'Rei da Pirataria' que sumiu após assalto em alto mar tem mistério revelado
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Considerado o criminoso mais procurado de sua época, o pirata Henry Avery liderou, em 1695, uma tripulação de 160 homens para realizar o assalto mais lucrativo da história em alto mar.
O tesouro de ouro, prata, safira, esmeralda e diamante era avaliado em cerca de 85 milhões de libras em valores atuais (algo na casa dos R$ 540 milhões), segundo o The Guardian. Entretanto, ele desapareceu sem deixar vestígios e se tornou uma lenda ao longo desses 300 anos.
Agora, porém, os exploradores de naufrágios Sean Kingsley e Rex Cowan afirmam ter resolvido o 'caso arquivado mais longo da história da pirataria'. O Rei dos Piratas, como era conhecido, entrou ao serviço do rei de Inglaterra, Guilherme III, como espião.
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Avery estaria envolvido em uma rede de espionagem real, conspirações e subterfúgios para proteger a coroa inglesa, tanto dos perigos internos quanto externos. Ele ainda teria trocado parte de seu roubo por um perdão real.
As informações foram encontradas em uma carta codificada inédita, escrita por 'Avery, o pirata' de Falmouth, na Cornualha. A missiva estava esquecida num acervo escocês após ter sido arquivada incorretamente.
A carta é datada de dezembro de 1700, portanto, cerca de cinco anos após seu 'desaparecimento' depois do saque ao navio pertencente ao imperador mogol Aurangzeb, então o homem mais rico do mundo.
Kingsley e Cowan ainda descobriram que o documento ligava o pirata a um dos primeiros grandes grupos de espionagem — que pode ter incluído Daniel Defoe (autor de Robinson Crusoe) e Thomas Tenison (arcebispo de Canterbury). Eles estariam tentando proteger a Inglaterra protestante da ameaçada de uma invasão do papado católico que vinha da França.
O The Guardian aponta que a carta foi encontrada pela falecida esposa de Cowan, Zélide, quando eles estavam rastreando embarcações afundadas da Companhia Holandesa das Índias Orientais. “Ela sabia que havia tropeçado em um tesouro histórico que só acontece uma vez na vida”.
Carta decodificada
Apesar do achado importante, metade da carta não pode ser entendida por estar codificada em códigos numéricos. “Em 1700, quem escreve em código? Diplomatas e espiões britânicos”, aponta Cowan. “Passamos anos tentando decifrar o segredo de Avery”.
A missiva foi analisada por diversos especialistas, incluindo pessoas que trabalharam na CIA, mas seus esforços foram em vão. Em uma passagem, Avery escreveu:
Não estou nem um pouco preocupado com o fato de o Tanque 29 f B26 estar fora do T9211597". Seu significado permanece secreto.
Em outro trecho, se refere ao encontro com seu contato naquela noite e ao trabalho “sem qualquer suspeita”. O conteúdo da carta indica que uma resposta deveria ser endereçada ao “correio” em Falmouth.
“Falmouth em 1700 é onde fica o correio. É daí que partem os pacotes. Então, se você quiser estar em um lugar para influenciar, interceptar e impedir ameaças, é aí que você pode estar”, disse Kingsley, que explicou que naquela época Daniel Defoe estava na Cornualha, se passando por um mergulhador de tesouros de um naufrágio chamado Claude Guilot.
Defoe trabalhou na inteligência de Guilherme III em 1692 e inventou um código numérico para enviar cartas. O destinatário da missiva seria o reverendo James Richardson em Orange Street, Londres.
O estudo ainda apontou que a carta foi endereçada para a primeira biblioteca pública da capital, criada por Tenison e que tinha Richardson como bibliotecário. O endereço era tão obscuro e desconhecido que foi justamente isso que ajudou os pesquisadores a comprovarem a autenticidade da carta. “Nenhum golpista saberia endereçar uma carta falsa ali”, aponta Kingsley ao Guardian.
Detalhes da descoberta estão presentes no novo livro de Sean Kingsley e Rex Cowan, intitulado 'The Pirate King: The Strange Adventures of Henry Avery and the Birth of the Golden Age of Piracy' (ou 'O Rei Pirata: As Estranhas Aventuras de Henry Avery e o Nascimento da Era de Ouro da Pirataria', em tradução livre).