em 2015, a Igreja Católica abriu seu processo de beatificação.