Futebol americano: como as concussões afetam a vida de um atleta?
Mega Curioso
A morte do ex-atleta profissional Junior Seau no dia 2 de maio de 2012 chocou os Estados Unidos e abalou os bastidores da National Football League (NFL) — a maior liga de futebol americano do planeta. Ídolo do San Diego Chargers, Seau se suicidou com um tiro no peito enquanto estava sozinho dentro de casa.
Desde que havia se aposentado dos gramados, familiares e parentes próximos ao antigo linebacker afirmam que sua personalidade mudou e que ele parecia apresentar grande confusão mental e excesso de agressividade. Posteriormente, a morte de Junior seria atribuída a uma doença chamada Encefalopatia Traumática Crônica (CTE), causada por constantes lesões traumáticas no cérebro derivadas dos fortes impactos de cabeça sofridos dentro de campo.
Omissão da liga
(Fonte: K.C. Alfred/San Diego Union Tribune)
Além de ser um esporte de contato, o futebol americano é uma modalidade que implica em uma sequência de corpos se chocando uns contra os outros em velocidades muito rápidas. E embora fosse óbvio que esse tipo de colisão poderia ameaçar a integridade física dos atletas, a NFL demorou muito tempo para reconhecer o problema e tomar providências.
Especialmente antes dos anos 2000, não existiam protocolos que removessem os atletas de uma partida após eles sofrerem fortes impactos em campo. Embora os capacetes fossem uma proteção evidente, os jogadores eram enviados de volta para a arena de batalha, mesmo que cambaleando.
A morte de Seau não foi a primeira nem a última com diagnóstico parecido. Em 2002, o ex-jogador da linha ofensiva do Pittsburgh Steelers, Mike Webster (1952-2002), foi o primeiro atleta profissional a ser diagnosticado com CTE pelo patologista Bennet Omalu. Assim como Webster, outros jogadores falecidos tiveram seus cérebros doados para estudo após falecerem.
Repetição de casos
(Fonte: Wikimedia Commons)
Um estudo feito em 2017 pela Universidade de Boston desvendou que 110 dos 111 cérebros de antigos jogadores da NFL colocados para análise mostravam sinais de CTE. Entretanto, todos os órgãos foram doados por famílias que haviam reconhecido os sintomas da doença — o que distorce a incidência dos casos no número amplo.
Em geral, diversos estudos apontam que a CTE está ligada ao comportamento suicida, demência e declínio na memória. Em entrevista concedida ao The Washington Post, o ex-atleta do Kansas City Chiefs, Larry Johnson, abriu o jogo sobre como vinha se sentindo desde que parou de jogar, em 2011.
Durante sua fala, Johnson afirmou ter medo de que suas mudanças de temperamento e comportamento autodestrutivo fossem resultado da CTE, e disse não lembrar de duas temporadas completas que esteve em campo na NFL. Além disso, ele garante que luta todos os dias para controlar os impulsos de se machucar.
Prevenção e diagnóstico
(Fonte: Kevin Terrell/Associated Press
Concussões são lesões altamente comuns entre atletas profissionais, sobretudo no futebol americano. Como o cérebro é um órgão bastante frágil, quando sofremos um impacto forte, ele pode sacudir dentro de nosso crânio e criar uma lesão traumática na região. Indivíduos que sofrem concussões podem perder a consciência, ficar desorientadas e mais sensíveis à luz.
Desde que os primeiros estudos sobre CTE foram feitos pelo Dr. Omalu, os casos repetitivos de concussão foram tidos como os principais causadores da doença. Entretanto, como a CTE só pode ser diagnosticada após a morte de uma pessoa, não há nada que se possa ser feito clinicamente além de ficar de olho nos sintomas.
Os casos de suicídio dentro da liga fizeram a NFL se tornar palco dos tribunais norte-americanos por uma época, levando até mesmo o comissário da Liga, Roger Goodell, para depor junto a uma equipe de médicos. Recentemente, a liga tem trabalhado para diminuir os casos de concussões entre seus atletas, mudando algumas regras do jogo e trabalhando em conjunto com distribuidoras de equipamentos para aumentar a proteção de seus materiais.
De acordo com os dados da NFL, o número de concussões durante treinos e jogos caiu de 281 casos em 2017 para 214 em 2018. Porém, os números voltaram a subir para 224 em 2019. Tendo esses dados em mente, a liga segue doando milhões de dólares por ano para pesquisas relacionadas aos traumas na cabeça.